O que é a Páscoa?

Os diversos significados da Páscoa em um Brasil laico

Um dos dias mais importantes para os cristãos católicos é a comemoração da Páscoa, que celebra o desejo da vida nova e o amor pleno. No entanto, vivemos em um estado laico e, por isso, não podemos nos esquecer do restante das religiões. De acordo com o Censo Demográfico aplicado no ano de 2010, o número de católicos diminuiu e aumentou a quantidade de evangélicos, espíritas e pessoas sem religião. A maioria das designações religiosas pratica cultos e rituais nessa época do ano, mas as celebrações variam conforme os ensinamentos de cada crença.

Para os católicos, a Páscoa é a principal festa do cristianismo, na qual celebram a ressureição de Jesus Cristo, três dias depois de sua morte na cruz. O domingo pascoal finaliza a Semana Santa, que representa e relembra os últimos dias de Jesus na Terra.  O Padre Reneu Zortéa, da paróquia São Miguel Arcanjo, São Miguel do Oeste, fala da antiga e da nova Páscoa. A antiga, muito fortemente celebrada na vida do povo que vivia como escravo no Egito, como uma passagem para a terra prometida por Deus onde teriam filhos e bênçãos. Ele diz que esta passagem seria o símbolo do rompimento com o sistema de opressão vivido pelo povo, reconhecendo, desta forma, Deus presente nesta caminhada. Já a nova Páscoa, que hoje se celebra, é marcada pela vida, paixão, morte e ressureição de Jesus Cristo. A vitória da vida sobre a morte.

Para ele, é importante refletirmos sobre a boa notícia de que Jesus ressuscitou, o que reaviva a esperança da luta pela vida e a animação da fé para além das estruturas de morte da sociedade, das injustiças, das guerras, do pecado. Ele afirma que neste momento reanima-se a esperança de que é possível construir uma outra sociedade sem maldades e desgraças.

Reneu ainda argumenta sobre o símbolo da Páscoa para a religião católica que, segundo ele, não é o coelhinho, o qual é, na verdade, o símbolo do mercado, assim como o papai Noel. “O grande símbolo que nós adotamos na Páscoa é o Cristo ressuscitado. Ele é o símbolo de Deus, é o sinal de Deus vivo feito criança, Deus numa estrebaria de Nazaré. Ele viveu essa condição humana, assumiu a realidade, a dor do órfão, do pobre, se fez libertação”.

Líbera Boff, ministra da comunidade Divino Espírito Santo, também da Paróquia São Miguel Arcanjo, diz que a Páscoa, além de vida nova, é a vida junto com Cristo ressuscitado. Uma experiência bonita de muita fé e conversão.

Rosane Weissheimer, presidente do centro espírita Seara da Fé, e Lúcia Muller, coordenadora da Evangelização do centro – Foto: Julia Saggioratto

Já o espiritismo não comemora a Páscoa, é um dia normal como outro, porém compartilham o valor do simbolismo representado. Para os espíritas, a ressurreição de Cristo representa a vitória sobre a morte do corpo físico e afirma a imortalidade e a sobrevivência do Espírito em outra dimensão da vida. A presidente do centro espírita Seara da Fé de São Miguel do Oeste, Rosane Weissheimer, diz que apesar de a religião espírita não comemorar esta data, ela pode servir para nos lembrarmos de que a morte não existe, pois Cristo reencarnou e voltou como prova de que voltamos para o mundo espiritual e depois reencarnamos. Ela menciona a reflexão que se deve fazer neste momento, não como uma festa com ovos de chocolate mais voltado para o comércio e para o consumismo do que para as lições de vida, de ética e de moral que Cristo nos deixou através de parábolas e com ensinamentos que ficarão presentes para sempre.

Os cristãos que se denominam Testemunhas de Jeová também não comemoram a Páscoa, mas sim a morte de Cristo, considerando a entrega voluntária de sua vida para salvar a humanidade um ato de amor único. Neusa Maria Ritter, 50, participante do Salão do Reino dos Testemunhas de Jeová de Três Passos – RS, diz “ nós levamos em consideração à última ceia de Jesus, na qual ele deu a vida para salvar a população. Não temos Semana Santa e nem nos privamos de comer carne vermelha.” Durante o culto de comemoração da morte de Cristo são destacados os atos de amor de Jeová e de Jesus e como estes beneficiam a humanidade escravizada ao pecado.

Karine Dorigon, vice-diretora do Clube dos Aventureiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, interpreta a Páscoa como “reavivamento”, um dia para agradecer e acreditar no quanto Deus nos ama, não para comemorar e sim refletir.

Religiosos ou não, todos nós sentimos os efeitos da Páscoa. Para aqueles que não seguem nenhuma religião, como Vinícius Duarte, ateu, a Páscoa é marcada pelo consumismo e comercialização de produtos, desde os ovos de chocolate até o peixe vendido na feira.

Julia Saggioratto / Da Hora

Sabrina Ritter / Da Hora

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