De pai para filho

O esvaziamento do campo vem causando cada vez mais preocupação.

Nilton e sua esposa Célia mantêm alguns animais para consumo próprio. Foto: Julia Saggioratto

Nilton e sua esposa Célia mantêm alguns animais para consumo próprio. Foto: Julia Saggioratto

Uma situação que continua a preocupar a população brasileira é a falta de sucessores nas pequenas propriedades rurais do país. Um dos motivos que leva as pessoas a saírem do campo é a dificuldade em pequenas propriedades de ter qualidade de vida e renda satisfatória, como relata Marceli Milani, coordenadora do curso de Técnico Agrícola do Colégio Agrícola de Frederico Westphalen: “O pessoal acaba se iludindo porque, se tu tem pouca área, produz pouco e não faz bem, acaba ganhando muito pouco dinheiro”.

Tainara Daiprai, 17 anos, mora com a família em uma pequena propriedade no interior de Santa Catarina e diz que pretende dar continuidade ao trabalho dos pais se as condições melhorarem “Às vezes, quando dá uma seca, a gente precisa de ajuda.” Para Tainara, o campo é um lugar bom de viver, gerando menos gastos. “Quando você quer uma fruta, você pega direto do pé”.

Assim como Tainara, Carla Altíssimo, que cursa Engenharia Ambiental e por isso saiu de casa, também pretende voltar a morar na propriedade da família, apesar de possuir pouca área para sua profissão no campo. “Se eu tivesse a possibilidade de trabalhar numa cidade perto e que pudesse continuar morando lá, eu ia gostar de fazer isso”.

Nilton Piovesan, 60 anos, possui uma propriedade de seis hectares de terra, e diz que apenas com o que ele produz na sua propriedade teria como sobreviver, mas não geraria uma boa renda. Segundo ele, seus filhos pretendem manter a propriedade, porém, sem viver da lavoura, buscando fontes de renda fora. “Nós temos tudo aqui, mas não vivemos da lavoura, e a ideia deles é fazer a mesma coisa”.

Para Carine Meier, graduanda do terceiro semestre de Agronomia na UFSM, campus Frederico Westphalen, há uma grande desvalorização do trabalho no campo. “Os jovens não querem mais fazer o trabalho braçal. Diante disso, eles vão em busca de melhores condições de vida nos centros urbanos, onde encontram salários mais promissores e permanentes”.

O que já está sendo feito

Alunos aprendem a trabalhar com o portal agro, na disciplina de Cultura Regional. Foto: Julia Saggioratto

Alunos aprendem a trabalhar com o portal agronet, na disciplina de Cultura Regional. Foto: Julia Saggioratto

Algumas cooperativas oferecem cursos sobre Sucessão Familiar, orientando sobre como controlar o financeiro de uma propriedade e influenciando até mesmo em decisões importantes como a escolha do curso a seguir na faculdade, como relata Tainara: “Como no curso eles ensinam a cuidar do financeiro, eu penso em fazer Administração”.

O Colégio Agrícola de Frederico Westphalen vem dando grande incentivo aos jovens para que continuem trabalhando no campo. O curso de Técnico Agrícola prepara o jovem para que possa tanto seguir trabalhando na propriedade rural como seguir seus estudos em outra área. O curso fornece todas as disciplinas do ensino básico, além de disciplinas do ensino técnico. “A gente busca a formação acadêmica para que eles possam retornar para sua origem, sendo que a maioria vem do interior, e que possam fomentar a atividade que os pais deles trabalham ou que a região mais utiliza para desenvolver a região, temos o foco regional. Sem perder o foco daquele aluno que talvez não vá continuar na área agrícola e possa, então, desenvolver seus estudos em outra área”, afirma Marceli.

Para Marceli, o Colégio Agrícola ajuda a fixar o jovem no campo, pois dá o embasamento técnico para que ele consiga trabalhar em uma atividade e tenha renda satisfatória.

Segundo Milani, para a grande maioria das pessoas que saem do campo, o motivo é o trabalho pesado sem o devido retorno. “Tendo técnicas e ferramentas para poder desenvolver a atividade na propriedade, haverá um menor custo de produção e um melhor retorno, e isso estimula muito os jovens a voltarem”.

Como forma de incentivo aos produtores do campo, existem alguns programas financiados pelo Governo Federal, como relata Carine: “A linha de crédito rural, dentre eles o Pronaf, que é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, financia projetos individuais para tentar aumentar a renda da propriedade. É o programa que possui as menores taxas de juros de todos os créditos disponíveis no meio rural”. Segundo Meier, o Pronaf financia desde os investimentos para safra até maquinários, tentando assim aumentar a produção e gerar maior qualidade de vida ao produtor. Ela ainda afirma que, com um maior lucro, o produtor pode investir mais, beneficiando, consequentemente, a vida urbana, o que fecha um importante ciclo de produção que incentiva o camponês a se manter no campo. Para ela, a partir da pequena propriedade é que se gera a agricultura familiar que consegue suprir a demanda de alimentos de determinada região e ainda impede o monopólio de grandes extensões de terra, em que a maior parte da produção é exportada.

Julia Saggioratto / Da Hora

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