Para muitos loucura, para outros, oportunidades

Não é difícil perceber, nem é uma realidade distante, o desemprego no Brasil. Basta caminhar nas ruas das cidades, passar em frente a comércios e agências de emprego e logo podemos perceber: a crise chegou e muitos foram afetados. Grande índice de demissões, corte de investimentos privados e uma grande transformação nas prestações de serviços. Tudo isso para tentar equilibrar a balança e guardar um pouco de dinheiro no final do mês.
As perspectivas de economistas já alertam que a situação do país tende a melhorar, mas vai um bom tempo para que isso aconteça. “O Brasil já passou por diversas crises ao longo da sua história, mas a crise atual é muito mais geral. Não é só o Brasil que está passando por dificuldades. Os demais países da região (Argentina, Uruguai) e do mundo (a própria China)  também estão, em maior ou menor grau, enfrentando dificuldades econômicas o que só piora a nossa situação”, comenta a economista e professora da UFSM Frederico Westphalen Camila Brufao. Diante desse cenário, muitas incertezas rodeiam empregados e empregadores quanto ao rumo da economia.
É difícil ficar tranquilo quando as demissões afetam milhares de pessoas e muitas profissões tendem a ser substituídas. Se pensarmos que junto com a crise a revolução tecno-científica  se apresenta como uma das alternativas para solucionar a falta de caixa. Com um investimento de médio porte, muitas empresas substituem empregados por máquinas, reduzindo o custo com salários no final do mês. E não é necessário ter uma imaginação de Júlio Verne para ver esses avanços. Há menos de um século, a iluminação pública era por meio de lampiões a gás ou querosene e somente em 1933 foram substituídas por iluminação elétrica na capital federal, na época, o Rio de Janeiro.
Mas diante dessas incertezas, novas oportunidades surgem e diante do leque que é oferecido em profissões tradicionais, muitas pessoas optam por inovar. A palavra apontada por muitos economistas em cenários de crise é levada ao pé da letra por pessoas que não têm medo de enfrentar a crise e criar seus próprios negócios, mesmo que eles não sejam de profissões que comumente vemos por aí. Essas profissões surgem da falta de vagas no mercado trabalhista, como vimos anteriormente associação a criatividade das pessoas para conseguir seu próprio sustento como forma alternativa.
Conheça a seguir novos profissionais de ramos não convencionais, mas que estão vendo uma nova forma de sair da crise e que viram oportunidades em novas áreas de trabalho.

Do mundo dos sonhos para a realidade: conheça as Fadas Madrinhas

Quem na infância não leu Cinderela e ficou imaginando ter uma fada madrinha capaz de transformar uma abóbora em carruagem. Ou não ficou com medo da vilã-madrinha mais famosa das telas, a Malévola. Sem falar dos Padrinhos Mágicos que, mesmo atrapalhados, são bem úteis em alguns momentos, não é mesmo? E se você tivesse uma fada-madrinha que cuidasse de seu filho enquanto você se diverte, não seria nada mal.
Pois se você sempre quis isso, saiba que elas existem! Bem, elas não têm asas e nem varinhas mágicas, mas trabalham em festas e se responsabilizam pelos príncipes e princesas enquanto reis e rainhas se divertem nas festas da realeza. Tudo começou assim…
Era uma vez uma fada madrinha que ainda não havia se revelado com seus poderes mágicos com crianças. Certa vez ela foi convidada a participar de uma festa em um palácio de um reino desconhecido. Para a felicidade dos pais, a fada madrinha resolveu trabalhar com as crianças. Foi aí que a fada Madrinha Renata Sertório viu uma nova profissão nascer. “No final dessa festa os pais vieram me agradecer pois raramente conseguiam se divertir em festas depois de ter filhos. Então resolvi criar uma empresa que desenvolve atividades para crianças em eventos onde os principais convidados são adultos”, conta Renata.
Atualmente o reino encantado das Fadas Madrinhas cresceu. “No início era apenas uma festa por mês e nem todo mês tínhamos trabalho, oito anos depois temos cerca de 10 festas por mês, no mínimo”, acrescenta Renata. Ela
também explica que a ideia de investir foi motivada pela vontade de tornar sonhos em realidade, “não perdi tempo. Logo pesquisei nome, montei o site e comprei alguns materiais.”
E quem tem esses poderes mágicos de trabalhar com crianças e quer virar uma fada, também tem uma formação com a Fada Mestre Renata. “Para fazer parte da equipe é preciso ser maior de 18 anos e preferencialmente ter alguma experiência com crianças, independente de curso pois eu mesma dou o treinamento necessário para a minha equipe, especialmente porque é uma recreação diferenciada”.
A ideia que nasceu em São Paulo hoje se encontra em diversas cidades e regiões do Brasil. Quando questionada sobre como a sociedade vê o trabalho desenvolvido por eles, Renata encerra: “A sociedade não havia percebido essa necessidade. Eu acabei criando um novo segmento no mercado, uma nova necessidade e um novo perfil de empresa. O sucesso fez com que outros quisessem copiar a ideia e hoje existem outras empresas oferecendo o mesmo serviço, mas fui pioneira e a única por cerca de cinco anos”.

 

Shopping + vontade de comprar = profissão dos sonhos de muitos

“Há um estranhamento comum por parte das pessoas, pois tudo o que é diferente, que não faz parte do cotidiano, estranha”, assim Dany Couto expressa a visão de grande parte da sociedade com relação ao seu trabalho. Formada em Psicologia, ela atuou durante 10 anos com psicologia organizacional, sete deles como gestora de recursos humanos em uma multinacional.  Para muitos esse seria um sonho de carreira, onde até uma estabilidade de emprego poderia ser imaginada.
Mas para Dany nada disso foi suficiente para não trocar de profissão, “quando conheci a Consultoria de Estilo resolvi mudar de profissão. Dentro da Consultoria de Estilo temos a etapa de PersonalShopper, acabei me identificando com este serviço pois já possuía um “feeling” bom para compras e presentes”.
A profissão, ainda recente no Brasil, despertou a atenção dela. O PersonalShopper é especializado em realizar compras eficientes, buscando o que o cliente realmente necessita. Para exercer a profissão é preciso realizar um curso de capacitação, que dura em média três meses. “O ser humano tem uma tendência a comprar por impulso, emoção e acaba comprando muito errado, o PersonalShopper tira essa emoção da compra, e a faz de forma raciocinada, pensando no que o cliente realmente precisa”, comenta Dany sobre sua atuação profissional.
Para ela a profissão está em grande avanço no país e no mundo. “No Brasil ainda é um mercado novo mas nos Estados Unidos existe há muitos anos”. Além disso, é uma profissão que pode ser difundida em diversas culturas, e não se fixar em apenas grandes centros urbanos. “Em São Paulo temos já um grande mercado, muitos Shoppings e Hotéis já possuem seu PersonalShopper, no Rio alguns Shoppings já estão aderindo também. Acredito que em breve outras regiões do Brasil também contarão mais com este serviço”. Para Dany, a crise político-econômica do país fortaleceu a profissão em certos pontos, “o poder de compra foi diminuído a as pessoas estão procurando mais o PersonalShopper para não errarem e comprarem menos”, relata.

O amor  e o cuidado aos animais: uma profissão que vai além da veterinária

Imaginemos esta cena. Você mora em um grande centro urbano, em um apartamento totalmente sem ligação com a natureza. Como você adora animais resolve adotar um cãozinho. No começo tudo certo, você tem tempo para leva-lo passear e se divertir em praças e parques da cidade. Mas com o passar do tempo  seu trabalho aumenta e não consegue mais dar a atenção que seu bichano merece, e ele também sente isso e começa a ficar estressado dentro de casa. E então, como solucionar esse impasse?
É nessas horas que entra uma peça chave para o bem estar de seu cachorro: o Dog Walker. Esse profissional é responsável por passear com os animais e promover o seu bem estar. Nas palavras de Ana Basso “O trabalho envolve muito mais do que um simples passeio, ele alia o prazer do passeio, do sair de casa com alguns ensinamentos de comando e regras de comportamento e socialização”. Ela conta que a profissão chegou de forma natural, já que sempre teve muita afinidade com animais. “Sou bióloga formada, porém, o desejo de trabalhar com os pets foi crescendo e também passei a observar uma crescente necessidade por parte dos donos de pets em assegurar uma melhor qualidade de vida a seus companheiros”, comenta Ana.
A profissão de Dog Walker não é formalizada, e o trabalho é realizado como uma função liberal, ou seja, pode ser de maneira autônoma ou empregatícia. Em termos simples, esse profissional é responsável por pegar e devolver o cão ao seu lar. “O profissional busca o animal na casa do cliente, realiza o passeio na região de preferência do dono do animal e conduz o cão de volta ao seu lar. A frequência e duração do passeio varia de acordo com a necessidade de cada animal”.
E a nossa história contada no início do subtítulo é um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da profissão dentro e  fora dos centros urbanos, como conta Ana, “O ritmo de nossas vidas está cada vez mais agitado independente de vivermos em um grande centro ou em uma cidade menor. Aliado a isso, aponto também uma crescente preocupação dos proprietários com o bem estar de seus animais”.
Para quem deseja seguir a área, Ana comenta que não é necessário um curso para trabalhar nesse ramo, mas ressalta: “julgo muito interessante realizar um curso a fim de aprimorar uma afinidade pré existente e aprender algumas técnicas vitais para o trabalho”.

Das amigas às clientes

Em um quarto pequeno e um tanto escuro, Ingrid Rodrigues Dummel, começou a se interessar por maquiagem e testar algumas práticas nas amigas e parentes aos 14 anos de idade, apenas como Hobby. O tempo foi passando, a maquiadora foi adquirindo experiência e maturidade e decidiu que cobraria suas próximas maquiagens. Foi ao longo dos seus 17 anos que a jovem começou a trabalhar com isso e conseguir tirar renda para seus gastos pessoais, porém, o quarto ia ficando cada vez menor, foi quando ela decidiu: Montaria um estúdio para melhor atender suas clientes e assim o fez. “Eu trabalhava em casa, no meu quarto, eu sentada na cama e a cliente com a cabeça no meu colo. Cada vez mais a procura foi aumentando, e como estava ficando complicado porque o espaço era pequeno, meus pais sonharam meu sonho comigo e resolveram vender nossa casa para eu poder abrir meu estúdio”, conta a maquiadora.

Mas abrir um negócio em meio a crise, sabemos que é um tanto arriscado, pois até vir o retorno financeiro de tudo que foi investido leva algum tempo e abrir um local físico demanda muitas despesas. Logo, a área da beleza está se desenvolvendo muito e dessa forma, a procura pelo serviço de Ingrid está cobrindo os gastos. Além de maquiagem profissional, o estúdio conta com o serviço de manicure e design de sobrancelhas. E assim, com essa variedade de tarefas, o estabelecimento agrega muitas clientes e o que antes não era convencional virou uma profissão com estabelecimento fixo em uma das ruas mais movimentadas da cidade.

Quem fez, aconselha

Procurar outras profissões que não sejam convencionais pode parecer loucura para muitos. Mas há quem diga ao contrário: inovar e criar novas ofertas de produtos e serviço é algo que gera inúmeros benefícios. Como vimos, quem se aventurou por caminhos novos e desbravou um admirável mundo novo não se arrepende de tê-lo feito. Pedimos para algumas de nossas entrevistadas darem dicas para os jovens na hora de escolher que c

Fadas madrinhas, arquivo pessoal

aminho seguir.

“O conselho principal é fazer o que você realmente gosta! Além disso, aconselho a colocar em prática as ideias boas logo que elas surgem, não deixe o tempo passar, não espere terminar a faculdade ou qualquer outra coisa acontecer. O momento bom para começar é o momento em que a ideia surge e a empolgação é grande, então a garra também é. Tente ser original. Não copie nada de ninguém. Você não precisa ser melhor, precisa ser diferente! O igual não vai ganhar espaço no mercado, afinal, os clientes já têm aquilo com outra empresa.” Renata Sertório, Fada Madrinha.

 

Dany Couto, Personal Shopper, arquivo pessoal

“A minha dica principal é que não tenham medo de tentar o novo e persistam. O início de qualquer profissão é difícil, entretanto de uma profissão ‘não tradicional’ é mais difícil. Se você realmente quer essa profissão persista, você enfrentará momentos difíceis, pensará em desistir e muitos desistem, mas se persistir quando der certo será uma pessoa muito realizada de fazer o que realmente se ama.” Dany Couto, PersonalShopper.

 

 

Imagens arquivo pessoal Ingrid Dummel

“Ter e acreditar no teu trabalho, procurar investir o máximo de dinheiro para agradar suas clientes com o melhor serviço e o melhor produto, assim o seu negócio dará certo.” IndridDummel, Estúdio de Beleza.

 

Wellington Hack
Isadora Ferrão
Redação Jornalística 2

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