Dia do enxadrista: estratégia de vida

Valdir Dourado em entrevista à Agencia Da Hora. Foto: Manoella F. Fiebig.

“O xadrez é um mestre que fortalece o espírito e libera o sofrimento”, já dizia Albert Einstein, o mais memorável físico de todos os tempos. Além do gênio que criou a teoria da relatividade, existe um notável número de personalidades que reconhece a beleza e a importância do popular jogo dos Reis.

Marylin Monroe, que é até hoje um símbolo de sensualidade e um ícone de popularidade, jogava xadrez. Até o clássico Charlie Chaplin mexia as pecinhas nos bastidores dos seus famosos filmes. Saindo do cinema e entrando no rock and roll, podemos citar o ex-beatle John Lennon, que juntamente com sua esposa Yoko Ono, além de produzir música e lutar pela paz, praticavam o jogo-arte-ciência. Também o “camaleão do rock” David Bowie, o excêntrico músico folk Bob Dylan e o líder da banda The Police, Sting, já se sentaram à frente de um tabuleiro.

Por ser um jogo de estratégia, o xadrez conquistou vários líderes. Há dois séculos, Napoleão Bonaparte, que foi imperador da França e é considerado um dos maiores estrategistas militares de todos os tempos, jogava xadrez. Em 2011, pouco antes de Muammar Kadhafi levar um xeque-mate, isto é, ser morto em decorrência das revoltas contra sua hegemonia no poder da Líbia, o líder foi filmado enfrentando no tabuleiro o presidente russo da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), Kirsan Ilyumzhinov.

Aquele que vemos hoje estampado em camisetas foi líder revolucionário e, apesar de poucos saberem, enxadrista. Che Guevara aprendeu a jogar com o pai e a partir dos 12 anos começou a participar de torneios de xadrez. Sobre os benefícios do jogo, Che afirmava que “o xadrez é um passatempo, mas também um educador do raciocínio”.

Também com o pai, porém com menos idade, José Raul Capablanca aprendeu a jogar. Conhecido como “Mozart do xadrez”, por ter aprendido as regras do jogo aos quatro anos de idade, Capablanca foi campeão mundial entre 1921 e 1927. O cubano estaria completando hoje 123 anos e, por seu brilhantismo no mundo do xadrez, no dia 19 de novembro de todo ano, é comemorado o Dia do Enxadrista.

Em Frederico Westphalen, Valdir Dourado é pioneiro em projetos escolares envolvendo o xadrez, como o que está sendo realizado na Escola Estadual do Bairro Santo Inácio há dois anos com alunos de quinta à oitava série. Os professores dispensam os alunos interessados no xadrez durante o horário de aula. Atualmente 14 alunos participam do projeto, porém a maior dificuldade é contar com um grupo sólido, pois nem todos os alunos se interessam pela prática do xadrez. “Nos tempos modernos ninguém mais quer pensar, raciocinar. Isto é próprio da infância e da adolescência: a pressa”, afirma Valdir.

Valdir Dourado, aposentado de 67 anos, começou a exercer a prática do xadrez quando tinha 12 anos de idade enquanto estudava em um internato em Pelotas. Desde então passou a ter curiosidade sobre o mundo enxadrístico, a adquirir livros sobre o assunto e a estudar as estratégias e táticas de jogo. “Eu não quero que o meu raciocínio fique embotado com a idade, a minha intenção é manter o meu raciocínio ativo. Quando temos um desafio, a gente se sente muito à vontade para correspondê-lo, o que deixa a mente ativa”, declara o xadrezista acerca dos benefícios do jogo dos Reis.

O aposentado acredita que a juventude de hoje quer apenas derrubar o rei de imediato, sendo que a proposta do jogo é desenvolver o raciocínio, cultivar a perseverança e aprender a respeitar o adversário. Outro ponto que leva à falta de interesse pelo xadrez é o que nos conta o idealizador de projetos: “Os jovens querem praticar um esporte que tenha visibilidade: jogar vôlei, praticar dança, tocar na banda e outras formas de ocupação de espaço, querem plateia. E o xadrez exige concentração, silêncio”.

Xadrez na perspectiva de um jogador. Foto: Letícia Waldow.

Outra forma de praticar este esporte é o xadrez-postal ou xadrez-epistolar, que é jogado pelo correio. No nosso país, existe o Clube de Xadrez Epistolar Brasileiro, com sede localizada em São Paulo, fundada em 1969. No início do Clube, eram mais de dois mil sócios, hoje são apenas 248 membros ativos. Pelo regulamento, uma partida deve demorar no máximo um ano e meio. O participante faz uma jogada e manda a carta para o seu adversário, este então tem dois dias para pensar e responder o lance. “Com a chegada da internet, onde as coisas são mais rápidas, o xadrez-postal é algo que está acabando”, comenta Valdir, que é membro do Clube desde a sua fundação.

Rafael Soliman, funcionário público frederiquense, 24 anos, começou a praticar xadrez em Porto Alegre, no Parque da Redenção, quando tinha 12 anos de idade. Na época era preciso apostar uma Coca-Cola para poder enfrentar no tabuleiro as tribos de xadrezistas do Parque. Mais tarde passou a pesquisar sobre o assunto, a se interessar mais e estudar o xadrez. “Começou como um hobby que acabou virando esporte”, conta o jogador.

Rafael também fala sobre as vantagens de ser praticante do jogo: “O xadrez te permite estudar sozinho as jogadas, diferentemente de outros esportes, além de trazer vários benefícios como capacidade interpretativa, raciocínio lógico, engenharia comportamental, experiência de vida”.

Para ser praticante deste jogo-arte-ciência, não é necessário nenhum pré-requisito como classe social, cor, idade ou sexo. “O xadrez não tem barreiras culturais”, acrescenta Rafael Soliman.

 

Joana Schumann e Letícia Waldow / Da Hora

 

 

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