Duas mãos por quatro patas

O abandono e as adoções na visão de uma entidade em prol da vida, heróis sem máscara surgem para auxiliar os animais sem proteção

Quando a grande questão que impede indivíduos de terem animais é ter que lhes dar água, comida, um cantinho protegido para dormir e, quiçá, um pouco de carinho, percebemos um sério e inaceitável problema social no país. Parece que algumas pessoas deixam sua humanidade de lado e, além de abandonar, cometem atos tão cruéis, que nos custa acreditar. Em contrapartida, grupos de pessoas sensibilizadas com essa realidade detestável organizam entidades em prol desses animais, dando-os voz e também o seu máximo, propagando a ideia de cuidados com o próximo. Graças aos frederiquenses privilegiados com tais qualidades, Frederico Westphalen conta com uma dessas.

Brechó beneficente realizado pela AMAA

Brechó beneficente realizado pela AMAA (Foto: Rosiane Zanovello)

A pioneira na ideia da criação da Associação dos Melhores Amigos dos Animais (AMAA) foi Sônia Salete Paim, consequentemente presidenta da entidade. A população frederiquense teve papel especial no processo, visto que se reuniu na Câmara de Vereadores da cidade de Frederico Westphalen no dia 15 de Abril de 2010, sensibilizada com o grande número de animais abandonados. A ação da comunidade era a única solução posto que o poder público não agia a respeito desses animais e por isso, apoiou o projeto. O papel planejado para a AMAA era realizar castrações e, em especial, conscientizar sobre as consequências do abandono daqueles que não aprenderam a se virar sozinhos. Desde então, a entidade funciona sem depender de verbas Públicas, salvando inúmeros animais de situações desesperadoras, além de realizar castrações controlar a reprodução da população animal.

Segundo pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde, no Brasil existe mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães.  Nas grandes cidades do país, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% estão abandonados. No interior, esse número não chega a ser muito diferente. No período de férias, entre novembro e fevereiro, a quantidade de animais abandonados aumenta em até 70%.

A AMAA não possui nenhum apoio governamental nem de nenhuma empresa para manter esses animais, comprar ração e realizar as cirurgias e tratamentos necessários. Sua maior fonte de lucro são verbas arrecadadas com brechós, rifas, venda de calendários, e claro, as doações. Contudo, aqueles que impulsionam o trabalho da entidade, realizando divulgações, organizando arrecadações e, em especial, cuidando temporariamente ou permanentemente dos animais são os Voluntários.

A voluntária da AMAA, Priscila Maria Krodi dos Santos, conta que conheceu a entidade ainda em seu processo de surgimento, por meio de anúncios realizados pela própria população e desde então, participa. Assim como muitos, Priscila sempre gostou de animais e tentava colaborar individualmente com eles – inclusive, ela possui quinze cães, todos adotados –, mas a existência da ONG abriu novas possibilidades: “Trabalhando juntas as pessoas somam esforços e conseguem resultados maiores”.

Atualmente, a AMAA conta com cinquenta voluntários no papel, mas ativos, no máximo dez. destes dez, apenas metade são frequentes, outra metade não frequente e alguns dos quarenta restantes no papel realizam colaborações ocasionais.  Todos estes, todavia, possuem papel fundamental na vida dos animais.

Caio e Priscila com seus cães adotados (Foto: Júlia Caroline Geib)

Caio e Priscila com seus cães adotados (Foto: Júlia Caroline Geib)

Para a voluntária Priscila, muitas pessoas ainda não tem a responsabilidade de entender que um animal é uma vida e não um objeto. No primeiro problema causado pelo animal, ao invés de irem atrás de um veterinário ou outra solução, as pessoas o jogam na rua, como se descartável. Afinal, o que representa ter um animal em casa? É algo tão supérfluo assim? Ao adquirirmos um animal, estamos possivelmente dando inicio a uma relação de possíveis 10, 15, até 20 anos. Educa-lo e protege-lo, além dos mantimentos básicos, é fundamental. Entende-lo como sendo um animal e não um ser humano racional é um grande problema para muitas pessoas. Ficar doente, latir demais, defecar em lugares inapropriados, brigar, morder, arranhar faz parte do instinto natural das espécies, mas por ser problematizador, costuma resultar no abandono.

O atual coordenador da AMAA, Caio Eduardo Messora Bagnolo, explica que a realização das castrações e demais cuidados dependem da quantidade de dinheiro que há no caixa. A AMAA tenta ajudar dando o máximo que pode. O grupo da prioridade aos animais mais doentes ou de pessoas mais humildes, que normalmente aparecem nas casas e passam a serem cuidados, mesmo com poucas condições. Curioso é que algumas pessoas, mesmo com condições, pedem o auxílio da organização, sabendo que há mais animais precisando. “Na verdade, eles não ajudam porque não querem”.

Posto que a AMAA não possui sede física, os voluntários cedem suas casas como lar temporário – por vezes permanente – até a possível adoção, preocupando-se com o tratamento, fornecendo alimentação necessária e, em especial, dando-lhes algo que, provavelmente, nunca tiveram. Carinho. Caio ressalta também que o objetivo não é simplesmente recolher os animais da rua, mas conscientizar as pessoas do erro que é o abandono e da importância da ajuda e colaboração de cada indivíduo.

Caio também comenta sobre como aparentemente funciona o pensamento das pessoas nessas questões: “Se me dá ganho eu seguro, se ele me dá despesa eu dispenso. Se uma cadela dá seis filhotes, ou eles matam ou eles abandonam, porque do contrário, gerará despesas. Então, a principal questão é a monetária. A outra questão é que as pessoas simplesmente se mudam e não querem levar o cachorro, e resolver o colocar na rua. Eles acham que é igual passarinho, que voa e encontra comida, mas não, um cachorro não consegue caçar na cidade.”.

Xerife, cão adotado por Patrícia, em seu antes e depois (Foto: Divulgação)

Xerife, cão adotado por Patrícia, em seu antes e depois (Foto: Divulgação)

Patrícia Valduga, acadêmica de Psicologia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), conta que ao interessar-se em adotar, procurou na Fan Page da AMAA e entrou em contato. Tempos depois, a  entidade contatou Patrícia avisando que já havia um cão disponível, mas que estava ferido e recebendo atendimento veterinário após o abandono. Para ela “adotar vai além de simplesmente resgatar o animal de algum lugar impróprio para sua sobrevivência, mas dar atenção e carinho, uma vez que eles também têm necessidades de amar e de serem amados.”.

Os animais são os melhores amigos dos homens, mas quem são os melhores amigos dos animais?

Para quem quiser contatar a AMAA, a fim de adotar, realizar doações, tornar-se voluntário ou adquirir qualquer informação, ela possui sua página no Facebook, site e E-mail amaa_fw@hotmail.com.

Júlia Caroline Geib/Da Hora

Rosiane Zanovello/Da Hora

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