Que tecido é esse?

Foto: Divulgação

Os reflexos da “despadronização” de imagem

Lívia Trindade e Renata Dornelles

rsd121098@hotmail.com; liviamellotrindade@gmail.com

Somos diferentes por natureza, devido a nossas criações, crenças e culturas. O sociólogo Pierre Bourdieu acreditava que o modo como a padronização se sedimentava na comunidade por meio dos modos de agir, pensar e sentir possibilitaria mudanças em nossas relações de hábitos. Seguindo a lógica desse pensamento seria óbvio crer na aceitabilidade de diversos padrões na sociedade moderna, porém, muitas vezes percebemos exatamente o contrário. Fomos às lojas da rua do Comércio do município de Frederico Westphalen onde a realidade se mostra bem diferente do que imaginávamos.

O questionamento padrão se origina de quem inicia o ciclo vicioso em uma era moderna tão consumista, nesse ponto nossa pesquisa determinou três objetos de análise: cabelos, sapatos e roupas. E partindo desse princípio chegamos aos afetados por essa onda, André Luís, cursando jornalismo na UFSM que se considera um ex-gordo e porta um cabelo Black Power invejável pontua a necessidade de aceitação quando fala de si e das mudanças de seu corpo: “Sempre gostei do meu corpo e jeito (…) precisamos nos amar com as qualidades e defeitos”. Apesar disso, André perdeu mais de 20 kg por problemas de saúde.

A relação acerca do cabelo cacheado/crespo, segue sendo um ponto importante a ser ressaltado, pois apesar de a aceitação do cabelo cacheado ser maior, não houve crescimento relevante na busca de tratamento para cabelos desse estilo. Segundo Castilho Estefanel, cabeleireiro em Frederico Westphalen, a procura por tratamentos para cuidado de cabelo cacheado segue praticamente nula, e exatamente por isso o salão não procura produtos com essa finalidade. É um ciclo vicioso comprovado pela estudante de biologia, Bruna Bernardes, que em sua infância teve cabelos crespos, mas optou por procedimentos de alisamento desde 2013. Bruna conta que não se achava bonita de cachos, além da praticidade: “É muito mais simples secar o cabelo toda a vez que o lavo, do que arrumar os cachos”, comenta.

Apesar do quão insistente a mídia se tornou no quesito da aceitação da pluralidade de padrões, de alguma forma, ela instiga a população a pensar na diversidade como assunto de domínio público. O que acaba sendo uma decepção, pois as lojas, na maioria das vezes, atraem os clientes por suas vitrines com manequins bem-vestidos, por sua decoração e até atendimento prestativo, muitas vezes acabam pecando em suas mercadorias por não expandirem a sua numeração para todos os tipos de consumidores. O comércio local pouco investe em roupas para pessoas que estão fora do padrão da magreza, e assim desfavorecem diversos clientes.

Diferentes meninas quando são novas crescem com uma infinidade de calçados em sua volta, e o primeiro contato imediato é com o sapato de salto da mãe. Quando a jovem chega a adolescência já está com a numeração atingida, e então se depara ao pesadelo de ir a uma loja e ouvir um não do vendedor, já que tal modelo desejado não tem sua numeração disponível. O mercado tem a necessidade de acompanhar essas clientes se não quiserem perder vendas, e de preferência satisfazê-las trazendo numerações e modelos para todos os tipos sapatos. Nos mais de 25 estabelecimentos visitados em Frederico Westphalen, em sua maioria lojas populares apresentavam mercadoria que alcançasse todos os públicos, apesar de não ter tanta variedade. Enquanto as boutiques, as lojas mais refinadas da cidade, seguem ignorando as diferenças de peso que inclusive em alguns casos desconhecem o termo “plus size”, eis aqui o que gerou o título desta reportagem.

A estudante de zootecnia Vanessa Castro, que tem 20 anos de idade , conta que quando chegou à puberdade se deparou com um grande desafio em sua vida, a obesidade. A estudante afirma que naquela época, além de sofrer bullying na escola, também aturava nas lojas onde comprava roupa: “Aos 14 anos minha numeração já estava maior que a da minha mãe, e quando saíamos para comprar roupas juntas, os vendedores me ridicularizavam, e isso me deixava frustrada”. Vanessa enfatiza que sua autoestima hoje em dia está melhor devido a sua aceitação: “Eu nunca vou ser magra, hoje em dia vejo meu corpo como meu templo, minhas dobrinhas na barriga, braço e pernas me representam. Tudo o que as pessoas disserem para me deixar pra baixo eu não vou dar importância, porque eu me amo exatamente do jeito que sou”.

Visão do novo mercado

A compra de produtos plus size cresceu muito, principalmente via internet, o e-commerce por exemplo, o chamado “comércio eletrônico” surgiu na década de 70 e atualmente possui uma enorme variedade de produtos. Fhaira Meyer é uma das inúmeras empresárias que fazem parte deste novo modo de comércio, atendendo todos os públicos, a empresária comenta a dificuldade em se encontrar produtos bonitos e de preço acessível nos modelos plus size: notei que muitos fabricantes não querem fazer tamanhos grandes, pois gastam mais tecido, a mão de obra é maior e no final tem que repassar ao comerciante todo esse custo, que por sua vez tem que repassar ao seu cliente, mas no fim das contas ninguém está disposto a pagar esse preço”. Tudo isso é facilmente comprovado com as pesquisas que fizemos nas ruas de Frederico Westphalen, apesar de muitas lojas atenderem o público plus, não havia variedade de modelos muito menos variedade de tamanhos. Pois apesar de os modelos plus size irem dos números g1 ao g7 grande parte das lojas visitadas possuía peças até o número g3. Além disso, Fhaira comenta que há um tabu com o peso: “criou-se um tabu que pessoas acima do peso não querem mostrar os braços, as pernas, não podem usar listras ou muita estampa, etc., mas esquecem de ir ao público GG e perguntar o que eles querem usar”.

*Reportagem produzida na disciplina de Redação Jornalística 2 como parte do jornal-laboratório online da turma: Leia mais em: http://decom.ufsm.br/redajor2/

Sobre o autor

Renata Dornelles
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

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