Você assistiu ao audioslideshow com as fotos produzidas durante a “montagem” de Keli
“Dei sim, dei tudo só para ele. Hoje, por grana, pra todos. Não roubo, não mato. Mesmo assim me pergunto se não faço algo de errado.” (Francisco Alvim)
Michês? Amantes anônimos? Transformistas? Prostitutos ou homossexuais a procura de sexo fácil em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul? Em Frederico Westphalen, região do Médio Alto Uruguai todos sabem das “bichas do centro” me diz um menino sentado a minha frente, falando e rindo para um gravador, mas que prefere ser chamado de Vitória quando sai nas noites frederiquenses pra conseguir sexo. Além dele, há outros, entre adolescentes e adultos, que costumam fazer o mesmo: travestidos de mulher, saem batendo salto alto atrás de uma companhia pra noite, ou somente pra transar ou pra conseguir dinheiro, ou tudo ao mesmo tempo, já que para eles, é difícil para um gay conseguir sexo em uma cidade pequena como Frederico Westphalen, e assim, recorrem à prostituição para sanar esse desejo.
Saem em dupla, em grupo ou raramente sozinhos, principalmente nas sextas e sábados e quando há alguma festa que provoque um grande movimento na cidade, os dias mais propícios para conseguirem programa. Saem sempre por volta das 12:00 da noite, primeiro no centro, na Rua do Comércio. Após isso, vão as esquinas ou para os locais onde há mais movimento devido às festas, mas sempre procurando ficar mais visível apenas aos clientes, pra que estes possam chegar até eles sem serem notados por outras pessoas. O preço do programa varia. Da mesma forma como podem conseguir 120 reais em uma noite com um único cliente, podem fazer de graça: basta o cliente ser bonito.
“Fazemos programa mais pra dar um ar de mulher, né. Não por precisão. Mais por boa vontade” (Kelli, 22 anos)
Não se dizem profissionais do sexo e não saem todos os finais de semana. Alguns fazem por dinheiro só quando precisam ou quando o cliente é feio ou tem a idade um pouco ultrapassada. Além disso, boa parte deles costumam trabalhar durante o dia em bares, lojas, restaurantes, como atendentes e garçons. O programa, é pra conseguir prazer e sexo. Muitos começaram a prostituir-se ainda na menor idade, geralmente influenciados por outros que já faziam programa. Segundo Vitória, Lety foi o primeiro gay assumido e o primeiro transformista na cidade. Foi ele quem ensinou os outros gays a se prostituirem, e quando estes acabaram gostando, criou-se um grupo.
Foi Lety também que batizou seus pupilos com nomes femininos. Vitória, Kelly Gisele, Samanta, Tina, Tainá. A noite, enquanto estão tentando programa, atendem apenas por estes nomes. Dizem não fazer programa com outros gays e nas relações sexuais são sempre passivos, a não ser que o cliente queira e o programa seja por dinheiro. Além do nome, travestir-se de mulher é importante pra se conseguir o programa de cada noite porque os clientes preferem assim, caindo desta forma em uma fantasia tanto por parte dos clientes, que “são heterossexuais”, mas que gostam de transar com homens, principalmente se estes estiverem vestidos de mulher, assim como por parte de Kelli por exemplo, que se sente mulher usando roupas femininas, mas que não mudaria de sexo. Já Gisele, não queria nem ter nascido homem.
“Por dinheiro eu acabo sendo ativa, né, fazer o quê. Eles querem tudo da gente.” (Vitória, 16 anos.)
O perfil dos clientes varia. De jovens a adultos, de solteiros a casados, variam também de posição social. A mãe de Vitória sabe que ele se prostitui. Os colegas da escola sabem apenas que ele é gay. Mas pra mãe, ele já contou algumas vezes que conseguiu dinheiro dessa forma, embora ela não goste. O Pai de Gisele também sabe que ele faz programas, mas evitam conversar sobre isso. Já Kelli, o mais velho, seus pais sabem e não veem nenhum problema nisso. Kelli diz que fez fama. Todos sabem que ele faz programa, inclusive alguns chefes dos locais onde trabalhou. Vai a lojas e compra roupas femininas, sapatos, maquiagem, bolsas. As vendedoras são suas amigas e sabem o que ele faz. Eduard é homossexual que também se traveste de mulher, mas que não faz programa, pois abomina a prostituição.
“Não, eles sabem que eu sou gay. Já zooam de mim porque eu sou gay, imagina se souberem que eu me prostituo. (Vitória)
Assim, num jogo de sedução e prostituição feito pelas ruas de uma cidade interiorana, conservadora e católica, Gisele, Eduard, Kelli, Vitória, são homens e meninos que se metamorfoseiam a partir da meia noite, “transforma-se” em mulheres por motivos diferentes e estão mergulhados em uma confusão ideológica do que é ou não ser gay, de desejos de se transformar em mulher, mas não abrir mão de ser homem, ou de ser homem, mas querer ser uma mulher, ou ainda: de travestir-se de mulher e ao mesmo tempo detestar isso, como é o caso de Eduard.
Hum quero homens bem dotados