Cine Da Hora- Harry Potter e o evento de uma geração

Divulgação.

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Precisamente dois anos atrás, no dia 15 de julho de 2011, chegava aos cinemas do mundo todo o último filme da saga Harry Potter, “Harry Potter e as Relíquias da Morte- Parte II”. Encerrava assim a maior e mais rentável franquia cinematográfica da história. Os números de Harry Potter impressionam: somadas, as bilheterias dos oito filmes ultrapassam a marca dos 7 bilhões de dólares, e os livros venderam cerca de 400 milhões de exemplares, sendo traduzidos para 64 idiomas.

Para entendermos melhor esse fenômeno, voltamos ao ano de 1990. Uma mulher tomava um trem de Manchester com destino a Londres, com sorte encontrara um assento vago e, sentada na janela, uma ideia lhe veio à mente. Não tinha papel nem caneta no momento, de modo que só observou enquanto Harry tomava forma em sua consciência. J.K. Rowling nem sequer podia sonhar que aquilo mudaria a sua vida e a de milhões de pessoas.

Fazer uma criança de 10 anos deixar de lado os jogos eletrônicos e ler um livro com quase 300 páginas sem nenhuma ilustração já era uma grande marca, mas fazer crianças enfrentarem filas nas livrarias para o simples ato de apreciar um bom livro, foi algo que só Harry Potter conseguiu. Harry Potter abriu as portas para a literatura na vida de muitos jovens, que foram influenciados pela série a tomar gosto pela leitura e, nos intervalos entre um Harry Potter e outro, a buscar novos títulos.

Harry se tornou o amigo invisível de muitas pessoas, uma forma de fuga do real, de poder pelo menos por algumas horas entrar em mundo onde havia dragões, gigantes, feitiços, amizade e magia. Acompanhar a jornada épica e lendária do menino bruxo moldaria o caráter e os seus valores morais, e ajudaria a orientá-las pelo resto da vida.

À medida que Harry Potter crescia e enfrentava novos e mais perigosos desafios, os seus leitores cresciam junto com ele. Talvez este tenha sido o maior trunfo da série. Partindo do principio de que Harry tinha 11 anos no primeiro livro e envelheceu 1 ano a cada novo livro, uma criança que tivesse aproximadamente a mesma idade dele inicialmente continuaria a acompanhá-lo ao longo dos 9 anos de intervalo entre o primeiro e o último livro.

E tanto os livros como os filmes acompanharam esta evolução. Em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, primeiro título da série, tudo era mostrado com muita alegria, com a amizade de Harry com Rony e Hermione dando seus primeiros passos, tudo muito bonitinho e feliz, a fotografia em cores quentes, apresentando o castelo e a sua imensidão, um perfeito livro/filme infantil com uma excelente história. O que se diferencia muito de “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, onde o clima de guerra é instaurado, sacrifícios são feitos e personagens morrem em batalha, com uma fotografia fria e azulada beirando a fantasia dramática.

Harry Potter foi um marco, tanto na literatura quanto no cinema, e foi muito feliz por conseguir transitar entre essas duas mídias sem que nenhuma se sobressaísse à outra. Deste modo, não existiu nenhuma capa de livro com a foto de Daniel Radcliffe, ator que da vida a Harry no cinema, e nenhum pôster de filme com alguma referencia às capas de livros. O que a série fez foi tirar o melhor proveito possível dessas duas plataformas: um livro e um filme nunca eram lançados na mesma época do ano, o que deixava a franquia sempre em evidência na mídia.

Um fato que colaborou muito para o sucesso de Harry Potter sem dúvida foi a internet. Ambos praticamente “nasceram” na mesma época e viram a evolução um do outro. Os fãs, ávidos para terem com quem conversar sobre a série, e para aliviar a ansiedade do tempo de espera entre um livro e outro, recorriam à internet, que, embora ainda muito primitiva, possuía as funcionalidades necessárias. Desta forma, foram criados os “fandoms”, sites feitos por fãs para debaterem suas teorias e compartilharem suas mensagens sobre a série. O que ganhou muita força com o passar dos anos, a cada novo livro, que geralmente era devorado em apenas algumas horas. Os fãs corriam para os sites a fim de especular quais seriam os próximos passos e saberem a opinião de outras pessoas.

A facilidade de identificação era imediata. Todos nós frequentamos escolas, tivemos amigos inseparáveis, dificuldades de aceitação, professores bons e ruins. Agora, imaginem fazer tudo isso com magia… A geração que cresceu com Harry Potter acreditava que era possível, que por muito tempo esperou uma coruja chegar com sua carta de Hogwarts, que sonhava ir para a escola de trem, que queria jogar quadribol e fazer poções. Essa geração não leu e não assistiu Harry Potter, ela viveu Harry Potter, e isso só terá fim quando o último coração que acredita em magia parar de bater. Pode ter sido o fim de uma era, mas com certeza foi o começo de uma lenda.

 

 Marcelo Silva / Da Hora

 

 

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