Você sabe como está a acessibilidade da sua cidade? As pessoas passam pelos locais onde existe acessibilidade muitas vezes precária, não percebendo que aquele local está em péssimas condições para uso. No Brasil cerca de 6,2% da população possui algum tipo de deficiência, sendo ela auditiva, visual, física ou intelectual.
A realidade enfrentada pelas pessoas com deficiência é precária, o dia a dia dessas pessoas é cheio de desafios como calçadas esburacadas, sem piso tátil, rampas para cadeirantes sem acesso e ônibus sem acessibilidade. Muitas dessas pessoas enfrentam inclusive perigo pela falta de acessibilidade tendo que andar pela rua em meio aos carros e alguns perdem inclusive o direito de ir e vir. Em cidades menores, a menos acessibilidade. Frederico Westphalen é um exemplo disso, apesar de ser uma cidade de 32 mil habitantes a acessibilidade deixa a desejar, são calçadas esburacadas, rampas que dão em escadas, comércio sem rampas, calçadas com piso tátil que vão a lugar nenhum.
Para Silvana Marina dos Santos, Delegada estadual dos deficientes, é difícil falar de acessibilidade, pois é uma lei que está no papel só que fora disso ela não existe, seja em qualquer cidade, o deficiente não tem acessibilidade para ir a um mercado, loja. A lei citada é a Lei nº 13.146, de 6 de Julho de 2015, está lei institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a acessibilidade está no Art. 3º da lei. Silvana ainda fala que os estabelecimentos só entram nas normas da lei pela multa que é cobrada caso não tenha o mínimo de acessibilidade. Pelo fato da multa a construção das rampas é feita, mas muitas vezes elas não estão de acordo com o projeto padrão, não podendo ser utilizadas. O gráfico abaixo mostra a porcentagem de vias urbanas que possuem rampas nos estados brasileiros.
Além das calçadas sem acessibilidade, os ônibus enfrentam o mesmo problema, pois não possuem nenhum tipo de acessibilidade, as pessoas imaginam que tendo banco mais largo ele está acessível. Mas não é esse tipo de acessibilidade que as pessoas com deficiência necessitam, elas precisam de ônibus que possuam elevadores para subir no ônibus. E esse tipo de acessibilidade a maioria não tem, mesmo estando em lei e gerando multa, “eles botam um banco na frente, reservam pro deficiente, para pessoa idosa ou para uma pessoa que é obesa, faz um pouquinho mais largo, e diz que é adaptado, pra eles adaptado é o banco, mas nós não precisamos do banco, nós precisamos subir no ônibus”,ressalta Silvana.
A delegada ainda disse que “todos os cargos deveriam passar por um curso, onde deveria sentar em uma cadeira de rodas, fazer esse curso como deficiente, para depois tratar um. Para você saber o que um deficiente passa, é preciso ser ou ter um em casa, porque se não você não sabe”.
Algumas atividades simples do dia a dia, para deficientes físicos, visuais se tornam um obstáculo tendo que enfrentar calçadas esburacadas, lojas sem rampas adequadas ou até mesmo inexistindo uma rampa, calçadas sem piso tátil ou que dão a lugar nenhum. Caminhando pelas calçadas de Frederico Westphalen nos deparamos com buracos, degraus no meio da calçada, rampas estreitas, quebradas, com postes de placas no meio da rampa, piso tátil acabando em degraus ou acabando no meio da calçada.
Lembrando que, não é apenas uma rampa ou piso tátil que dá acessibilidade para uma cadeirante ou deficiente visual, são outros fatores que devem contribuir para o seu bem estar. Aqui mesmo na cidade a sociedade ignora o fato que os deficientes necessitam ir e vir, que andar pela cidade não pode ser um empecilho, que eles têm uma vida como outro cidadão, precisam trabalhar, ter lazer, ter amigos e não pessoas que tenham dó de sua deficiência. Os deficientes não possuem políticas públicas de inclusão social em Frederico Westphalen/RS, o único lugar em que eles são acolhidos e se reúnem é o Lar dos Deficientes, onde alguns vivem e outros ficam alguns dias, Silvana enfatiza, “Frederico é grande, Frederico tem muito deficiente e daí vocês me dizem qual deles, qual lugar que deficiente se reúne, nenhum! Não tem inclusão!”
Ana Grassi e sua história de superação
A história de Ana, começou muito cedo, e ela conta que quando tinha um ano e três meses já caminhava, após esse período foi diagnosticado com poliomielite, mais conhecida como Paralisia Infantil. Sua família procurou ajuda de médicos, mas como era uma doença desconhecida, não foi diagnosticado com antecedência. Ficando até os cinco anos sem engatinha, na entrevista ela usa a expressão “bebê”, após essa idade começou desenvolver alguns movimentos, brincando com seus irmãos. Ana, não tinha cadeira de rodas, não conseguia se locomover até a escola, então estudou os dois anos iniciais em casa, as professoras enviavam conteúdos através de seus irmão, assim se alfabetizou.
Atualmente Ana, mora na cidade de Frederico Westphalen, anda por toda cidade, mas ainda enfrenta algumas dificuldades, como ir aos estabelecimentos comerciais, “por isso estou exigindo acessibilidade, uma rampa não é acessibilidade”. Acompanhando Ana, em alguns pontos, conseguimos observar rampas quebras, muito inclinadas impossibilitando o tráfego de um cadeirante, lojas sem a devida assistência para que o cadeirante consiga ir e vir sozinho, com degraus na entrada, restaurantes, consultórios com calçadas sem acesso, prédios em construções sem planejamentos para abrigar um deficiente.
Ana, comenta que é necessário uma fiscalização para cobrar esses estabelecimentos, assim o proprietário deve obedecer normas de acessibilidade. Ela também relatou que, deixou de frequentar alguns locais porque não têm acessibilidade, “é desumano”. Ana explicou que hoje ela sofre com a chamada pós- poliomielite, os principais sintomas são a perda das funções musculares, “eu tinha uma atividade muito grande com as mãos, agora estou proibida de fazer movimentos repetitivos, eu derrubo muita louça, objetos”.
Já existe tratamento para a pós poliomielite, o local mais próximo é São Paulo, esse tratamento é realizado quinzenalmente, um projeto oferecido pelo Sistema Básico de Saúde (SUS), Ana, comenta que essa assistência poderia ser mais perto, facilitando o assim o tratamento para os pacientes.
“Eu me sinto vitoriosa, pela idade que tenho, eu vivo com a sociedade, tento ajudar as pessoas”.
Jocemir Pivatti e sua alegria de viver
Jocemir, era motorista de caminhão e sofreu um acidente de trânsito ficando em cadeira de rodas, foi assim que chegou ao lar dos Deficientes, passando a se adaptar à nova rotina, atualmente ele anda por toda a cidade, tem muito amigos, relatou que não sente dificuldades em realizar suas tarefas diárias, percorre a cidade sozinho, deixou de frequentar alguns estabelecimentos porque não têm assistência, acessibilidade. Acompanhamos um dia de sua rotina, sempre com um sorriso no rosto, ele nos fala que é “é preciso ter noção” para andar na cidade de Frederico Westphalen, expressando sua opinião referente às calçadas quebradas, as rampas, os estabelecimentos, “às vezes é necessários pedir ajuda as pessoas, é necessário ter paciência para atravessar a rua, ter cuidado com os carros”. Jocemir prefere andar no asfalto junto aos carros, pois ao entrar em uma calçada ele pode não ter como sair, por não possuir rampa ou até mesmo a cadeira de rodas pode ficar presa num buraco das calçadas e furar um pneu.
Pivatti, mora no lar dos deficientes a seis anos, contando com apoio de colaboradores, o Lar é uma casa toda adaptada para os deficientes. Conta que não procurou mais emprego porque recebe um auxílio, desta forma quando assinar a carteira de trabalho irá perder este direito referente a assistência.
Dia a dia de Ana Grassi e Jocemir Pivatti e as barreiras da acessibilidade
Hilda Martins e sua vida no Lar dos Deficientes
A quinze anos, Ilda chegava ao Lar dos deficientes, relata que “não existe lugar melhor para morar”, nasceu em Nova Prata, na adolescência, mudou- se para Ametista do Sul. Com apenas três meses de idade, não enxergava do olho direito, sem tratamento perdeu sua visão, dos dois olhos.
Conta que não anda sozinha, pela cidade apenas acompanhada por suas amigas pelo centro de Frederico Westphalen, compartilhou que sente medo ao atravessar a rua, por motivo dos carros, no lar construiu uma nova família, dizendo que sente-se muito bem ali, Hilda, comenta que realiza suas tarefas normalmente, alguma delas é enxugar a louça, arrumar o quarto e ajudar a sua colega no banho. Durante a reportagem não conseguimos acompanhar Hilda andado pela cidade pelo medo que sente de sair.
Como nos disse Silvana, eles não querem ser tratados como especiais, mas sim como humanos que possuem o direito de ir e vir com segurança e acessibilidade que tem direito.