Voar, explorar os céus, sentir o gosto de liberdade lá de cima, atravessar as barreiras do tempo, contemplando o que não se vê em terra firme. Desvendar a natureza em sua beleza e imensidão. Mas fiquem tranquilos, as nuvens não atrapalham, elas só fazem parte da decoração, é como sentir a delicadeza de um doce algodão.
O limite é literalmente o céu, a chegada torna-se mais rápida, o tempo não se perde pelo caminho e o sonho é ultrapassar as torres da igreja que arranham o azul.
As mãos tremem, o coração dispara, mas quando se contempla a grandeza e a magnitude do infinito, o gosto pela vida torna-se sem limites.
O Design superior da cidade bela, vista do alto, é confortável aos olhos e nos faz sentir como pássaros, livres, em outra esfera.
Muitos desconhecem a existência, mas ele está lá. O espaço é exatamente proporcional ao tamanho da cidade. E a história começa a ser contada agora.
Primórdios
Antes mesmo de ser município, Frederico Westphalen, já era solo portador de um Aeroclube. Durante a colonização da região, no ano de 1951, houve a fundação do Aeroclube intitulado Leonel de Moura Brizola, em homenagem ao primeiro sócio fundador e um dos políticos brasileiros mais renomados. Brizola era também Presidente da Federação dos Aeroclubes do estado do Rio Grande do Sul. Sua inspiração reuniu um grupo de amigos apaixonados pela aviação, que formou uma sociedade para a execução do plano.
Jayme Locatelli, que é advogado e também um dos sócios fundadores na sociedade Aeroclube conta que tudo começou com a realização de uma pista de 550m de comprimento. As terras foram cedidas pelo poder público. A ideia era garantir viagens mais curtas para outros lugares com a finalidade de poupar tempo. E o primeiro avião a pousar em solo frederiquense foi o de Brizola.
O Aeroclube surgiu como forma de apoio e incentivo para muitos pilotos que sonhavam voar, todavia não tinham espaço para pouso na cidade. O primeiro presidente da associação foi Giácomo Librelotto, também um dos sócios fundadores, já falecido, que deu início à primeira escola de pilotos da região, de nível profissionalizante, integrada ao Aeroclube. Os primeiros instrutores da escola vinham de outras cidades para dar aula, e o primeiro instrutor formado do município foi José Coelho de Oliveira, que posteriormente buscou formação como instrutor em Santa Maria.
José foi instrutor de muitos pilotos residentes em Frederico Westphalen. Dentre eles, Jayme Locatelli e Pedro Locatelli, que são sócios e fazem parte da diretoria desde 1960. De acordo com Jayme, a escola integrada pela associação foi um sucesso e formou mais de 200 pilotos, tendo a primeira turma instruída de pilotos profissionais em 1956.
Na década de 1970 a pista foi ampliada para 900 metros, fato que garantiu mais segurança e a possibilidade de pouso para aviões de porte um pouco maior. Jayme Locatelli, mesmo com várias tarefas diárias, reservou, com muito bom humor e delicadeza, um pequeno espaço de tempo para contar que o Aero Clube faz parte de sua família desde menino. A inspiração veio de seu pai e foi passando de geração em geração. Hoje, seus dois filhos, sendo um deles, piloto profissional, também carregam essa paixão de ganhar os ares com a aviação.
A comemoração de voar pela primeira vez foi de uma forma diferente. Jayme tomou um banho de óleo de seu pai e de seu instrutor, quando realizou seu primeiro voou solo.
O Planador
O grupo de amigos compartilhava do mesmo sonho e as aventuras eram sem limites, visto que, na década de 1960, os sócios resolveram desenvolver um experimento, a partir de um projeto vindo da Alemanha e muito inusitado, diga-se de passagem, pois chamou a atenção de toda a população: a fabricação de um planador. O equipamento, que levou em torno de cinco anos para ficar pronto, foi construído por Germano Sorensen, hoje já falecido, que foi um dos integrantes da equipe e também o primeiro vice-presidente eleito do Aeroclube.
O planador consiste em uma aeronave que não possui motor, que é rebocado por outro avião e quando chega a certa altura, se solta o cabo do reboque e o “sem motor” fica aplanando apenas com o apoio do vento.
Jayme conta que o experimento do grupo passou até por teste de resistência, onde colocaram sacos de areia nas asas da aeronave para provar a sua força.
Depois de pronto, ninguém se habilitou em realizar o primeiro voo no planador, o que levou os amigos a decidirem, por meio do jogo do palito, quem seria o primeiro a embarcar na aventura. No final, quem ficou com o menor palito foi o construtor da aeronave. Germano foi rebocado e após voar por alguns minutos, pousou a aeronave com segurança, fato que encorajou a todos a voarem também.
Diretoria
De acordo com o atual presidente do Aeroclube, Nelsi Bakof, a diretoria tem sua gestão no período de dois anos, posteriormente, outra equipe é eleita a assumir os cargos da associação. Sua gestão iniciou no ano de 2015 e segue até 2017. A diretoria serve para manter o Aeroclube em movimento trazendo atividades diversas que integram a população. O Aeroclube é um patrimônio da associação, e as aeronaves, que se encontram em suas dependências, são particulares, sendo que um avião é da associação. Os pilotos podem usá-lo e custear as horas de voo, tendo inteira responsabilidade sobre quaisquer eventuais danos com a aeronave. Segundo Jayme Locatelli, o poder público contribui com ações como manutenção de pista e terraplanagem. Afinal, é um recurso que também serve de utilidade pública, salienta.
A equipe atual é composta por:
Presidente: Nelci Afonso Bakof;
Vice-presidente: Édio Antônio Salton;
Secretário: Adilson Zeni Junior;
Vice-secretário: Fernando Pessoto;
Tesoureiro: Rômulo Trevisan;
Vice-tesoureiro: Pedro Hermes Locatelli;
Diretor social: Tiago Locatelli Stasiak;
Diretor Segurança de Vôo: Alysson Knapp Bakof;
Diretor de material: Juliano Locatelli;
Diretor de patrimônio: Fabio Olesiak Fabris;
Diretor jurídico: Natanael Rizzi;
Conselho Fiscal: Luis Carlos Copatti, Paulo Dalmolin e Jayme José Locatelli;
Suplentes: Marcos Bruxel e Ivanildo Vian;
Frederico Air Show
Neste ano o Aeroclube realizou a primeira edição do evento aeronáutico mais esperado pelos sócios. O Frederico Air Show, que trouxe uma programação recheada de atrações, entre elas, curso de paraquedismo, exposição de aviões, voos panorâmicos, saltos e apresentações individuais e coletivas de acrobacias aéreas.
O Frederico Air Show veio como forma de exibir o talento de pilotos brasileiros e internacionais que são destaque nas acrobacias aéreas.
Nelci Bakof conta que está feliz com a primeira edição do evento, que foi surpreendente, contando com mais de três mil pessoas, além de reunir em torno de 45 aeronaves para o dia do evento. E ainda comenta que a próxima edição já está sendo preparada.
De acordo com o presidente, o passaporte de entrada era um quilo de alimento não perecível, além de ser um evento que divulgou o Aeroclube e a cultura aéra para toda a região, a associação ainda arrecadou vários quilos de alimentos que foram distribuídos entre as entidades beneficentes do município.
Para Bakof, o objetivo de eventos como esse é, de alguma maneira, convidar a população frederiquense a conhecer de perto a cultura aérea e os seus benefícios para a sociedade, visando integrar Aeroclube e município, e ainda salienta, que tudo isso faz com que o Aeroclube passe a ser visto de uma forma diferente, não apenas como um clube de voo, mas como um clube de pessoas preocupadas com o bem-estar de todos que fazem parte do município.
Onde Pousa Um Avião Decola Uma Região
Para os sócios do Aeroclube, em geral, um município que possui aviação, é um município desenvolvido, visto que esse fator garante uma ampliação na economia das cidades do interior e o acesso de sua população a bens e serviços que os moradores dos grandes centros e capitais usufruem. O sistema de aviação proporciona muito retorno para o município em geral, pois, “onde pousa um avião, decola uma região”, diz Bakof.
Segundo o presidente, muitos pilotos que se formaram pelo Aeroclube de Frederico Westphalen, hoje têm a aviação como profissão em empresas aéreas renomadas.
Alysson Bakof é piloto há mais de dez anos, e conta que iniciou o curso de pilotagem pelo Aeroclube de Novo Hamburgo, posteriormente continuando o curso como piloto comercial em São José dos Campos, em São Paulo. Ele reside atualmente em Frederico Westphalen e faz parte da diretoria do Aeroclube, atuando como diretor de segurança de voo. Alysson adquiriu ampla experiência em São José por conta do maior trafego aéreo da grande São Paulo, fato que lhe proporcionou a realização de várias viagens de longa distância e, a partir daí, a aviação tem sido seu meio de trabalho.
Visão de futuro
O presidente do Aeroclube ainda fala das metas que desejam alcançar, dentre elas, cita a necessidade de asfaltar e alongar a pista. E os objetivos não param por ai, os sócios ainda querem colocar em prática um novo projeto, que há algum tempo vem sendo estudado, para uma linha de taxi aéreo de acordo com as normas da ANAC (Agencia Nacional de Aviação Civil) na cidade. O projeto, que de acordo com o presidente, já é quase uma realidade, proporcionará voos de emergência para qualquer necessidade de locomoção rápida, como por exemplo, área comercial e área da saúde, podendo até salvar vidas.
Outra questão que está sendo discutida entre a diretoria é fazer com que a escola de pilotagem, que formou tantos pilotos, retorne o funcionamento. O presidente fala também dos planos de implantar uma oficina mecânica dentro do Aeroclube para fazer a manutenção das aeronaves de Frederico Westphalen e região. Um projeto que não está longe e que trará mais empregos para o município, salienta Bakof.
Tamara Melo – Agência Da Hora
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