Educação indígena: a complexidade no ensino especializado

Educação Indígena Foto: Celia Santos

Dados mostram que problemas no ensino ainda são muitos

Denise Nunes e Julia Rebellato

denisenf55@gmail.com; juliazrebellato@gmail.com

A Educação Indígena é uma questão complexa e que envolve diferentes setores da sociedade. Como todos sabem, antes mesmo da chegada dos Europeus na América, os indígenas já viviam aqui. Estima-se que eles eram aproximadamente 100 milhões no continente e 5 milhões no Brasil. Hoje, de acordo com o censo 2010, eles são somente 897 mil, sendo que 34 mil vivem no Rio Grande do Sul. Desde sempre foi imposta a eles a cultura e o modo de vida do homem branco e falar sobre a Educação em tribos Indígenas é tentar dar a eles a possibilidade de valorizar e não deixar cair em esquecimento a sua cultura.

De acordo com o Censo Escolar 2016, o número de matrículas na educação básica em terras indígenas foi de 233.711 e o número de escolas é 3.115. Esse número demonstra um déficit nessa questão e os motivos são diversos. Para se ter noção da complexidade do assunto, podemos pensar que no Brasil existem 180 línguas indígenas e desde 1988 a Constituição brasileira prevê no 2º parágrafo do artigo 210: “O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.”

Apesar dos indígenas possuírem o direito constitucional à educação diferenciada, específica, intercultural e bilíngue, o próprio Ministério da Educação (MEC) admite falhas. “Há, ainda, muito a ser feito e construído no sentido da universalização da oferta de uma educação escolar de qualidade para os povos indígenas, adequada a seus projetos de futuro, de autonomia e capaz de garantir sua inclusão no universo dos programas governamentais que visam a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, nos termos da Constituição de 1988”, é o que diz no documento oficial do MEC a respeito da Educação Escolas Indígena. Ainda segundo o mesmo documento, a oferta de programas educacionais aos povos indígenas é recente, o que torna o ensino fraco. A maioria das escolas oferece ensino do 1° ao 4° ano, obrigando os alunos a irem para escolas urbanas e culturalmente brancas, o que causa abandono do ensino. Segundo o Censo 2010, do IBGE, o analfabetismo entre indígenas é maior do que a da população brasileira: 76,7% dos índios com 15 anos ou mais de idade sabem ler e escrever, contra 90,4% da média brasileira.

Censo Indígena sul
Fonte: FUNAI

Na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a população Kaingang é maioria, totalizando pouco mais de 4 mil indígenas. De acordo com dados do governo do Estado, 48 instituições estão localizadas em áreas do povo Kaingang, ou seja, 90% dos estudantes do Estado são atendidos e estão matriculados nelas. A Escola Estadual de Ensino Fundamental de Nãn Gag está localizada na cidade de Iraí, em área Kaingang e é uma das poucas que possui o Ensino Básico especializado completo. Sendo assim, os estudantes de Iraí só precisam procurar uma escola culturalmente branca a partir do Ensino Médio. Ven Rá Inaê Jacinto, estudante indígena do IFFar campus Frederico Westphalen, afirma que a maior dificuldade que encontrou ao sair da Escola Nãn Gag é o idioma, uma vez que, segunda ela, os indígenas em geral não sabem falar o Português corretamente.

O despreparo de educadores também é um grande problema, pois não há uma formação específica para professores. Hoje em dia, muitos indígenas buscam uma formação para depois voltarem a suas terras para lecionarem, entretanto, de modo geral, não existe um curso que permita ao professor, índio ou não-índio, a aquisição de conhecimentos para que consiga trabalhar dentro de uma proposta escolar que valorize a cultura e as especificidades encontradas em uma comunidade indígena. Eloi Wisniewski, diretor há 12 anos da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Coronel Geraldino Mineiro, na Reserva Guarita, na cidade de Redentora, afirma que não há uma instrução para trabalhar com a cultura indígena. Segundo ele, é no dia-a-dia que os educadores recebem essa formação.

Os cursos de Pedagogia ainda não se preocupam em formar profissionais que consigam atender a essas necessidades. No Estado do Rio Grande do Sul existem iniciativas para formar docentes capacitados. Pesquisas feitas com educadores Kaingang que participaram desses programas apontam que apesar da ausência de uma política de formação específica, as poucas iniciativas realizadas contribuem para a atuação dos professores da tribo, bem como para a construção de referenciais pedagógicos diferenciados para a educação escolar indígena no Estado. “Para nós não-indígenas eu não tenho conhecimento que exista alguma formação em alguma instituição para trabalhar com os indígenas. O que existe são cursos específicos para indígenas para formação de professores (AFAM). Em Santa Catarina, no Rio de Janeiro e aqui no Rio Grande do Sul tem algumas universidades que já formam turmas exclusivamente de indígenas com cursos direcionados diretamente para trabalhar com a sua cultura. É um curso especificamente para indígenas”, afirma Eloi.

O diretor ainda diz que houve melhorias na questão educacional pelas iniciativas do Governo, porém a infraestrutura e o acesso ainda deixam a desejar. Na escola em que ele atua, há apenas duas salas em boas condições, sendo que a administração escolar teve que adaptar um banheiro para desenvolver suas funções, pois não havia mais salas disponíveis para que esses profissionais pudessem trabalhar. Portanto, apesar das Escolas indígenas estarem buscando constantemente profissionais com a qualificação adequada para dar ensinar os jovens e tentando cada vez mais melhorar seu ensino, ainda há muitas dificuldades a serem superadas.

*Reportagem produzida na disciplina Redação Jornalística 2 como parte do jornal-laboratório online da turma.

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Sobre o autor

denisenf55
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

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