Gisele, Kelli e Eduard se metamorfoseiam a partir da meia noite. “Transformam-se em mulheres” por motivos diferentes e ligados a uma insatisfação com sua própria sexualidade. Travestir-se de mulher parece muitas vezes, a materialização dessa confusão: Keli é gay, é homem e não abriria mão de ser homem. Faz programa travestido de mulher para conquistar clientes, pois segundo eles, os clientes querem ter sensação de que não estão transando com um homem, apesar de procurá-los para o programa sabendo que são homens travestidos de mulher. Já Gisele sente-se mulher quando sai para a rua usando roupas femininas, maquiagem, peito, peruca e salto alto. Queria ser mulher, não gosta de ser homem e inclusive, se tivesse dinheiro, faria cirurgia para trocar de sexo.
Mas keli e Gisele sabem o que querem. Sabem também o que não querem. Está em Eduard uma certa crise entre a satisfação de um prazer e o não querer abdicar de ser o que é pra chegar a este prazer: Eduard traveste-se de mulher. Mas odeia isso. Eduard é gay, não tem vontade de se transformar em mulher, mas se traveste para conseguir sexo, geralmente com homens que ele acredita serem “heterossexuais”. Porém Eduard não se prostitui como seus colegas. Pelo contrário: apesar de não recriminar quem o faça, como opção individual abomina a prostituição. Veste-se de mulher apenas pra conquistar os homens e conseguir sexo, mas sem prostituir-se.
“Eu detesto essa condição. Essa é uma condição que faço pra poder atrair os homens heterossexuais, o perfil de homem pelo qual eu sinto uma atração fatal.” (Eduard)
O tema prostituição gera diferentes posições de acordo com os familiares de cada um. Os pais de Keli sabem que ele é homossexual e sabem que o mesmo se prostitui. Não veem problema algum nisso. O pai de Giseli aceita que o mesmo seja gay e possui uma aceitabilidade velada quando o assunto é prostituição e não chegam a tocar no assunto. A mãe de Vitória também não aceita a prostituição do filho, e Eduard, como não se prostitui, não sofreu nenhuma recriminação por parte de sua família, que também desconhece sua orientação sexual.
“Meu pai sabe que eu me visto de mulher e saio fazer programa. Uma vez ele já me viu vestido. Mas nós não conversamos sobre isso” ( Gisele)
Nos finais de semana quando saem para fazer programa, procuram sair sempre em dupla ou em grupo. Os dias mais propícios para conseguir programa são sextas e sábados e quando há alguma festa que provoque um intenso movimento na cidade. Saem sempre por volta da meia-noite, primeiro no centro, na Rua do Comércio. Após isso, vão as esquinas ou para os locais onde há mais movimento devido às festas, mas sempre procurando ficar mais visível apenas aos clientes, pra que estes possam chegar até eles sem serem notados por outras pessoas. O preço do programa varia. Da mesma forma como podem conseguir 120 reais em uma noite com um único cliente, podem fazer de graça: basta o cliente ser bonito!
Não se dizem profissionais do sexo e não saem todos os finais de semana. Alguns fazem por dinheiro só quando precisam ou quando o cliente é feio ou tem a idade um pouco ultrapassada. Além disso, boa parte deles costumam trabalhar durante o dia em bares, lojas, restaurantes, como atendentes e garçons: “eu não vivo apenas fazendo isso. Não tenho uma carreira.” Se não há uma carreira, como nos diz Vitória, a prostituição se justifica pela dificuldade que um gay em uma cidade interiorana como Frederico Westphalen tem para conseguir sexo. Muitos começaram a prostituir-se ainda na menor idade influenciados por outros que já faziam programa. Segundo Vitória, Lety foi o primeiro gay assumido e o primeiro transformista na cidade. Foi ele quem ensinou os outros gays a se prostituirem, e quando estes acabaram gostando, criou-se um grupo. Juntamente com Lety, Keli foi outro precursor da prostituição no município. Embora todos os integrantes do grupo não estejam mais unidos, Keli e Gisele ainda saem juntos. Vitória ainda sai com Tainá…
No comments