Desafios dentro e fora de quadra

Os obstáculos das mulheres que se arriscam no meio esportivo e precisam buscar outras fontes de renda pela não valorização da profissionalização da categoria

Daiane Pereira e Francelen Soares
daiaharruda@hotmail.com; francelensoares@gmail.com

A luta das mulheres no âmbito politico e social é histórica. E quando elas se inserem num meio dominado majoritariamente por homens, o preconceito é evidente. Após o surgimento do futsal no Brasil, durante o governo de Getúlio Vargas, foi criada uma lei que proibia as mulheres de praticarem esse esporte. O direito de participar dessas atividades só foi conquistado no ano de 1983, quando foi oficializado, pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), a profissionalização feminina no futsal.
Em 2003 o futsal feminino começou a ser representado por uma seleção, e aos poucos foi se expandindo e se popularizando entre as mulheres, segundo a Confederação Brasileira de Futebol de Salão, o que se percebe é um grande crescimento nas competições em cada ano, o que faz aumentar a visibilidade e a qualidade técnica e o reconhecimento internacional com a representação da seleção feminina de futsal, que é bicampeã sul-americana, e pentacampeã mundial.
O futsal feminino na região noroeste do estado
Quando se fala em futsal, logo, se pensa no gênero masculino. Isso se deve ao fato histórico de as mulheres possuírem pouco espaço nesse âmbito esportivo. No estado, o clube Cometa/Rodeio, inicialmente masculino, abraçou o projeto de ajudar na representação das mulheres no futsal. Motivadas por um sonho, um grupo de meninas lideradas por Cláudia Kureck e Silvana Kliszcz, decidiram encarar um desafio neste espaço ainda pouco representado por mulheres: o futsal.
Com comprometimento e muita garra as meninas conseguiram, nesse primeiro ano de clube, um espaço no campeonato estadual feminino e tornaram-se destaque na liga estadual de futsal, devido a grande dedicação e profissionalismo. É o que conta Jéferson Bogoni, treinador da equipe. Para ele é um desafio treiná-las devido a esses empecilhos encontrados no dia a dia, mas vale a pena “Depois que você consegue diferenciar as características, dificilmente tem como deixar de trabalhar com um time feminino”.

Técnico em dia de jogo

Mesmo cientes do machismo que há na sociedade e da falta de apoio a profissionalização no futsal, as jogadoras do Cometa/Rodeio, escolheram encarar os desafios dentro e fora das quadras. Além de fazer o que gostam por amor a camisa, elas buscam diariamente, principalmente nesse âmbito do esporte, encarar o que for preciso. Além do contexto que as mulheres estão inseridas, elas enfrentaram diversas outras dificuldades, principalmente na questão financeira e também pelo futsal feminino em si que não é reconhecido no país. Por isso, infelizmente não é possível viver profissionalmente do futsal feminino. Ainda assim, o Cometa/Rodeio possui um bom desempenho nas competições:

1° Fase Série Bronze
Partidas – 16
Vitórias – 11
Empates – 2
Derrotas  – 3

2° Fase Série Bronze
Partidas  – 4
Vitórias  – 2
Empates – 2
Derrotas – 0

Vida fora da quadra

Por ser um meio no qual as mulheres não são tão valorizadas, muitas delas dependem de outra fonte de renda para se manter, justamente pelo fato de o retorno no campo futebolístico não ser justo. Cláudia Fernanda Sari Kurek, formada em Química Industrial pela URI/FW, e graduanda do último semestre de Agronomia da UFSM/FW, atualmente trabalha na propriedade dos pais no ramo da agricultura, e também é estagiária em uma empresa de rastreabilidade de sementes O Agro.
Cláudia conta que começou a jogar desde muito cedo por influência da família que é toda apaixonada pelo futebol, e acabou entrando nesse meio por consequência de acompanhar o pai nos jogos. “Como incentivador, minha família. São eles minha base, e meu maior incentivo.” afirma. Cláudia enfatiza que o preconceito que o é muito grande, pois infelizmente vive-se em uma sociedade em que está impregnada na cabeça da população a prevalência do futebol masculino, mantendo sempre a ideia de que quem sabe jogar é somente o homem. “Enfrento esse preconceito de maneira pacífica, pois normalmente essas ofensas, vem de pessoas que não possuem uma bagagem cultural suficiente para ter consciência de que mulher pode ser o que ela quiser, tem a capacidade de realizar as mesmas tarefas e jogar bola iguais homens, e algumas situações, até melhor”, diz a jogadora.
A jovem ainda declara que estar na formação da equipe é motivo de orgulho, ter o reconhecimento de uma atitude corajosa de enfrentar o que fosse preciso. Provar para todos a capacidade de conquistar títulos com muita vontade e atitude. “O fato de como lidar com isso, é de certa forma prazeroso, pois somos de fato, reconhecidas pelo que fizemos, no momento que tu entra em um ambiente comercial, ou algum lugar que tem conhecimento da equipe e da campanha, receber esse carinho, é muito bom”.

A distinção entre homem e mulher no mercado de trabalho esportivo

A participação das mulheres no mercado de trabalho, inegavelmente, vem aumentando. Porém, a diferença salarial entre homem e mulher ainda persiste. E essa situação persiste não só no esporte mas em diversos âmbitos. Conforme pesquisa publicada no site G1, no início do ano, as mulheres ganham menos em todos os cargos avaliados.  A pesquisa avaliou os cargos de estagiário a gerente de uma empresa. O cargo que mais diverge é o de consultor, os homens ganham 62,5% a mais. Nos cargos de graduado a diferença chega a 51,4%. Esses dados ressaltam e comprovam o quanto o machismo e o patriarcado ainda tem força na sociedade.

Fonte: Divulgação

*Reportagem produzida na disciplina de Redação Jornalística 2, como parte do jornal-laboratório online da turma.
Leia outros textos aqui.

Sobre o autor

francelensoares
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

1 comentário a "Desafios dentro e fora de quadra"

  1. Cláudia Fernanda Sari Kurek | 21 de Novembro de 2017 às 17:36 | Responder

    Muito bom! Parabéns meninas, é disto que o futebol feminino precisa, ser divulgado!

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