Porque Ciência e Religião não se acertam?

As opiniões divergem de acordo com suas filosofias (Foto: Ariel Stival)

O estudo com células-tronco é um dos assuntos que causa polêmica

Por Thaís Jacomelli e Ariel Stival
tb_jacomelli@hotmail.com; sem.arielstival@gmail.com


As opiniões divergem de acordo com suas filosofias (Foto: Ariel Stival)

Religião: Crença de que existem forças superiores (sobrenaturais), sendo estas responsáveis pela criação do universo; crença de que essas forças sobrenaturais regem o destino do ser humano e, por isso, devem ser respeitadas.
Ciência: Conhecimento ou saber excessivo conseguido pela prática, raciocínio ou reflexão. Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa ou pela demonstração de certos acontecimentos, fatos, fenômenos, sendo sistematizados por métodos ou de maneira racional.

Essas conceituações encontradas no dicionário Houaiss são no mínimo contraditórias, para os religiosos, Deus é o princípio e o fim, Ele é quem deu a vida a todos e só Ele é quem pode tirar. A ciência por sua vez, não se contenta com isso, busca explicação para tudo, soluções que coloquem os humanos no controle de seus próprios destinos.
Uma das questões que sempre gera divergência entre as duas realidades são os experimentos e tratamentos com o uso de células-tronco embrionárias para a cura de doenças. Esse é o grande ponto defendido pelos religiosos, eles afirmam que as células-tronco embrionárias salvam uma vida, acabando com outra.

Mas o que são as células-tronco?

Segundo informações do site Info Escola as células-tronco também são conhecidas como células fonte. Elas se tratam de um tipo muito específico de células que são capazes de dar origem a outras células, desempenhando um importantíssimo papel na reposição celular e na regeneração tecidual. Mais especificamente, para uma célula ser considerada célula tronco ela deve, obrigatoriamente, apresentar duas características: divisão contínua e capacidade de diferenciação.
A capacidade de divisão contínua, ou auto-replicação, é a capacidade que essas células têm de se multiplicar, gerando células iguais a si. Já a outra característica, o potencial de diferenciação, significa, simplesmente, o potencial que essas células têm de, em condições específicas, poder dar origem ou se transformar em outro tipo de células, com suas formas e funções específicas.

Com relação aos tipos de células tronco, é possível dividi-las em dois grupos, as células tronco embrionárias e as células tronco não embrionárias.

Células tronco não embrionárias*
As células tronco não embrionárias, também conhecidas como células tronco adultas, estão presentes em pequenas quantidades no organismo, dispersas nos diferentes tecidos. Esse grupo possui um potencial de diferenciação bastante diminuído em relação ao outro. Exemplos clássicos desse tipo celular são algumas células epiteliais, da medula óssea, entre outros.

Células tronco embrionárias*
As células tronco embrionárias se tratam das células oriundas de etapas bastante iniciais do desenvolvimento fetal. Mais especificamente, após a fecundação ocorrem eventos de divisão celular visando aumentar o número de células. Esse grupo de células tronco são as que estão presentes na parte interna do blastocisto.

*Informações do Site Info escola, disponível em: https://www.infoescola.com/citologia/celulas-tronco/

A visão das religiões: em defesa da vida

Jairo Roberto Brum dos Santos é Segurado (um membro ativo com responsabilidades, mas sem iniciação) na Religião Afro e Mestre Maçom na Maçonaria e segundo ele, o Espiritismo não é contra o uso de células-tronco para fins terapêuticos, desde que elas sejam adultas, pois sua obtenção e utilização em nada prejudicam as pessoas doadoras tampouco sacrificam a vida de seres em sua fase mais primária (embrião).
Nesse sentido, pareceres publicados pela a Associação Médica Espírita (AME) do Brasil, pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e por renomados médiuns espíritas, unanimemente apoiam essas experiências, desde que não venham a utilizar embriões, sejam eles congelados ou não.
Tal restrição fundamenta-se no fato de que, para o Espiritismo, a vida humana começa na concepção, no exato momento da fecundação, no instante em que ocorre a reunião do elemento genético masculino e feminino, formando-se daí uma célula somática composta por quarenta e seis cromossomos característicos da espécie humana.
Neste instante, um espírito se liga através de um cordão fluídico a essa célula que dará sequência à produção de outras células diferenciadas e reguladas segundo o modelo organizador da forma, oriundo da expansão do períspirito do ser reencarnante.

A irmã Glória Leite, da Igreja Católica, compartilha de uma opinião parecida: “As células-tronco adultas salvam vidas, as embrionárias não. A Igreja sempre se mostrou a favor do uso das células-tronco adultas, porque com elas foram obtidos resultados promissores na cura de numerosas doenças degenerativas, ou até no caso de queimaduras muito extensas, com uma cura completa. Também porque não apresentam nenhum problema ético. As células-tronco embrionárias, no entanto, até agora não produziram resultados terapêuticos significativos, nem sequer em animais. Além disso, sua obtenção exige o sacrifício consciente e premeditado de embriões humanos”, relata.

Evanir Thurow, Pastor da Igreja Batista Pioneira em Frederico Westphalen também expressou seus conhecimentos. “Sou contra as pesquisas com células-tronco porque são tiradas do embrião causando, assim, a morte de um óvulo” é o que defende. Para a religião esse procedimento é semelhante ao aborto, portanto, vai contra os princípios que a ele prega e aos quais seus fiéis creem.
O Pastor salienta que o homem é uma alma vivente, segundo os ensinamentos da bíblia. A vida aos seres humanos é descrita como o resultado de um ato especial de Deus, que é diferente da criação de todos os outros seres vivos. “Deus comunicou de modo específico à vida e o fôlego ao primeiro homem, e assim evidenciou que a vida humana está num nível acima de todas as outras formas de vida, e que pertence a uma categoria à parte, e há uma relação ímpar entre a vida divina e a humana”.
O Pastor que prega aos seus fiéis em favor da vida deixa também a sua opinião sobre outros procedimentos científicos. “Não sou a favor da Eutanásia, Deus tem dado possibilidades ao homem para evoluir na área da medicina, Deus é a favor da vida, de igual forma nós precisamos lutar até o último para que o ser humano se mantenha vivo”, entretanto ele diz que na prática se tem sentimentos variados, pois se um membro da família de qualquer pessoa passar por alguma situação parecida tudo será diferente, para Evanir é preciso de muito discernimento e sabedoria de Deus para agirmos diante dessas situações.
Ele encerra “não concordo com a manipulação genética, o ser humano já está muito abusado em relação a invenções, não creio que Deus seja a favor desse tipo de manipulação”.

A importância para a ciência

Em contraponto, cientistas continuam lutando pelo direito de utilizar as células embrionárias, Malisia Balestrin Lazzari, biomédica, explica que as células adultas retiradas da placenta, medula óssea e cordão umbilical, têm uma limitação na sua capacidade de diferenciação e não é possível a obtenção de vários tipos de tecidos a partir delas. Já as embrionárias, retiradas do embrião, conseguem ser induzidas a se proliferar em qualquer tipo de célula, o que favorece o descobrimento de diversas novas chances de tratamento para muitas doenças: “penso que qualquer pessoa que fique doente e procure recurso médico-hospitalar, espera que a equipe médica faça de tudo para salvar sua vida, independente da sua religião. Partindo desse ponto de vista, no qual todos queremos viver mais e melhor, precisamos que mais países regulamentem o uso de células-tronco, para que os cientistas tenham liberdade e autonomia nos estudos, garantindo o avanço das pesquisas”, argumenta.

Qual a sua opinião?
Entrevistamos 73 pessoas de diversas crenças, confira os resultados:

As entrevistas foram feitas via google docs, onde os interessados puderam expressar sua opinião.

Reportagem Produzida na disciplina de Redação Jornalística 2 como parte do jornal-laboratório online da turma. Leia outros textos em: http://decom.ufsm.br/redajor2

Sobre o autor

sem.arielstival
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

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