Estudantes em Frederico Westphalen: um novo contexto cultural

Kawê da Silva Veronezi

Estudantes de diferentes estados do país que ingressaram nas universidades em Frederico Westphalen, relatam as suas experiências e adaptações a cultura gaúcha.

Por Eliége Gomes, Jéssica Vieira e Vitor Vinicius 

eliegegomess@hotmail.com; brisola.jessica2011@hotmail.com; vitoord08@gmail.com

Frederico Westphalen é uma cidade situada na região noroeste do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 30 mil habitantes e oferta inúmeras oportunidades de formação superior, o que tem atraído cada vez mais a atenção de jovens que migram de todas as regiões brasileiras para cursar graduação na pacata cidade do interior do Sul. Cinco universidades oferecem cursos de graduação e pós-graduação, entre elas, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o Instituto Federal Farropilha (IFFarr), a Universidade Estadual do Rio grande do Sul (Uergs), a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai (URI) e a Universidade Norte do Paraná (Unopar) de ensino à distância. A cidade que cultiva fortemente as tradições gaúchas, originadas da miscigenação de indígenas e portugueses, traz como costumes a dança, a música, a culinária e as festas típicas, abrangendo assim não só um novo conceito cultural para os migrantes como também aos nativos do estado, ocasionando um choque cultural que pode ser positivo.

Para que possamos compreender um pouco mais sobre esse novo contexto, e principalmente, o modo como estes estudantes percebem a cultura e os costumes locais, entrevistamos a psicóloga Laís Piovesan, que atua na Universidade Federal de Santa Maria/Campus Frederico Westphalen, e também alguns estudantes que vieram de diferentes regiões do país, para contar-nos como foram suas adaptações.

Adaptação Cultural

Nascido na cidade de São Paulo, Kawê da Silva Veronezi, estudante de Relações Públicas na Universidade Federal de Santa Maria/Campus Frederico Westphalen, nos conta que quando ingressou na universidade, aos 18 anos, deparou-se com a cultura do Rio Grande do Sul, ao ser questionado sobre a adaptação a cultura local ele relata:
– Como não conhecida os costumes da região, o choque cultural foi inevitável e difícil, pois a cultura tradicionalista da região é atrasada em alguns aspectos. Senti que o choque cultural ocorreu na realidade, quando eu percebi e não reconheci a cultura gaúcha como minha, mas isso não quer dizer que a mesma não contribuiu, afinal, reconheci os pontos que não gostava dela e agreguei no que queria ou não para mim.
Outra estudante que mudou-se para Frederico Westphalen, foi Natália Pires, de 18 anos, natural de Guarulhos-SP, que cursava administração pública na UERGS, ela nos conta que seus planos não saíram como planejado pois acabou trancando o curso precocemente no primeiro semestre.
– Não foi por conta da cidade, nem do curso, tampouco as pessoas, que são muito acolhedoras. Mas sim, porque não me adaptei a viver longe de minha família.
Indagada sobre a cultura gaúcha, a ex-universitária afirma que a tradição é muito bonita, e que admira como os gaúchos à levam em consideração, sempre querendo dar uma continuidade.
Já a catarinense e graduanda de Ciências Biológicas da URI, Thaline Balbinot, e Luiz Paulo, paraense, e estudante de Engenharia Florestal, para eles é bem mais visível a expressão linguística da região e a culinária local. A estudante diz que “nas primeiras vezes sentia vontade de rir, quando falam “tchê”, “barbaridade”, “bá”, “cacetinho” (pão francês), “negrinho” (brigadeiro). Não temos costume de usar nenhum deles em Santa Catarina.’’
E para Luiz, o xis e o churrasco são melhores aqui na região sul, e as gírias são bem diferentes do resto do Brasil. “Acho legal, apesar de não entender algumas coisas que a galera fala, mas vou aprendendo aos poucos as gírias e ensinando as do meu povo.”

Dificuldades

Sabemos que qualquer adaptação é acompanhada por inúmeras dificuldades, para os estudantes não é diferente. Segundo a psicóloga Laís, a maior delas está relacionada com a necessidade de maior autonomia por parte dos estudantes. Aprender a lidar com a rotina e as demandas acadêmicas é um enorme desafio, principalmente por que no ensino médio, estas não eram tão estruturadas como na universidade.
“Se ele dormia demais, algum familiar o acordava, hoje ele perde a aula se não acordar no horário. Não tem ninguém que o diga ou cobre diretamente o que ele tem que fazer. O que pode ser muito positivo para alguns e apavorante para outros”, relata a psicóloga.
Quando teve que encarar essas dificuldades, Kawê nos conta que:
-Eu sou negro e homossexual e na região conheci o preconceito de perto, porém não sofro tanto pelo fato de ser negro, como eu sofro pelo fato de ser homossexual. Mesmo sofrendo homofobia aqui, eu sei que é bem mais tranquilo do que São Paulo, não preciso ter a preocupação contínua de sofrer violência física. Contudo, por mais que a homofobia na minha vida seja maior que o racismo, é importante relembrar que se eu tivesse a pele mais clara, tudo seria mais diferente.

Tailine Balbinot – Arquivo Pessoal

Porém, alguns tem mais dificuldades no âmbito de adaptação não por encontrar problemas como o preconceito ou homofobia, mas sim pela dificuldade de comunicar-se. A estudante Tailine Balbinot foi uma destas, a princípio teve bastante dificuldades, pois não tinha conhecidos na cidade e devido à esta fase que sentiu-se isolada, entrou num processo depressivo. Recuperando-se apenas quando encontrou em uma colega, uma chance de começar uma amizade, já que tanto para ela como para Luiz Paulo o acolhimento dos frederiquenses deixa a desejar.
“O povo paraense é mais receptivo, mais família e acolhedor que os gaúchos, mas fui recebido de uma forma bem-educada na cidade.” expressa Luiz Paulo.

Vale salientar que de acordo com Laís, as habilidades sociais nesse momento fazem a diferença. Se abrir para novas relações e aproximar-se de pessoas que tenham os mesmos hábitos ou princípios pode ajudar, pois quando nos sentimentos acolhidos os desafios e problemas são mais fáceis de lidar.
Segundo a mesma, “as relações interpessoais são fundamentais, e a adaptação tem que ser encarada como uma forma de oportunidade de compartilhamento de saberes e vivência, sempre pautando no respeito e na empatia.”
Portanto, os estudantes que estiverem abalados ou confusos psicologicamente em virtude das dificuldades encontradas no processo de adaptação, devem necessariamente procurar ajuda profissional.

Planos para o futuro

Indagados sobre os planos para o futuro, os jovens universitários entrevistados, revelam que apesar das oportunidades que Frederico Westphalen oferece, pretendem terminar suas graduações e investir em suas carreiras em outras cidades. Enfim, salientam a importância de um curso superior na formação profissional e pessoal de cada indivíduo.

Reportagem produzida na disciplina de Redação Jornalística II como parte do jornal-laboratório  online da turma.

Leia outros textos em: http://decom.ufsm.br/redajor2/

Faça o primeiro comentário a "Estudantes em Frederico Westphalen: um novo contexto cultural"

Leave a Reply