Praticando a Inclusão

Quando citada a palavra favela, as pessoas tendem a associá-la com casas amontoadas e humildes, localizadas ao redor das grandes metrópoles. No entanto, em cidades pequenas como Frederico Westphalen também é possível encontrar este tipo de realidade. Visando a necessidade de dar espaço, voz e oportunidades para os moradores das favelas de Frederico Westphalen, a Central Única das Favelas (CUFA) vem conquistando e ampliando seu espaço nas comunidades frederiquenses desde 2008.
A CUFA de Frederico Westphalen não atua somente no município. Através de parcerias, a organização está presente também em Iraí,  Alpestre, Caiçara e  Palmitinho, onde ocorrem diversas oficinas que procuram levar o esporte e a cultura para esses locais, onde o acesso é mais escasso.
Dentre as oficinas oferecidas pela CUFA, – taekwondo, música, circo, capoeira e teatro –  se destaca o taekwondo que foi o passo inicial para o trabalho que vem se desenvolvendo até hoje.
Indicada para todos os públicos, a arte milenar taekwondo prega a antiviolência e ensina princípios de disciplina. A prática proporciona uma melhor qualidade de vida, trazendo para o indivíduo diversos benefícios ao condicionamento físico, como a otimização do desempenho cardiovascular, aumento da flexibilidade do corpo, bem como a resistência física.
Em Frederico Westphalen e região, essa modalidade geralmente é encontrada em academias particulares, o que dificulta o acesso por grande parte da população. Entretanto, a CUFA/FW proporciona aulas gratuitas em escolas públicas nas cidades de Alpestre, Caiçara e Palmitinho, trazendo aos participantes todas as regras, práticas e técnicas do esporte. Em breve a cidade de Vista Alegre também receberá a oficina, totalizando cerca de 400 alunos.
As aulas ministradas pelo professor Roberto Torres Junior, faixa preta 3º dan, já ocorrem há dez anos. Tais ações originaram a ONG por meio do Projeto Transformando Atletas em Cidadãos. Posteriormente, Manoel Soares, coordenador da CUFA/RS, propôs a fundação da organização no município.
Com participantes de várias idades, as crianças tem a oportunidade de praticar uma atividade física e ainda desenvolver princípios e valores que serão fundamentais para o resto da vida, como disciplina, respeito e responsabilidade.
Em meio a uma aula dinâmica, divertida e educativa, o monitor Alan Silveira, 23 anos, procura intercalar técnica com brincadeiras, pois considera as mesmas uma forma de aquecimento e descontração, itens essenciais para o bom andamento das aulas. Alan comenta que é praticante de taekwondo há dois anos e diz que o mesmo pode

Alan Silveira ensina movimentos às crianças (Foto: Julia Saggioratto)

Alan Silveira ensina movimentos às crianças (Foto: Julia Saggioratto)

revolucionar vidas, além disso, menciona a importância do esporte para as crianças “a gente tenta passar lições de respeito para as crianças terem bons modos em casa, porque bons modos servem para todos os lugares”. O monitor ainda frisa que a prática da arte marcial deve ser exercida em sua plenitude no sentido de não incentivar a violência: “Enquanto eles estão comigo, estão focados, querendo aprender, o trabalho que eu faço é para que se reflita em casa, se reflita na rua, que eles aprendam o bom da coisa, não o ruim”. Alan reflete sobre sua motivação para seguir como educador: “A gente procura transformar o cidadão em atleta que possui responsabilidade, ser um atleta de cabeça, pois não adianta ser um atleta que só sabe chutar e dar soco tem que saber ter responsabilidades e respeito”, concluiu.
Marieli Zavareze, 13 anos, diz que gosta da oficina e pratica taekwondo há cinco. Conta que já está na faixa laranja e pretende seguir dentro do esporte, afirmando que seu desempenho na escola melhorou. Lucas Stefanello, 9 anos, faixa branca, participa há um ano e diz que gostaria de competir em torneios.
As praticas esportivas são de grande importância na construção da cidadania, nas relações interpessoais, bem como eliminar desigualdades sociais, integrar diversos gêneros, classes, entre outras diferenças. É necessário utilizar o esporte como um aliado em intervenções positivas, entendendo-o como uma ferramenta de inclusão.
Desde março deste ano, em uma nova iniciativa, a CUFA desenvolve a oficina de Teatro. O teatro se manifesta na sociedade há mais de 4500 anos e até hoje exibe sua grandiosidade e seu papel social. Dentre os benefícios que esta arte proporciona para quem a pratica, o aumento da autoestima e a melhoria na habilidade de se relacionar com os outros demonstram a importância de desenvolvermos esse tipo de atividade.
Crianças e jovens encontram no teatro uma experiência que pode auxiliar na sua formação. A oficina oferecida pela CUFA é coordenada por Alisson Bonotto e é realizada na Escola Nossa Senhora de Fátima, atendendo cerca de 80 alunos atualmente.
Para Alisson, além de ser uma atividade que ocupa o tempo e a mente das crianças, ela lhes ajuda a se expressarem melhor, contribuindo para sua formação social. “Não é só criar atores de palco, é criar atores sociais para que um dia eles possam fazer diferença”.

Professor Alisson revisa texto com alunos (Foto: Sabrina Ritter)

Professor Alisson revisa texto com alunos (Foto: Sabrina Ritter)

Ele ainda afirma que nota bastante mudança desde as primeiras aulas, não só na desinibição como na desenvoltura e que está conseguindo conquistar a confiança das crianças e dos pais, que apoiam e elogiam seu trabalho.
Bruno Pereira, de 13 anos, participa das atividades da CUFA desde o ano passado e, quando a oficina de teatro iniciou na sua escola, decidiu que iria participar, pois comenta que é importante, lhe ajudando em sua timidez. Ele ainda conta que para decorar suas falas lê bastante e depois pratica em voz alta. Bruno afirma que o professor Alisson lhe ajudará a realizar seu sonho de trabalhar no teatro.
Poder fazer diferença na vida das crianças, repassando seu conhecimento, é a principal motivação do professor para dar aulas de teatro, que é sua paixão. Nessa arte, as crianças podem ser quem quiserem, imaginar e construir o mundo que lhes convêm. São incentivadas a descobrirem a si próprios e à arte como ferramenta que desenvolve a emoção, a personalidade e a cidadania.
Criando novas oportunidades para pessoas de comunidades carentes, impulsionando projetos para a prevenção de drogas e incentivo ao esporte cultura e arte, ao ser questionado sobre qual seria a palavra que melhor definiria a CUFA, Junior Torres, presidente da ONG, respondeu: “Eu acho que é acreditar, é isso, o principal de tudo. A gente sempre acreditou em tudo o que fez e mesmo com as pessoas dizendo que é fácil, não é fácil não. Já são oito anos ralando e se ninguém acreditasse, nada disso teria sido possível”.
Julia Saggioratto/DA HORA
Sabrina Ritter/ DA HORA

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