Mães Por Acaso

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência vai dos 12 aos 18 anos. A gravidez nessa fase traz para a vida dos pais uma série de desafios e aprendizados. Paula Zimmermann, de 19 anos, diz que já não dorme noites inteiras e, a todo lugar que vai, sempre tem a companhia de Julia, sua filha de 2 anos. Apesar da gravidez inesperada, ela conseguiu terminar o ensino médio sem complicações. “Consegui conciliar, sim, os estudos com o bebê. Eu estudava pouco para as provas, mas consegui terminar o ensino médio tranquilamente”.
Muitas vezes, a solução encontrada por jovens que engravidam é o aborto, assunto que gera muita polêmica. Segundo o site d’O Globo, o aborto é o quinto maior causador de mortes maternas no Brasil, sendo permitido apenas em alguns casos, e sua legalização vem sendo muito discutida nos últimos anos. Yasmin Marmitt Simão, também de 19 anos, engravidou aos 18 e diz que não pensou em fazer aborto. “Foi tudo tão rápido, descobri que estava grávida

Yasmin e seu filho Joaquim de 10 meses - Foto: Arquivo Pessoal

Yasmin e seu filho Joaquim de 10 meses – Foto: Arquivo Pessoal

em uma terça-feira, estava com umas oito semanas e alguns dias. Na quarta-feira fui consultar e na quinta fui fazer um ultrassom, pois ainda não estava acreditando que tudo isso estava acontecendo, achei que o teste de farmácia e de sangue poderiam estar errados. Depois que vi aquela coisinha que media 1,8 centímetros e, que, tão pequenino, seu coração batia tão forte, com tanta vontade de viver, nem o pensamento mais desumano me faria tirar a vida daquele ser tão indefeso e inocente, não poderia condenar a vida de alguém que não pediu pra vir ao mundo por descuido meu”.
A gravidez na adolescência não é desejada, na maioria das vezes, acontecendo em meio a outros planos. Os pais passam por momentos complicados e precisam dar seu jeito para se adaptar às circunstâncias que isto ocasiona. Yasmin conta que não foi fácil encarar esta situação tão cedo. Ela diz que as responsabilidades que vieram após o nascimento de seu filho Joaquim de 10 meses tiraram seu sono. “Pensava em como iria adaptar e encaixar um filho nas obrigações; estudar, trabalhar, subir na vida”. Ela ainda afirma que teve muita sorte em ter pessoas positivas ao seu lado lhe ajudando a ver que seu filho não era um empecilho e que poderia ter tudo aquilo que planejou antes da gravidez. “Só teria que ter um pouco de calma e saber dividir e viver os momentos, cada um a seu tempo”.

Preconceito
Além de todas as dificuldades relacionadas à gestação e responsabilidades em ser mãe, Yasmin conta que sentiu preconceito em olhares e comentários indelicados. “Muitas pessoas indelicadas me olhavam e faziam a seguinte pergunta: que idade tens? Assim que lhes respondia ‘tenho 18 anos’ recebia olhares estranhos e algumas pessoas argumentavam ‘nossa, tão novinha e já é mãe!?”. Yasmin frisou que a sociedade ainda tem muito preconceito com adolescentes grávidas, principalmente solteiras.
Em muitos casos o pai se exime das responsabilidades da criação do filho, deixando apenas para a mãe este papel. Aqueles que, pelo contrário, se mantêm ao lado da mãe, também passam por dificuldades e apreensões neste processo, como conta A. S., que chegou perto desta experiência aos 22 anos, porém, sua ex-namorada, com 19 anos na época, acabou sofrendo um aborto espontâneo. Ele conta que ficou feliz com a notícia, porém muito preocupado, pois não haviam planejado a gravidez. Após ter conhecimento de que iria ser pai, ele começou a fazer planos. “Fiz planos como fazer ou comprar uma casa, conseguir um emprego melhor para poder dar o melhor para meu filho que estava para vir ao mundo”.
Apesar de todas as dificuldades, a experiência de se tornar mãe e pai traz o amadurecimento e a passagem para a vida adulta. Yasmin relata como é sua experiência como mãe: “As dificuldades, preocupações, medos e tristezas somem e se confortam ao ver o doce sorriso do meu filho. A cada dia ele me ensina como amar e ser amada e que sou muito mais forte do que sonhava ser. Ele não foi planejado e nem chegou em uma hora propícia, mas compensa em todos os gestos”. Ela ainda colocou que a maternidade a transformou em uma pessoa melhor, uma mulher madura.
A sexualidade se transforma em tabu e delimita a informação que os adolescentes recebem. A adolescência é uma fase importante e a gravidez neste momento deve ser recebida com apoio da família, pois a segurança e a compreensão que ela pode proporcionar ao jovem que está gerindo uma vida são extremamente importantes diminuindo dificuldades de amamentação e o risco de depressão.

Julia Saggioratto / DaHora
Sabrina Ritter / DaHora

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