Paraná e Rio Grande do Sul: Dualidade no agronegócio da erva-mate

Estrutura em homenagem ao tradicionalismo gaúcho. Localizada em Frederico Westphalen- RS

Enquanto o Paraná é o maior responsável pela produção brasileira da planta, o Rio Grande do Sul configura-se como maior consumidor

Maria Vitória Woldan e Taiane Centenaro Borges
mariawoldan@outlook.com, taianecb84@gmail.com

Por questões culturais e tradicionalistas a região Sul do Brasil caracteriza-se como a maior consumidora de erva-mate, tendo como líder de consumo o Rio Grande do Sul, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Anteriormente, nos anos 1970, o estado do Rio Grande do Sul se destacava também como maior produtor, entretanto, a partir dessa década, o estado do Paraná investiu muito nessa área e, em 2014, foi o responsável por 86,3% da produção nacional, enquanto que o RS produziu apenas 6,1%, de acordo com dados do mesmo instituto.

Dualidade entre a produção e o consumo de erva-mate entre o Paraná e o Rio Grande do Sul

Ilex Paraguariensis

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma instituição pública de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Seu principal papel está voltado à inovação tecnológica focada na geração de conhecimento e tecnologia para agropecuária brasileira. Por esse motivo, colhemos informações referentes à erva-mate no site da instituição.
Segundo a Embrapa, a erva-mate é uma árvore perenifólia, ou seja, tem folhas durante o ano inteiro, possui porte médio e também é característica do bioma “Mata de Araucária”. Suas folhas apresentam disposição alterna, são simples de cor verde escura e com margens serrilhadas. A erva-mate floresce na primavera e início do verão, despontando inflorescências, com flores pequenas, simples, brancas, que são polinizadas por insetos.
O “bom e velho” chimarrão é feito da erva-mate, cujo nome cientifico é Ilex Paraguariensis. Para explicar mais sobre as propriedades e características desta planta, entrevistamos Guilherme Bordignon Ceolin, professor adjunto do departamento de Engenharia Florestal da UFSM, campus Frederico Westphalen.
De acordo com o professor Ceolin existem três tipos de poda: a de formação, de produção e de limpeza. A primeira visa o crescimento da planta e se inicia dois anos após o plantio. Por outro lado, a segunda, de produção, é um tipo de corte que serve para estimular a formação de novos brotos para o ano seguinte. E por fim, a terceira podadura possui o objetivo principal de evitar ramos doentes. Ele também explica que a realização de diversas podas em uma só árvore é possibilitada por aspectos fisiológicos da planta. “Isso se dá pela capacidade de crescimento através das gemas caulinares que a planta possui, isto é, pontos do tronco em que brotam ramos novos”, afirma.
Ceolin declara que os requisitos necessários para um plantio produtivo de erva-mate são muitos. Dentre eles destacam-se: a boa qualidade das matrizes e das sementes, a realização de análise de solo adequada para calibração da quantidade de fertilizantes, a correta avaliação da profundidade do solo e o manejo adequado das plantas no viveiro para que elas se adaptem ao sol antes de irem para o campo.

Visão do agronegócio

A dualidade entre a produção paranaense e o consumo sul-rio-grandense de erva-mate é representado através das transações comerciais realizadas por uma ervateira frederiquense. A empresa, que é administrada por Ariela Barro e seu marido Regis Ruviaro, beneficia-se do fato de que a produção de erva-mate do Paraná é mais rentável e que o consumo no Rio Grande do Sul é exponencialmente maior, quando comparado a outros estados do Brasil. Isso ocorre através da terceirização do processo produtivo que é realizado por outra ervateira que fica localizada na cidade de Bituruna-PR.

Regis Ruviaro e Ariela Barro. Proprietários da ervateira frederiquense

De acordo com o administrador Regis, o processo produtivo da erva-mate é muito caro, e por isso inviável para ser realizado por sua empresa. “Todo o processo é muito caro. Tem que ter homens na lavoura colhendo, dois ou três caminhões para transporte, um maquinário (que custa em média 650 mil reais) para o processo de secagem, mais um maquinário para o processo de soque, (que custa em média 300 mil reais), e depois tem o processo de peneirar e embalar a vácuo. Lembrando que além do investimento, existe a manutenção de todo esse processo”, diz Ruviaro.
Sobre a questão de data referente às podas da plantação, o administrador Regis comenta que, com o decorrer do tempo, houve mudanças em relação a isso. “Antigamente se seguia muito essa questão de datas rígidas e pré-estabelecidas para a poda da erva, hoje em dia como a demanda é muito grande deu erva estão cortando, nunca para, porque se parar falta produção”.
Além disso, o Ruviaro explicita que o lucro proveniente da venda de erva-mate para o consumo de chimarrão, realizado por sua empresa varia de acordo com o ano. “No ano de 2016 vendemos aproximadamente 10000 kg por mês, neste ano a expectativa é de 12000 a 13000 kg por mês. Hoje a nossa margem de lucro erva-mate gira em torno de 30, 40 centavos o pacote”

Árvore produtora de erva-mate da propriedade do agricultor Egídio Mutinelle

No ambiente rural, o agricultor Egídio Mutinelle de 71 anos, residente do interior de Barracão – PR, há 47 anos, explica sobre sua produção. De acordo com o produtor, a erva-mate é cortada em sua propriedade a cada dois anos, rendendo uma lucratividade aproximada de 7 a 8 reais por arroba (equivalente a 15kg). A idade dos pés de erva-mate que compõe a propriedade de Mutinelle oscilam. “Eu tenho aqui na minha propriedade de cinco a seis mil pés de erva-mate, a idade de cada uma varia: tem os pés nativos que quando eu vim morar aqui já estavam plantados e outros que eu plantei há uns 15 anos atrás”.
Com o crescimento de oportunidades no mercado e no sistema de produção de erva-mate, o agricultor tem mais valorização e maior acesso a informações sobre o agronegócio. É por este motivo que Mutinelle afirma “Os homens que cortam a erva-mate para as ervateiras vem até nós, sem contar que apesar do lucro ser pequeno, é limpo. Isso acontece porque ela é uma planta resistente, não precisa adubar, é uma erva que você planta e deixa lá para crescer por conta”.

Adversidades
Apesar de resiste a plantação de erva-mate corre o risco de ser atacada por algumas pragas e doenças, as quais trazem danos a produção. Mutinelle conta que sofreu prejuízos devido a uma destas pragas que atacou sua plantação. “Uma grande dificuldade foi quando a produção foi atacada por um besourinho preto com manchas brancas que sugava a seiva da planta até ela secar. Muitos pés secaram, o tronco morria, apenas depois de anos brotavam novamente”. De acordo com informações do site da Embrapa, trata-se do besouro Hedypathes betulinus, o qual coloca suas larvas no caule da planta, ocasionando a morte do galho afetado. Como solução, Mutinelle descobriu uma espécie de pomada encontrada normalmente em agropecuárias, ela tampa o orifício onde o besouro se esconde, o que evita a contaminação da erva-mate.

Produtos obtidos a partir da erva-mate

A diversidade de produtos que podem ser obtidos através da erva-mate, como a erva para o chimarrão, chás e o crescente interesse internacional voltado a utilização da erva-mate em produtos farmacológicos, como shampoos, cremes e condicionadores, proporcionam uma grande perspectiva de crescimento da produção.

Reportagem produzida na disciplina de Redação Jornalística 2 como parte do jornal laboratório online da turma.

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Sobre o autor

mariawoldan
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

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