O roxo de uma pedra, encontrada quatrocentos metros abaixo da superfície, que fascina os orientais e é o sustento de muitas pessoas. De engravatados a garimpeiros. De grandes negociações à trabalhosa tarefa de tirar uma pedra, que garantem o alimento na mesa do trabalhador. Esse é o mundo que envolve o garimpo da pedra Ametista. A pedra que ornamenta e embeleza os mais diferentes lugares e as mais diversas pessoas, mas que nem de longe demonstra o sofrimento e o trabalho que envolve a sua extração.
As mãos calejadas, a respiração ofegante e o olhar fundo: características que marcam a fisionomia dos garimpeiros de Ametista do Sul. O trabalho pesado deixa marcas no futuro e no presente de alguns, que ainda dependem do garimpo para sustentar a família. Hoje a prática da extração de pedras preciosas já não oferece tantos riscos à saúde do trabalhador, isso quando são seguidas as normas de conservação das minas e do trabalho no garimpo.
Mas o que vemos hoje, máscaras, perfuração com água, protetores auriculares, não existia há alguns anos atrás. O trabalho é pesado, requer força física, requer saúde. Porque ele vai tomar essa saúde de cada um que entrar no garimpo e ousar trabalhar sem se cuidar. A extração pode trazer bons frutos materiais, mas quem vai sentir a dor de tudo o que o trabalhador conquista é o corpo, a saúde. Respirar não é mais o mesmo depois de alguns anos trabalhando na extração e respirando o pó preto das pedras, o pulmão responde rápido a uma doença chamada causada pela sílica.
O caminho ao contrário, a silicose
Assim se pode definir o caminho da sílica. Enquanto o mineiro se esforça para extrair a pedra ametista da rocha, na qual esta impregnada, o pó de sílica faz o caminho inverso, entra nos pulmões do mineiro, com a mesma naturalidade que este retira a pedra, fixando-se nos pulmões do mineiro, com a mesma força que a ametista a rocha. Parece ser uma troca de ações rotineiras, que acabam se tornando imperceptíveis. As partículas de poeira percorrem adentram no sistema respiratório, acompanhando a naturalidade da respiração. Inicia pelo nariz, boca, faringe, laringe, árvore traqueobronquial e alvéolos pulmonares. – Ver mais sobre a Saúde dos Garimpeiros!
As consequências de uma vida dedicada ao garimpo
Respiração ofegante, olhar triste e sofrido. Nem precisávamos das declarações dos ex-garimpeiros para descobrir quais foram as conseqüências, em seu Enio e Jorge, da vida que levaram dedicada ao garimpo. Seu Enio da Rosa, senhor de 59 anos, casado, 2 filhos, muito comunicativo e um bom contador de histórias. A relação direta que teve com o garimpo e as consequencias disso percebermos já na primeira visita a uma mina, quando uma caminhada de alguns metros, deixa o velho garimpeiro, que diz ter amor pela profissão, ficar ofegante e parar para “olhar a paisagem”. Seu Enio descobriu que tinha sílica há 5 anos. O garimpo ficou no passado, nas histórias e nas lembranças de quem viveu a e hoje vê nos avanços da tecnologia a esperança de dias melhores para esses trabalhadores.
Sentado em uma cadeira, talvez intimidado com a presença da câmera, mas com a certeza de ter ali, na sua frente, uma ferramenta para mudar a dura realidade do garimpo. Jorge Luis Grasik, homem magro, 45 anos, casado, 2 filhos. Sujeito tímido, de voz suave, um pouco introspectivo. Com frases curtas começou a nos contar a sua história. Sim, tínhamos em nossa frente mais uma vítima do garimpo.
Assista o vídeo de Jorge contado sua história:
Quando ar começa a ficar escasso e a umidade torna a respiração difícil

Garimpeiro faz a demonstração de como era a extração de pedras sem o uso da mangueira de água. As furnas ficavam cobertas de pó, sílica.
Quem já se imaginou trabalhando embaixo da terra? Sim, isso mesmo, embaixo da terra, sem lugar para luz do sol, para o ar puro. Passar o dia num verdadeiro mundo paralelo. Só de imaginar isso já te causou com claustrofobia? Pois bem, existem pessoas que tiram seu sustento desse jeito, ficando horas por de baixo da terra, às vezes na solidão de quem tem uma barreira de pedra a sua frente em cada dia.
A cidade de Ametista do Sul há 450 quilômetros de Porto Alegre, é ricamente conhecida por seu minério. Aproximadamente 75% do movimento econômico, vêm do setor extrativista mineral, com a extração de ágatas e ametistas.
Garimpo. Trabalho de dedicação, força física e de muitos perigos, que colocam em risco a saúde do homem que se expõe e se sacrificam diariamente, durante horas, a extrair as pedras semipreciosas.
Os donos das minas, que parecem realmente os mais beneficiados com os proventos do garimpo, têm o dever de fornecer equipamentos gratuitos para a proteção individual de cada trabalhador, equipamentos esses adequados aos riscos da atividades. Os itens formam um kit de botas, luvas, aventais, óculos de proteção, protetores auriculares, máscaras respiratórias. Já aos mineiros, fica a obrigação de realizarem periodicamente exames de Espirometria e RX pulmonar, o que infelizmente não acontece, muitas vezes por falta de interesse, dinheiro ou até mesmo de conhecimento.
As normas necessárias para a utilização de uma mina são inúmeras e indispensáveis para garantir a segurança e o menor impacto a saúde dos trabalhadores. Cada mina deve ter equipamentos individuais de iluminação para os trabalhadores ou devem ser instalados sistemas de iluminação de emergência que possa substituir com segurança a iluminação artificial.
A instalação elétrica é outro fator muito importante dentro do garimpo. Ela é utilizada como fonte de energia para abastecer os equipamentos de trabalho, mas a fiação elétrica deve ficar protegida contra impactos, água e influência de agentes químicos. A instalação deve ser projetada e mantida com cuidado quanto à blindagem, estanqueidade, isolamento, aterramento e proteção. Todas essas normas buscam diminuir os riscos quanto a descargas elétricas, que já fizeram muitas vítimas nas galerias.
Seguidamente utiliza-se pólvora dentro das galerias. As pequenas explosões abrem buracos nas paredes que facilitam o processo da garimpagem. Toda essa atividade de utilização e emprego desses materiais explosivos deve ser efetuado por pessoas devidamente treinadas.
A sensação de que o passado era muito mais sombrio e perigoso deixa claro que os avanços que tivemos na regulamentação da exploração de pedras, mas é só acompanhar um dia de fiscalização da COOGAMAI que a triste realidade de algumas minas vem à tona. Conhecendo um dos garimpos, pudemos sentir na pele tudo aquilo que centenas de garimpeiros passam todos os dias.
O vídeo abaixo mostra como é o interior da mina:
O que se esconde nas minas escuras
Entramos no carro sem saber o que nos esperava alguns quilômetros à frente. Estrada estreita, de pedras soltas. O barulho das máquinas trabalhando é o sinal de que chegamos. A entrada da mina já assusta. Para quem visita o garimpo como turista, jamais viria algo parecido. Munidos de capacete entramos na mina, o jeito é se abaixar logo na entrada, pois os 1,80 metros de altura que deveriam ser padrão não estão sendo respeitados. Dez passos dentro da mina e o acumulo de água no chão da galeria é um sinal do que encontraremos pela frente. O fiscal nos questiona se queremos continuar, afirmando de lá não sairíamos limpos. Vendo muito pouco pela frente não temos como parar ali, na primeira barreira ou poça d’água. Os cabos da energia elétrica, que deveriam estar no alto, estão parte no chão, a poucos metros da água acumulada, um perigo sem tamanho.
Além da água, que nesse momento já molhou nossas calças e calçados, um barulho, muito alto, ecoa nas galerias. São os exaustores. Porém, caminhamos um pouco e logo percebemos que o exaustor não é da galeria que estamos acompanhando a fiscalização. O exaustor desligado na ala que estamos logo causou uma sensação claustrofóbica, ou seria mesmo um reflexo da escassez de oxigênio.
Tudo era muito escuro, e mediante a inexistência de iluminação interna o uso de lanternas era indispensável. Mais alguns passos adiante, começamos a escutar um barulho alto de um motor, era uma “carretinha” que se aproximava. As carretinhas são bem rústicas, feitas de madeira com um motor à diesel e dois bancos acoplados. Dois homens estavam a bordo da “carretinha”. O fiscal que nos acompanhava pediu para pararem, as irregularidades eram visíveis mesmo diante a falta de iluminação. Os dois homens não utilizavam capacetes, luvas, auriculadores, botas ou máscaras. Pareciam estar exercendo um trabalho sem riscos, não usavam nenhum tipo de equipamento de segurança para estarem naquele local.
Intimidados com a presença do fiscal e com as nossas câmeras, a explicação de estarem sem equipamento de segurança veio mediante ha muitas gaguejadas e contradições, que por fim deram origem a afirmação de que não trabalhavam lá, só não tinham o que fazer em casa e resolveram dar “um pulo” na mina carregar algumas pedras. A mentira era visível, o que fez o fiscal anotar os nomes dos trabalhadores e quem era o responsável pelas ferramentas que estavam utilizando.