Liberdade de imprensa: vale para quem?

Nos últimos anos relatórios de diversas ONGs vêm mostrando um número crescente de ataques a jornalistas, seja por meios físicos, psíquicos ou mesmo por censuras veladas. Esses dados tornam-se preocupantes quando, ao invés de se notar um decréscimo de ataques no campo da censura, esses dados apresentam uma evolução alarmante.

 Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, entre 2002 e 2015 mais de 900 jornalistas foram assassinados. Esses dados quando reduzidos a semanas se reproduzem em uma morte de jornalista por semana, segundo dados da Organização das Nações Unidas. Se pegarmos o Brasil como exemplo de estudo, em 2010 era o 18º país com maior risco de morte para jornalistas. Em 2012 o país era considerado o 4º país mais perigoso do mundo para o exercício da profissão. Em 2016 passou para o 3º mais perigoso do mundo segundo a Comissão de Proteção a Jornalistas (CPJ). Os números revelam o quão sensível se tornou a profissão no país.

Somente em 2016 é que o Brasil passou a contar com números processados internamente pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (ABERT), anteriormente os dados eram da de organizações internacionais. Segundo o relatório divulgado pela ABERT, entre 2014 e 2016 foram mortos 14 jornalistas, o caso mais recente ocorreu no Sudoeste do Paraná, onde um jornalista de rádio foi executado enquanto estava apresentando um programa musical. A morte foi reconhecida pela UNESCO como sendo motivada por envolvimento com questões sociais.

Mais de 60% dos jornalistas mortos no Brasil cobriam casos de corrupção, 46% eram repórteres que acompanham o desenrolar de crimes, 31% eram jornalistas que atuavam na cobertura política, 15% acompanhavam informações de Direitos humanos e os 8% divididos entre cobertura esportiva e de negócios. Nesses casos em que a liberdade de imprensa foi cerceada com mortes, a maioria ocorreu em cidades pequenas e de comunicadores que atuavam em jornais de circulação local. Segundo dados da CPJ a maioria dos crimes é execução com tiros.

Além dos casos de morte, vários jornalistas se encontram presos pro divulgarem informações que contrariam interesses de grupos de poder. Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, em todo mundo existem ao menos 826 presos, um número muito mais alarmante quando se percebe que os dados são apenas de 2015. A Anistia Internacional alertou que o princípio da Liberdade de Imprensa está sendo ameaçado em todo o mundo.

A impunidade contribui para a aumento desses números, como mostra um relatório divulgado pela UNESCO. De cada dez ataques a profissionais de imprensa, apenas um é julgado e os outros noves permanecem impunes. Em 2015, a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, condenou as 114 mortes de profissionais da área de comunicação, um número 20% maior que em 2014. A Organização afirma que uma quantidade muito maior de profissionais sofreu outros tipos de ataques como estupros, sequestros, assédios e intimidações. Entretanto cerca de 90% dos casos permaneceram impunes.

A digitalização da mídia nos últimos anos contribuiu para uma maior transmissão de informações e para um público mais amplo. Como consequência, o ataque virtual a jornalistas tornou-se uma realidade. Os ataques incluem desde confisco de celulares e computadores a contaminação por vírus eletrônico dos meios de trabalho da imprensa. Esses ataques visam tanto apagar informações relevantes e de interesse de alguns grupos quanto descobrir a identidade das fontes com a qual o repórter obteve as informações.

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Wellington Hack – Agência Da Hora

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