Moda e Sustentabilidade
A Terra vem enfrentando diversos desastres naturais, muitos ocasionados pelos atos inconsequentes dos seres humanos. Enchentes, derretimento das geleiras, queimadas, toneladas de lixo no oceano e muito mais. Nossos recursos naturais estão se esgotando. Mesmo no Brasil, nos últimos anos, algumas cidades ficaram com tão pouca água que tiveram que se adaptar a viver com o racionamento. Mas o que isso tem a ver com moda?
A indústria têxtil é a que mais utiliza recursos naturais para confeccionar roupas. É a segunda indústria mais poluente do mundo. Segundo a BBC, para a produção do poliéster são utilizados 70 milhões de barris de petróleo. A viscose, também utilizada para a produção de roupas, causa a derrubada de 70 milhões de árvores. Para produzir apenas uma camiseta de algodão são necessários dois mil e 700 litros de água.
Um dos fatores que influencia tamanho descaso com o meio ambiente é o processo de superprodução das roupas: o fast fashion, que é a moda de ritmo rápido. Esse tipo de produção segue as tendências, logo, a produção é feita a todo momento. O fast fashion também é caracterizado pela baixa qualidade e baixo preço dos produtos. Já que a produção nunca para e as tendências mudam rapidamente, as empresas não investem tanto na confecção. O objetivo é nos seduzir a comprar bem mais do que precisamos. Só que esse consumo excessivo traz um preço alto para o meio ambiente e para os trabalhadores da cadeia de produção. Para mais informações sobre trabalho escravo, confira aqui.
Em contrapartida ao fast fashion, está o slow fashion, um movimento sustentável que surgiu como uma alternativa a produção em massa. Criado em 2008, o slow fashion tenta retomar a conexão com a maneira com que os produtos são produzidos, valorizando a diversidade e a riqueza de nossas tradições. A moda slow emerge incentivando a consciência ética, num movimento unificado, além de resgatar o valor das roupas, removendo a imagem da moda como algo descartável. Uma das tendências desse processo de produção mais lento são os tecidos eco-friendly. Os tecidos eco-friendly são produzidos com materiais recicláveis ou orgânicos como fibras de garrafa PET, fibras de bambu, lã, poliéster reciclado, algodão orgânico, tecidos de folhas de madeira, entre outros, e são usados na produção das peças.
[box title=”Curiosidade” style=”default” box_color=”#333333″ title_color=”#FFFFFF” radius=”3″ class=””] Para tentar mudar seus conceitos, algumas empresas adequam-se à ISO 14000 (Organização Internacional para Padronização), que compreende normas que, conforme tratam do gerenciamento ambiental, indicando às empresas o que devem fazer para minimizar os impactos ambientais de suas atividades.[/box]Mesmo assim, ainda são poucas as empresas que seguem essas normas, mas com o tempo a ideia vem crescendo e a internet é fundamental para esse crescimento. Novos estilistas e/ou novas lojas estão nascendo no meio digital, talvez pela fácil divulgação e ampla abrangência que as vendas podem alcançar. É o caso da 787shirts e da InsectaShoes.
A primeira, pensa em sustentabilidade no processo de criação de suas camisetas. Os tecidos são de empresas brasileiras, as tintas usadas na estampa são à base de água e os materiais do escritório são reaproveitados. A segunda é vegana, sustentável, artesanal e cheia de produtos exclusivos. Mesmo com pouco tempo de vida, a loja já está dando o que falar por transformar roupas antigas em produtos totalmente novos. É interessante perceber que a maioria dessas lojas online, normalmente, atendem à uma segmentação da moda, seja o ramo do sapato, de camisetas, de acessórios, etc., então cada loja acaba dando um espaço para outra.
Além de marcas de produtos têxteis sustentáveis, existem os brechós, que se tornaram alternativas para o consumo consciente. Os brechós são uma opção apropriada para variar o guarda-roupa e encontrar belas peças por um preço que cabe no bolso.
No Brasil, há indícios de que o primeiro brechó tenha surgido no século XIX, no Rio de Janeiro, por um vendedor de roupas e objetos usados chamado Belchior, que inclusive deu margem para o surgimento do termo brechó. Mas hoje, os brechós não se limitam a velharias, alguns têm roupas usadas, semi-novas e até novas.
Essa forma de sustentabilidade que se popularizou apenas nos últimos anos contribui com o não-consumo excessivo de novas peças, porém, o ritmo da indústria têxtil continua fast. É necessário que a massa da população se conscientize para que então a produção e seus impactos na natureza diminuam.
Os brechós como conhecemos hoje, que primeiro se popularizaram nos grandes centros, estão presentes no interior também. Em Frederico Westphalen (FW), existem aproximadamente cinco brechós, entre esses alguns são lucrativos como o Desapega by Cida e outros beneficentes como o Brechó da Liga do Câncer.
Desapega by Cida
Cida se sustenta com a renda do seu brechó. Há quatro anos, mulheres principalmente de meia idade, com estilo próprio, procuram o Desapega by Cida.
[youtube url=”https://youtu.be/BGezYl-NmzE” width=”600″ height=”400″ responsive=”yes” autoplay=”no” mute=”no” class=””]Para preencher os cabides da loja, ela garimpa roupas quando viaja, vai a outros brechós e ainda recebe das próprias clientes. “Minhas clientes são minhas fornecedoras. Trabalho não só com roupas usadas, mas com roupas de estoque e novas”, conta a empreendedora.

Para Cida, uma peça boa é cara e, ainda, prejudicial ao meio ambiente: vai muita água e mão de obra. Por isso, as pessoas estão comprando mais em brechós, principalmente pela consciência. Outro aspecto é a economia. “Teve uma época em que as pessoas estavam muito consumistas, mas agora não por causa da crise”, reitera a dona do brechó.
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“Então, todo mundo começou a reavaliar o quanto precisam disso. O lado bom de uma crise é que a gente reavalia os nossos gastos”, finaliza Cida, que acredita que, mesmo com os brechós existindo há anos, só aprendemos a olhar para eles agora.

Liga do Câncer de Frederico Westphalen
A Liga do Câncer de FW surgiu em 2005, por Noeli Panosso e voluntários. Desde 2015 é presidida por Elizabete Stefanello. É uma entidade sem fins lucrativos que viu no brechó uma maneira de auxiliar seus assistidos – pessoas amparadas pela Liga. O brechó recebe ajuda da comunidade e de lojas da região, com roupas, calçados e eletrodomésticos, novos e semi-novos.
O lucro do brechó serve para mantê-lo e para ajudar na compra de remédios para os assistidos. A entidade também doa o que recebe com o brechó (roupas, calçados, eletrodomésticos) e entrega de dois em dois meses cesta básica mais material de higiene, que são comprados com o dinheiro de projetos em parceria com os Ministérios Públicos de Passo Fundo e Frederico Westphalen. Atualmente a Liga atende 39 assistidos e conta com a colaboração de 45 voluntários, entre eles uma assistente social e uma psicóloga.

“O trabalho voluntário é algo que nós fazemos por amor, para ajudar o próximo. Essas pessoas que ajudamos são de vulnerabilidade social”, nos contou a presidente da Liga do Câncer de FW, Elizabete Stefanello. Para tornar-se um voluntário, basta ir até a Liga e preencher um cadastro, não é exigida a frequência na entidade. Já para tornar-se um assistido, é preciso também cadastrar-se e comprovar o diagnóstico do câncer, a Liga atende homens, mulheres, jovens e crianças, mas antes de efetivar a ajuda, a carência da família é comprovada pela visita de uma assistente social.
Além disso, o brechó da Liga, quando recebe muitas roupas e calçados, também doa, normalmente quando catástrofes acontecem. Em 2014 doaram cerca de sete mil peças para os desabrigados pelas enchentes de Porto Alegre, Iraí e Caiçara. No último ano, 2017, aproximadamente três mil peças foram doadas para os hospitais e escolas humildes da região.

O lado de quem compra
Será que é possível estar na moda comprando em brechós? Será que vale a pena? Quem nos responde essas perguntas é a Bianca Bortolucci. Estudante de Relações Públicas, Bianca compra sempre em brechós. Conta que, com apenas R$10,00, consegue montar um look para curtir com os amigos.
[youtube url=”https://youtu.be/53lID2BhYlc” width=”600″ height=”400″ responsive=”yes” autoplay=”no” mute=”no” class=””]Além de estar na moda e gastando pouco, Bianca relembra a importância dos brechós pensando na questão da sustentabilidade. Ouça sua declaração abaixo.