A persistência da Biblioteca Municipal de FW diante o hábito de leitura do brasileiro

Felipe Vieira e Victor da Matta

felipebeattovieira@gmail.com; victordamatta@hotmail.com

A leitura e a escrita: hábitos medievais que se prolongaram e evoluíram até os dias atuais e, diante da era digital, ainda se mantêm como meios essenciais para o convívio, criação, historicidade, saúde mental e para o desenvolvimento social e crítico do indivíduo. A escrita de livros é essencial para humanidade desde os primórdios, pouco aprenderíamos sobre nossa história se não fossem os registros. O que ocasiona uma manifestação artística, abrindo portas para a criatividade e viagem a um novo mundo de ideias. No Brasil, o costume da leitura é questionado. Os leitores brasileiros cresceram ligeiramente de 2011 para 2015, seis pontos percentuais. O primeiro contato com a leitura geralmente ocorre nos anos iniciais da escola, e as bibliotecas têm grande importância no incentivo à leitura.

Uma das maiores bibliotecas da região do Alto Uruguai, no quesito acervo é Biblioteca Municipal Luiz Carlos Vendrusculo, localizada em Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul. A Biblioteca Municipal foi fundada em 29 de março de 1960 e reinaugurada em 2011, recebendo o nome do colunista do Jornal O Alto Uruguai, Carlos Luiz Vendrusculo.
Com mais de 57 anos, a Biblioteca é uma das maiores da região e conta com um acervo de 38 a 40 mil livros dos mais variados gêneros, além de também conter as obras dos principais autores da literatura brasileira. À frente da biblioteca está Claudete Pessatto, de 46 anos, que trabalha há 14 anos na Biblioteca Municipal. Antes localizada no andar superior da Câmara dos Vereadores, em uma estrutura antiga, sem muita acessibilidade ao público, em 2011, a Biblioteca mudou-se para a frente da antiga Câmara, o que consequentemente trouxe maior visibilidade: “Tínhamos mil cadastrados, hoje já estamos na média dos 5.400 cadastrados”, relata Claudete.
Em todos os seus anos de servidora da Biblioteca Municipal, Claudete afirma que sentiu mudanças nos leitores. A procura de livros cresceu bastante nas pessoas da terceira idade, que formam os leitores mais assíduos, na maioria mulheres de 40 a 70 anos. As crianças que, acompanhadas e incentivadas à leitura pelos pais, também comparecem frequentemente no local. A bibliotecária ainda destaca que a busca pelas sessões de espiritualidade e autoajuda cresceu entre os adolescentes, “parece que as pessoas estão procurando mais ajuda, estão precisando mais de fé”.
Hoje, com um acervo de mais de 38 mil livros – mais de um livro por morador de Frederico – Claudette admite que a Biblioteca necessita de um suporte maior por parte do poder público “acho que poderia mudar bastante nosso acervo. Tem pessoas que já leram quase tudo e é muito importante pra sociedade de FW renovar esses títulos. A biblioteca é essencial na nossa cidade, em nível de cultura e educação”.
Claudete trabalha também nos projetos Escola Aberta, pelo Estado do RS e o programa Mais Educação, do Ministério da Educação. “Eu acho que vou me aposentar aqui. Eu amo a biblioteca como se fosse minha casa. Amo trabalhar com conhecimento’’.
Os leitores da biblioteca são vistos como amigos para os funcionários, pela constante troca de experiência e conhecimento. Consultora de produtos eróticos, Bibiana Ritter, de 19 anos, é leitora e conhecida da biblioteca desde pequena. Ela conta que tem gosto da leitura desde quando aprendeu a ler, e que um grande incentivo nessa parte foi o irmão e a mãe, que costumavam ir à Biblioteca Municipal semanalmente.
Bibiana comenta que lia bastante ficção e autores romancistas, mas hoje já não comparece na biblioteca com tanta frequência em razão da falta de tempo, já que precisa conciliar trabalho e estudos. Sobre a leitura, ela afirma: “mudou completamente minha vida, tenho mais facilidade em escrever, me expressar e me comunicar com outras pessoas ou públicos maiores”.
Bibiana acredita que o incentivo à leitura deve vir da maior participação das escolas em eventos relacionados, mas que principalmente, deve partir inicialmente dos pais.

Eu, poeta
Coordenador da Biblioteca Municipal, Rudimar Dos Santos, de 34 anos, é poeta e escritor independente do município. Trabalha na biblioteca desde janeiro de 2017, exercendo funções na área administrativa, atendendo o público e trocando experiências e indicações de livros. “Me sinto privilegiado trabalhando na Biblioteca Pública em razão do contato com as pessoas. Como escritor, me faz muito bem as trocas de experiências e indicações de livros, é algo inspirador”.
Rudimar conta que vê bastante dificuldade em ser escritor independente em virtude da questão financeira, porque há inúmeras etapas na publicação de um livro e o custo acaba se tornando grande, “Sou um escritor autodidata e costumo dizer que escrevo com o coração. Procuro ter uma renda digna e divulgar meu trabalho, até porque antes vem a divulgação, vem o conhecimento daquilo que tu faz, a venda vem depois”. Mas, mesmo com as dificuldades financeiras, Rudimar já tem oito livros publicados, sendo seis de poesias e mais dois infantis. O sétimo livro de poesia, que se chama “Eu Poeta”, será publicado gratuitamente pela Editora LIVE de São Paulo. “Conseguir apoio na impressão física do livro, vender e buscar seu público é sempre difícil, como se fosse a primeira vez. É um processo árduo”.
Além dos livros físicos, Rudimar ainda tem um canal no Youtube e escreve para um site chamado Recanto das Letras, onde escritores têm a liberdade de postarem suas poesias. É participante de um Projeto em Passo Fundo – RS, onde escreve diariamente poesias inéditas, montadas na hora, e quando chega a 100 poesias, o projeto motiva o escritor a publicar seu livro, ajudando na capa e na diagramação.

*Reportagem produzida na disciplina de Redação Jornalística 2 como parte do jornal-laboratório online da turma. Clique aqui para mais textos.