Resenha: Monsters Tour – Porto Alegre

30 de abril, quinta-feira véspera de feriado: a data tão esperada que reuniu três dos maiores veteranos da história do rock e heavy metal. Com seus quase setenta anos, Rob Halford, Ozzy Osbourne e Lemmy Kilmister deram as caras em Porto Alegre para o festival nomeado de Monster Tour. Quem não teve a oportunidade de ir para São Paulo conferir o Monsters of Rock, que rolou nos dias 25 e 26 de abril e reuniu 15 atrações, pode sentir o gostinho de um festival de peso na capital gaúcha. O Monsters Tour reuniu cerca de 16 mil pessoas no Estádio Passo D’Areia, mais conhecido como Zequinha. Passou também por Curitiba, no dia 28 de abril, e no dia 02 de maio Buenos Aires recebeu o festival.

Os três nomes já passaram por Porto Alegre antes. Motörhead veio ao Rio Grande do Sul em 2000 e 2004. Judas Priest tocou na capital em 2005, 2008 e em 2001 com a turnê Demolition, que tinha, porém, Tim Ripper Owens no vocal. Ozzy Osbourne veio em 2011 e, com a turnê Reunion, do Black Sabbath (confira a resenha aqui), em 2013.

11181574_834440743296703_3188007722530064251_n

A banda Zerodoze foi a responsável de abrir o festival / Foto: Diogo Nunes

A Zerodoze foi banda escolhida para abrir o festival. O trio tem sete anos de estrada, três discos lançados e fazem um som pesado com letras em português. Em 2012, abriram o show de Sebastian Bach e Slash. Faltando bastante para encher o estádio, a Zerodoze subiu ao palco uns dez minutos antes do previsto, que era 18h30min. Executando músicas próprias e também alguns covers, como Symphony of Destruction, do Megadeth, e Wrathchild, do Iron Maiden, o público recebeu a banda de forma calorosa, aplaudindo e cantando algumas músicas.

Motörhead

motor1

A clássica frase “Nós somos o Motörhead e tocamos rock and roll” inicia o show / Foto: Eduarda Wilhelm

Depois do cancelamento do show no Monsters of Rock, em São Paulo, devido à um distúrbio gástrico de Lemmy, os fãs ficaram um tanto apreensivos com o show de Porto Alegre. A ficha só caiu quando eles subiram ao palco e Lemmy proferiu a clássica frase que abre seus shows: “We are Motörhead and we play rock and roll” (Nós somos o Motörhead e tocamos rock and roll). O público foi ao delírio.

O show começou com Shoot You in the Back, seguido de Damage Case, Stay Clean e Metropolis. Nas primeiras músicas a plateia reagiu de forma morna, talvez devido ao estádio não estar cheio ainda e à muitos dos fãs da banda ainda estarem na fila tentando entrar. Antes de continuar o show com Over the Top, Lemmy procura levantar a plateia: “Nós somos só três e vamos fazer muito barulho. Vocês são centenas, quero ouvir dor!”.

10407986_834441103296667_7689865121917614464_n

Foto: Diogo Nunes

Depois de Over the Top, Lemmy anuncia Rock It. O baterista, Mikkey Dee, levanta e faz sinais para o público acordar e gritar. Antes de seguir com Do You Believe, música do último álbum da banda, Aftershock (2013), Lemmy diz que tocou ela mal no show de Curitiba e avisa: “Vou tentar não estragar tudo”. As próximas do setlist são Lost Woman Blues, Doctor Rock, em que Mikkey Dee fez um solo de bateria inacreditável, que levou o público a loucura e finalmente fez a empolgação do show voltar. O Motörhead seguiu com Going to Brazil e Ace of Spades, uma das músicas mais esperadas, anunciando o fim do espetáculo.

Após o público gritar em coro “Lemmy! Lemmy!”, a banda volta ao palco para a eletrizante Overkill. Lemmy, com seus 69 anos e um estilo de vida nada saudável, apesar de ter se perdido algumas vezes durante o show, deixa os fãs extremamente satisfeitos em prestigiar essa lenda da música. Sem frescuras e com uma apresentação crua, esse foi o show do Motörhead.

Judas Priest

judas5

Judas Priest foi um prato cheio para os fãs de heavy metal / Foto: Eduarda Wilhelm

Judas Priest foi um prato cheio para os fãs de heavy metal. Considerado por muitos o melhor show da noite, tecnicamente falando. Rob Halford adentrou o palco com um cetro, óculos escuro e figurino extravagante, que trocou praticamente a cada música. O show começou com Dragonaut, do disco mais recente Redeemer of Souls (2014), seguido de Metal Gods e Devil’s Child.

A atenção não se voltou apenas para Halford, o guitarrista Richie Faulkner roubava a cena com seu carisma, chegando a conversar durante as músicas com o público da grade, que pedia para ele jogar mais palhetas. O show segue com Victim of Changes, Halls of Valhalla, Turbo Lover, Redeemer of Souls e Jawbreaker, em um setlist que contempla o público com um pouco de cada fase da banda. “Vamos infringir essa lei agora!”, diz Rob, e todos sabem o que vem a seguir: Breaking in the Law, umas das mais conhecidas da banda, que fez o estádio inteiro cantar.

11079061_834444859962958_6551648264607580852_n

Foto: Diogo Nunes

O ponto mais performático do show foi quando Rob Halford entra no palco em uma Harley Davidson e um chicote de hipismo na boca, para em seguida tocar Hell Bent for Leather. No telão ao fundo do palco, imagens de motoqueiros e logos de motoclubes. A banda se retira do palco para então retornar para o bis, com Electric Eye. “Porto Alegre, vocês querem ouvir mais uma música? Qual?”, pergunta Rob Halford, o público responde sem hesitar: “Painkiller!”. Eles ainda tocaram Living After Midnight, agora sim para encerrar.

O show do Judas Priest se mostra um verdadeiro espetáculo. Nem os recursos utilizados para prolongar os agudos de Rob Halford tiraram o mérito de sua performance, que se mostrou impecável, assim como a do restante da banda.

Ozzy Osbourne

ozzy

Ozzy Osbourne mostra estar em boa forma / Foto: Eduarda Wilhelm

Quando Ozzy entrou no palco pulando, em uma cena até um tanto cômica, a reação do público não deixou dúvidas: esse era o grande show da noite. Bark at the Moon deu início aos trabalhos, que fez a plateia pular e cantar junto. Ozzy puxou uma mangueira de bombeiros e esguichou espuma nas primeiras fileiras do palco, o que o público adorou, apesar do frio que fazia. De repente, ele se empolgou e virou a mangueira no próprio rosto, em um momento de cumplicidade com o público.

O setlist foi uma mescla de sucessos da carreira solo de Ozzy, mas sem deixar de lado as músicas do Black Sabbath. O show seguiu com Mr. Crowley, acompanhado do “ô, ô, ô” na introdução com o teclado. Ozzy fez sinal para o público começar a cantar a música, que obedeceu e puxou o primeiro verso. Tocaram também Fairies Wear Boots, I Don’t Know, Suicide Solution (do Black Sabbath), Road to Nowhere, War Pigs e Shot in the Dark.

11204987_834445833296194_2409161328903594941_n

Foto: Diogo Nunes

Não contente com apenas a mangueira de espuma, Ozzy joga baldes de água na plateia e em si mesmo durante o show. Rat Salad puxou os solos de bateria e guitarra. Também fizeram parte do setlist Iron Man e I Don’t Want to Change the World. Antes de seguir com Crazy Train, Ozzy provoca: “Se vocês ficarem bem loucos, tocamos mais uma”. O bis ficou a cargo de Paranoid, mais uma do Black Sabbath.

Durante o show, Ozzy repetiu milhares de vezes “Let me see your fucking hands” (Deixe-me ver as mãos de vocês) e “I can’t fucking hear you” (Eu não consigo ouvir vocês), mandou beijinho, ajoelhou-se para referenciar o público… Era nítida a empolgação e felicidade estampada na cara do frontman, o que contagiou o público (ou vice-versa). Ele mostrou estar em ótima forma, melhor até do que nos shows anteriores na capital. A plateia retribuía, entoando em todas as pausas: “Ozzy, Ozzy, Ozzy!”.

Quando as luzes se apagaram no final do show, o público ficou ainda um bom tempo olhando para o palco e chamando seu nome, na esperança de que a banda retornasse. Mas após seis horas desde a abertura do festival, já estava na hora da despedida. Ao fundo, o som de Changes, dueto de Ozzy com sua filha Kelly, embala a saída do Zequinha.

Infraestrutura e organização

Pontualidade foi uma das características do Monsters Tour, não foi preciso uma espera exaustiva entre um show e outro, que começaram dentro do horário previsto (na verdade, alguns minutinhos antes). A qualidade do som também foi algo que impressionou o público presente. O Zequinha se mostra um excelente local para shows, permitindo uma boa audição e visibilidade em quase todos os pontos do Estádio, com o palco contando com dois telões laterais e um central.

Mas nem só coisas boas marcaram o festival…

11150723_834439849963459_2359443327576863787_n

Fila para o festival fazia a volta no estádio / Foto: Diogo Nunes

Os portões abriram às 17h30min, sendo que o show da banda de abertura começava às 18h30min, ou seja, era óbvio que seria impossível colocar 16 mil pessoas para dentro do estádio em apenas uma hora. A fila para a pista/arquibancada se estendia por diversas quadras, levando uns 15 minutos para percorrer toda ela. Resultado: muitas pessoas perderam boa parte do show do Motörhead. Por mais que a organização tenha tentado agilizar o acesso quando o show começou (muitos ingressos não foram conferidos e as pessoas não foram revistadas), a fila só foi se extinguir na hora do show do Judas Priest.

Os banheiros também foram um problema. Nas pistas, eles se localizavam em apenas um lado do estádio, o que tornava uma missão quase impossível para quem estava em um canto se deslocar até o outro lado por entre a multidão. Os banheiros químicos foram distribuídos de forma desigual nos setores, a pista premium contava com cerca de 40 unidades, enquanto a pista tinha apenas 25, sendo a quantidade de público muito maior, resultando em filas de 10 ou 20 minutos. Muitos não aguentaram e tiveram que fazer as necessidades em qualquer canto que encontraram.

Eduarda Wilhelm / Agência Da Hora

About Agência Da Hora