MMA: Muito mais que uma luta

Criado no Brasil, o MMA já viveu seu auge de popularidade e agora tenta se manter em evidência na região com foco na atividade física, possibilitando aos praticantes uma vida mais saudável.

O Brasil é o “país do futebol”. Apesar do histórico recente da Seleção Brasileira não empolgar, a maioria da população nacional é apaixonada pela prática futebolística e divide seus afazeres do dia a dia em assistir partidas e/ou “jogar uma bolinha” com os amigos e colegas de profissão. No entanto, o insucesso da representação canarinho tem feito os desportistas criarem gosto também por outros esportes, entre eles o MMA – que de maneira avassaladora aumentou o número de adeptos, especialmente após a grande atenção dada as lutas do UFC (principal organização do esporte no mundo).

De origem brasileira, conhecidas pela sigla MMA (do inglês: mixed martial arts), as artes marciais mistas é um estilo de luta que inclui tanto golpes de combate em pé quanto técnica de luta no chão, sendo uma adaptação do praticamente extinto “vale tudo”.  Uma variedade de técnicas permitidas de artes marciais é utilizada na modalidade, além de técnicas de imobilização. A variedade de possibilidades que a modalidade possibilita, torna o MMA atrativo para os lutadores e público, tanto que conquistou o mundo inteiro e tem sua maior concentração estrutural nos Estados Unidos.

Apesar de criado no Brasil, a elitização do esporte está em solo americano, pois lá estão concentrados as maiores organizações e investidores, assim como os lutadores e equipes de ponta, porém, diga-se de passagem, recheadas de brasileiros. A nível mundial, dificilmente um lutador de MMA consegue ser formado em nossas terras, mesmo que haja algumas raras exceções, principalmente em pólos como Curitiba e no eixo Rio-São Paulo, onde estão instaladas equipes bem estruturadas e ocorrem os eventos mais bem reconhecidos do país. Embora o cenário seja negativo, a modalidade esportiva de maior crescimento mundialmente nos últimos anos está presente também em Frederico Westphalen.

Praticado em Frederico Westphalen, MMA reúne simpatizantes de diversas artes marciais (Foto: Ícaro Fröhlich)

Praticado em Frederico Westphalen, MMA reúne simpatizantes de diversas artes marciais (Foto: Ícaro Fröhlich)

Um dos pioneiros do esporte no município, André da Costa é o responsável pela única academia de MMA existente em Frederico Westphalen. Sobrinho, como é popularmente conhecido, pratica o esporte à aproximadamente oito anos e em seu cartel de lutas oficiais acumula sete vitórias em onze disputadas. Para ele, a abertura da academia ao público ocorreu em decorrência de atender a curiosidade de interessados.

– Passei a praticar o MMA juntamente com mais três amigos e, depois de ficarmos sem treinador, alugamos uma “salinha” para treinarmos. Não demorou e o público passou a se interessar e acompanhar aos treinamentos, sendo que a academia foi aberta objetivando atender a curiosidade dos que desejavam conhecer mais afundo a modalidade. Isto se deu em 2008 – disse, em conversa com a reportagem da Da Hora.

Na medida em que foi se tornando popular em todo o Brasil, o MMA ganhou espaço no Rio Grande do Sul e os eventos tornaram-se comuns, tanto que três de grande sucesso foram realizados em Frederico Westphalen, em 2008, 2012 e 2013. Apesar da ótima aceitação e existir inúmeros pedidos para que novas lutas oficiais voltem a acontecer no município, Sobrinho explica que o alto custo torna-se a realização de outros eventos praticamente impossível.

– É muito complicado novos eventos ocorrerem aqui. Não é por desinteresse nosso, dos empresários e da comunidade, mas sim devido ao alto custo que um evento de MMA exige. Além de aluguel de local, existem inúmeros gastos com as organizações responsáveis, estrutura, divulgação, lutadores e equipes. Organizar um evento de MMA custa mais de 40 mil reais e, nas condições atuais, se torna impossível arrecadar tanto em “época de crise”, principalmente numa região onde o potencial financeiro é incomparável ao dos grandes pólos – lamentou.

Entre pausas, olhares e passagem de instruções aos alunos, Sobrinho não esconde o amor pelo esporte e sua condição de professor, mesmo que lamente que o auge do MMA já tenha passado.

– Exceto o futebol, todos os esportes no Brasil possuem seus momentos de ápice. Infelizmente o do MMA já passou, foi tudo muito rápido. Em cerca de poucos anos tornou-se um dos esportes mais populares do mundo e isso foi sentido também em Frederico Westphalen, tanto que teve uma época onde a academia estava completamente cheia, sem espaço pra mais ninguém, no entanto sabíamos que era uma febre passageira. Foi importante o crescimento maçante do MMA entre 2012 e 2013, mas procuramos não se iludir. Temos muito mais alunos que no início e menos do que no “auge”. Enquanto um entra, outro sai. Não projeto uma nova explosão de crescimento, a tendência é permanecer nesta média – comentou, fazendo questão de exaltar o grande número de mulheres que são alunas da academia.

Lutador à oito anos, Sobrinho concedeu entrevista ao repórter Ed Andreick (Foto: Ícaro Fröhlich)

Lutador à oito anos, Sobrinho concedeu entrevista ao repórter Ed Andreick (Foto: Ícaro Fröhlich)

Como o MMA não é considerado um esporte olímpico, os recursos de entidades públicas tornam-se impossíveis. Para organização de algum evento esporádico pode até se conseguir apoio, mas são raros os casos que o MMA receba um verdadeiro incentivo, o que é insuficiente para desmotivar Sobrinho. Questionado se as artes marciais mistas existem no município, ele não titubeia em provar que sim.

– O MMA existe sim em Frederico, a academia é a maior prova, porém não se trata de algo público. Apesar de todos poderem praticar, não se pode assim fazer naturalmente em qualquer lugar, na praça ou em casa por exemplo. Tem-se a necessidade de um acompanhamento e da utilização de equipamentos, como luva e protetor bucal, além de um local específico. A academia é a maior prova que o MMA existe, mas apenas aqui dentro – explicou.

A única academia frederiquense possui cerca de 90 alunos frequentes, tendo idade mínima de 13 anos. Além da prática das artes marciais mistas, os alunos também possuem a sua disposição treinamentos físicos por meio das atividades da modalidade, possibilitando um maior condicionamento da saúde dos praticantes, sendo esta a maior razão da existência do esporte na nossa região.

– Não desejamos preparar lutadores, pois o instinto de cada aluno dirá se ele será um lutador. A maioria dos nossos alunos estão aqui como passatempo e para conhecer nosso esporte, sendo também um uma nova forma de praticar atividade física e cuida da saúde. Auxiliar na condição física e proporcionar saúde aos nossos alunos é o principal objetivo, assim como contribuir na educação dos mais jovens – concluiu Sobrinho, entre aplausos, sorrisos e cumprimentos de “até logo” a cada aluno que encerrava suas atividades.

De desconhecido para febre mundial, o MMA ainda divide opiniões. Assim como a maioria dos esportes, as dificuldades são inúmeras em qualquer canto do Brasil. Enquanto muitos imaginam uma realidade, poucos sabem a real condição dos envolvidos numa modalidade que se mantém apesar dos contínuos altos e baixos. Os sorrisos escancarados de cada aluno em meio às desgastantes atividades físicas são como um inapelável nocaute contra os críticos que insistem em considerar as artes marciais mistas um ato de selvageria, sendo que a grande verdade apresenta o contrário, pois a integridade física de cada praticante é tão importante quanto ao espírito esportivo. Que diga Sobrinho, que além de se preocupar com sua vida profissional e familiar, encontra um tempo de seu dia para praticar a principal das artes: a ARTE DE ENSINAR.

Ed Andreick Wisniewski / Da Hora

Ícaro Fröhlich / Da Hora

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