O teatro independente de Santa Maria ganha vida do desejo de estudantes da UFSM.
Cauã maquia-se no banheiro. Juliet passa o texto. Aline concentra-se. Luiza tenta relaxar. Deivid está atrasado. Felipe confere os últimos detalhes. Giro, Dilma, Célia, Oswaldo e Leninha preparam-se para entrar em cena. Sambas antigos embalavam aquelas três moças que desfilavam boêmias entre as mesas. Com um cigarro na mão e cheias de más intenções, o trio aproveitava-se do colo dos cavalheiros e causava burburinho entre as mulheres. De longe, um homem de sobrancelhas arqueadas e olhar atento as observava, juntamente com seu capanga. O ar começava a ficar denso. O Abajur Lilás entrava em cena.
Três prostitutas – Dilma, Célia e Leninha – são submetidas a opressão, humilhação e tortura do homossexual Giro, o inescrupuloso e explorador dono do prostíbulo, e de seu violento e enigmático serviçal, Oswaldo. É a vida valendo menos que um abajur lilás. O Abajur Lilás, apesar de ter sido escrita há mais de 40 anos pelo dramaturgo Plínio Marcos, é uma impressionantemente atual. Aliás, foi esse espetáculo que deu forma ao grupo Teatro Por Que Não? e garantiu que ele ganhasse os palcos.
Entrelaçando interesses, conversas, trabalhos e experiências, Aline Ribeiro, André Galarça, Cauã Kubaski, Deivid Gomes, Felipe Martinez, Juliet Castaldello, Luiza de Rossi e Rafaela Costa, todos acadêmicos do Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), uniram-se para comungar com o público um sentimento comum: a paixão pelo teatro.
O Teatro Por Que Não? formou-se nos corredores do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM, foi ganhando corpo no início desse ano e ganha cada vez mais espaço na cena cultural santa-mariense. “Quando o grupo se formou, eu vi que era muito sólido o trabalho. Trabalhamos muito duro pelo que queremos. Somos um grupo unido, porque um grupo de uma pessoa só não é um grupo”, conta André Galarça. A união entre os integrantes, combinada com o profissionalismo, fez com que o grupo de jovens artistas alçasse vôos mais altos e colhesse os frutos de sua incansável dedicação ao teatro.
Mesmo assim, o caminho para manter um grupo de teatro independente não é fácil. Foi preciso suar muito a camiseta e correr atrás das oportunidades. Junto com outros grupos de teatro independente de Santa Maria e com o Macondo Coletivo, formaram o Palco Fora do Eixo, uma iniciativa que promove, incentiva e difunde a cultura teatral em âmbito nacional. Graças a essas parcerias, o grupo conseguiu fazer apresentações em locais alternativos da cidade, como na Praça Saldanha Marinho, na Gare da Estação Férrea e nos bares São Francisco e Macondo Lugar. Outra iniciativa foi participar do Teatro Fora do Eixo, projeto coordenado pelo professor e coordenador do Curso de Artes Cênicas da UFSM, Pablo Canalles, com o intuito de levar os espetáculos produzidos dentro da sala de aula para outros espaços, a fim de que eles não fiquem restritos. As cortinas já estavam se abrindo.
É preciso enxergar os talentos pelos corredores das nossas universidades, em nossas cidades, em nosso país. É preciso abrir as cortinas para grupos de teatro universitário. É preciso se perguntar: teatro, por que não?
Tainan Pauli Tomazetti / Da hora

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