Um texto gonzo sobre o Vive La Résistance

Estava eu perdendo tempo no Facebook, quando me deparei com uma imagem que, por algum motivo, chamou minha atenção. O plano de fundo era vermelho, as letras das escritas eram amarelas. O destaque (fonte um pouco maior) era para a frase “Vive La Résistance”. Quando terminei de observar o cartaz, já havia notado o desenho de uma mão fechada mostrando força (résistance) e também compreendido (como não? estava tudo escrito!) que aquilo se tratava de um festival rock and roll que aconteceria na cidade.

A data não poderia ser melhor: os dois dias de festival coincidiriam com os shows do Michel Teló e do Luan Santana, respectivamente. Dessa forma, quem possuía como plano fugir para as montanhas nessa maldita data teria uma alternativa melhor que se esconder no mato. Foi meu primeiro pensamento e posicionamento ao compartilhar a imagem na internet.

Algum tempo depois, uma amiga da faculdade me mandou um convite para participar da página criada sobre o evento no Facebook. Lá pude observar elogios aos criadores do Vive e, inclusive, pude ver comentários sobre a organização. Notei o número de pessoas confirmando presença aumentando. Quanto mais próximo de tudo acontecer, maior a expectativa de todos.

Lembro que quando me contaram que a cerveja estaria a preço de custo, logo me veio à cabeça a música “Um lugar do caralho”, do Júpiter Maçã. Certamente teria um som legal, gente legal e, como já dito, cerveja barata.

Sexta-feira, dia cheio de compromissos acadêmicos, preocupação em tirar uma soneca para estar bem disposta na primeira noite do Vive La Résistance. Para chegar ao tal ginásio do Sersa, desconhecido por mim e muitos, era preciso conseguir uma carona. Milagrosamente, foi bem fácil. Duas amigas me ofereceram espaço no carro de seus cônjuges, portanto, até tive opção de escolha.

Chegando ao ginásio, ainda um pouco acanhados, eu e outros nos mantínhamos do lado de fora. Alguns conversavam, outros fumavam. Mas tentávamos observar o local de apresentação das bandas. “Seria dentro da quadra de futsal?”, “E aquela luz ligada? Muito claro!”. Enfim, encontramos coragem e entramos para a causa.

Curiosa, imediatamente procurei o palco. Ficava à esquerda da porta de entrada, em um salão de eventos. Lá estava escuro e o som era bastante alto. As paredes possuíam isolamento acústico, pois ao me direcionar para a copa, localizada à direita da porta de entrada, o volume baixava e a música se transformava em uma mera trilha de fundo em meio às vozes que se cumprimentavam.

Conversa vai, conversa vem… Um barulho de distorção de guitarra convida o público para o início da festa. A banda Fungus aqueceu a galera com o punk rock. A Datavenia quebrou tudo com o thrash metal. Por fim, a Cão de Saia tocou sons clássicos, alternativos e moderninhos do rock and roll. Confesso que não ouvi o conselho dos Mutantes e me perdi por aí, então não acompanhei muito dessa primeira noite de festival.

Relataram para mim sobre um ser alto, loiro, que vestia um sobretudo preto… Não vi! Mas fiquei com medo quando disseram que o moço mais parecia um segurança da KGB, que a qualquer momento puxaria suas armas e atiraria em todo mundo.

Melhor começar a falar logo da segunda noite. Ressaca pegando, o clima frio do sul também. A vontade era de ficar em casa tomando chá debaixo das cobertas. Mas o meu compromisso era com a resistência. Desta vez, sem carona, tive que me reunir com mais duas colegas de profissão para pegar um táxi. E como é custoso pegar um táxi nessa cidade! Ao menos compensava pelo pouco dinheiro que gastaríamos para nos divertir.

De volta ao ginásio do Sersa, alguns rostos conhecidos da noite anterior e outros bem novos (ou não lembrados). Inicialmente, estava com o espírito de velha ranzinza. Lembro de um diálogo mais ou menos assim:

– Porque meu siso dói!

– Bebe, Joana!

– Porque estou com sono!

– Bebe!

Foi o suficiente para eu misturar a ordem das coisas novamente. Não lembro qual banda tocou o quê. Sei que na noite de sábado se apresentaram a Tender Trio e a The Elizabeth’s, além de pessoas aleatórias. “Cherry Bomb”, das Runaways, e “Psycho Killer”, dos Talking Heads, foram cantadas em coro.

Quando tudo se transformou em carnaval, parei para assistir a essa cena: uma moça de jaqueta vermelha subiu no palco para cantar AC/DC. Atrás dela, o ex-namorado dançando no ritmo de “The Jack”. Tive que aplaudir a coreografia!

Com toda essa “inclusão musical”, o Vive La Résistance foi chegando ao fim. Já havia amanhecido e todos se retiravam do lugar esperando a segunda edição do festival.

E nessa história, sou o último homem de pé após uma maratona de bebedeira.

 

 

Joana Schumann / Da Hora

 

 

About Agência Da Hora