Novas testemunhas do Caso Bernardo são ouvidas em Frederico Westphalen

O desenrolar dos fatos relacionados ao caso Bernardo Boldrini ainda está longe de ter um fim. Na manhã desta quinta-feira, 18 de setembro, ocorreu mais uma audiência pública oitiva. Desta vez, por carta precatória, oito testemunhas foram ouvidas no Fórum de Frederico Westphalen pelo Juiz Jairo Cardoso Soares. A audiência teve início as 9h30min e contou com as presenças dos réus Edelvânia Wirganovicz e seu irmão, Evandro Wirganovicz.

Audiência Pública no Fórum de Fredeerico Westphalen. Foto: Maira Dill

Audiência Pública no Fórum de Fredeerico Westphalen. Foto: Maira Dill

A primeira testemunha a depor foi Ariane Cogo, ex-funcionária da farmácia de onde saiu o medicamento, que confirmou ter vendido o Midazolan para Edelvânia. Ela afirma que Edelvânia não estava sozinha quando foi à farmácia, mas não soube precisar se a outra pessoa era Graciele Ugulini. Ariane lembra que anotou os dados de Edelvânia do receituário e lhe entregou o medicamento.

Hermes José Vendrusculo, 54, dono de uma loja de ferragens, confirmou ter vendido a pá e a cavadeira utilizadas para a abertura da cova onde Bernardo foi enterrado. Segundo Hermes, Edelvânia foi acompanhada até a loja, porém a outra pessoa ficou parada na porta esperando-a. Lembrou detalhes do material comprado por ela, como a cor, formato e marca das ferramentas, sendo capaz de identificá-las quando viu as primeiras imagens do crime na televisão. Edelvânia teria comprado as ferramentas oferecidas pelo comerciante, sem questionar nada. Hermes ressaltou que Edelvânia não quis levar junto a nota fiscal de compra, deixando-a na loja.

Edelvânia Wirganovicz chega escoltada ao Fórum. Foto: Maira Dill

Edelvânia Wirganovicz chega escoltada ao Fórum. Foto: Maira Dill

Henrique Bossoni Quatrin, 25, empresário e dono de uma construtora, afirmou que Edelvânia havia entrado em uma espécie de financiamento de apartamentos na planta. Ele explicou que nesse programa o pagamento varia de acordo com a renda de cada um e que, no caso de Edelvânia, ela teria de dar uma entrada em 3 parcelas de R$ 6mil e o restante do pagamento seria efetuado ao receber o apartamento. Segundo Quatrin, Edelvânia pagou em outubro de 2013 o valor de R$ 6mil referente à primeira parcela e que em abril de 2014, pagou a segunda parcela, também no mesmo valor, em notas de R$50 e R$100. O valor total do apartamento seria de RS98mil. Henrique citou que Edelvânia pediu prorrogação do prazo para o pagamento da segunda parcela, que seria para janeiro, pagando-a assim em abril.

Valdecir Johan, dono de uma propriedade ao lado do local onde o corpo de Bernardo foi encontrado, relatou ter ido à sua terra, na companhia de seu funcionário Julio Cesar, para buscar uns pedaços de madeira que utilizaria na construção de uma casinha de bonecas para sua filha. Chegando no local, nos dias anteriores ao crime, por volta das 8h, disse ter estranhado o fato do chevette amarelo de Evandro estar estacionado ali, alegando nunca ter visto-o no local de carro. Em dúvida se era ou não o carro de Evandro, Johan, policial aposentado, anotou a placa do veículo e entrou em contato com a polícia para verificar a placa e constatou a propriedade do veículo. Ao ser questionado se viu Evandro supostamente pescando às margens do rio, Johan foi enfático ao dizer que não e que o rio não tinha condições de servir à pescaria naquele período pois estava baixo demais para abrigar peixes. Segundo Valdecir, Evandro tinha conhecimentos das condições inapropriadas do rio para a pesca e estranhou ele estar de carro, mesmo sendo tão próximo à casa de sua mãe, na propriedade vizinha a de Johan. Valdecir também lembra de ter visto Edelvânia no domingo, com sua sobrinha pequena sentadas às margens do rio, com os pés na agua e ter conversado com ela algumas rápidas palavras. Ele ressalta que a distância entre a cova onde o corpo foi encontrado e onde o carro de Evandro estava estacionado era de cerca de 40 metros e que o terreno era difícil de escavar pois tinha muitas raízes e a terra era dura.

Evandro Wirganovicz acompanhou a audiência. Foto: Maira Dill

Evandro Wirganovicz acompanhou a audiência. Foto: Maira Dill

Leandro Assis Brondani, vendedor em outra loja de agropecuária, contou que Edelvânia e uma outra mulher estiveram na loja em que trabalha e pediram o que era necessário para cavar um buraco. Ele lhes informou que ali não vendiam aquele tipo de material e lhes indicou uma loja de ferragens onde poderiam encontrar. Também disse que havia mais uma mulher com Edelvânia, mas não sabe afirmar se era Graciele, pois não a viu direito. Confrontado com a ré, ele não soube precisar se era mesmo Edelvânia quem havia estado na loja. Segundo ele, as duas teriam ido à loja entre os dias 1º e 4 de abril, por volta das 14h30min.

Julio Cesar Garcia, 33, funcionário de Valdecir Johan, afirmou que na quinta-feira antes do crime, foi até a casa de Valdecir na propriedade rural próxima a cova de Bernardo, para buscar madeira para a construção de uma casinha de bonecas, corroborando o depoimento de Johan. Confirmou ter visto o carro de Evandro próximo ao rio. Segundo ele, como estavam em dúvida, anotaram a placa e posteriormente confirmarem com a polícia. Tal como Johan, Julio Cesar confirma que Evandro nunca havia sido visto no local, muito menos de carro. Confirma também que o rio estava baixo e por essa razão seria inviável pescar ali, como Evandro alega ter feito.

Volnei Souza, 27, agricultor, contou que, na quinta-feira, dia 3 de abril, por volta das 10h30min, foi fechar uma porteira em sua propriedade próxima a de Valdecir Johan e avistou um Siena cinza que, inclusive, trancava-lhe o caminho. Mais tarde soube que seria de Edelvânia, a qual ele não conhecia. Segundo Volnei, o carro estava a cerca de 100 metros próximo à cova.

A última testemunha a depor foi Luciane Saldanha, 19, esposa de Evandro Wirganovicz. Luciane foi a testemunha mais aguardada do dia. Ao ingressar no salão do júri, Luciane se emocionou e precisou de alguns minutos para se recompor. Em diversos momentos entrou em contradição com o próprio depoimento prestado anteriormente para a Polícia Civil. Posteriormente Luciane disse ter sido pressionada pela polícia a dar as respostas que eles queriam. Segundo ela, lhe disseram que “era pra confessar que ele (Evandro) tinha aberto a cova senão ele ia pegar mais cadeia”. Disse ter sentido medo da polícia e vergonha do advogado, por esta razão não teria informado ninguém de que fora pressionada pelos policiais no depoimento. O advogado Hélio Sauer corrobora a fala de Luciane, garantindo que ela havia falado mais coisas do que realmente constava na lauda do depoimento, sugerindo que a polícia havia mudado a versão.

Edelvânia e o advogado Demétrio Grapiglia. Foto: Maira Dill

Edelvânia e o advogado Demétrio Grapiglia. Foto: Maira Dill

Logo no começo do depoimento ela nega a participação do marido no crime e tenta defende-lo das acusações. Ao falar sobre sua amizade com Edelvânia, ela diz que sempre foram amigas, se davam bem e se visitavam, mas que depois do fato, ficou “com raiva dela pelo que ela fez”. Questionada sobre o que seria esse “o que ela fez”, Luciane se deteve a baixar a cabeça e não responder. Mais uma vez perguntada sobre o que Edelvânia havia feito, ela, em voz baixa, responde: “de ter ajudado a outra nisso”.

Luciane conta que na quarta-feira (antes do crime), por volta das 11h ela, Evandro e os filhos foram para a casa da mãe de Evandro, situada próximo ao local onde o menino foi enterrado, e permaneceram lá até no outro dia. Segundo ela, Evandro foi pescar no final do dia por volta das 18h30min e retornou por volta das 21h. Ela alega não ter visto se ele havia trazido peixes pois já estava dormindo, mas que no dia seguinte viu peixes que supostamente ele teria pescado. Teriam voltado para casa, na cidade, no dia seguinte pois o carro apresentava problemas e precisaria ir para a oficina. Luciane lembra também que, ao comentarem com Edelvânia que teriam ido passar uns dias na casa da mãe, ela teria ficado nervosa e pálida e questionado o porquê de não a terem avisado que iriam pra lá. Garante que a cunhada teria condições de cavar um buraco sozinha pois era muito forte pra isso.

As próximas audiências seguem sendo oitivas com testemunhas arroladas pela acusação e defesa, posteriormente. Assim que todas forem ouvidas, iniciarão os depoimentos dos quatro réus do caso: Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz.

 

Kelin Ponciano e Maira Dill/ Da Hora

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