João Carlos Castanha
João Carlos Castanha começou a carreira como ator no final de 1978 no tradicional grupo de teatro da capital Oi Nóiz Aqui Traveiz. O artista é conhecido principalmente por suas performances em boates voltadas ao público LGBT de Porto Alegre e por espetáculos como “Adolescer” e “O Bordel das Irmãs Metralha”. Castanha recebeu o prêmio de melhor ator pelo filme “Castanha” no 14º Festival Internacional de Cine Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha. O filme também participou em fevereiro de 2014 do 64ª Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), um dos mais importantes festivais de cinema do mundo. A obra mistura realidade e ficção para narrar as histórias do ator e performer porto-alegrense. O filme já foi exibido no Japão, Argentina, Alemanha, Escócia e Estados Unidos.
Peça de “Teatro Até o Fim”
O ator interpreta um doente terminal, internado em um hospital. No inicio “os dois tem uma relação muito boa,
como gato e rato, mas aos poucos vão criando uma afinidade, um amor entre os dois”, fala Castanha. No hospital, ele é atendido por uma enfermeira que é seu único elo com o mundo exterior, ela é que convive com ele, pois ele não tem amigos e ninguém vai visitá-lo. Conforme o tempo passa os dois compartilham suas histórias, ele, apreciador da vida e ela, dedicada a sua vida profissional começa a ser influenciada pela personalidade do enfermo. A peça “é uma comédia dramática, e as pessoas se emocionam e se divertem muito”.
Entrevista
Monique: Quais características um bom ator deve possuir?
Castanha: A simplicidade. A simplicidade e não ter aquela coisa de estrelismo. Fizeram um documentário comigo, Castanha, o filme, que foi lançado em Berlim, e fui para o festival, e as pessoas comentaram, vai voltar famoso, mas imagina, não mudei em 35 anos, não vai ser em um ano que vou mudar. As pessoas disseram vai voltar rico e eu digo querido, tenho que pegar o ônibus igual você (risos).
Monique: O que é necessário para o ator conseguir seu espaço no mercado artístico?
Castanha: Tem que ter decisão. Não pode ficar se lamentando. Eu, se não tenho trabalho, eu corro atrás, eu trabalho em casa noturna, faço shows, faço teatro, trabalho até tarde. Se não tem trabalho eu invento, não paro nunca. Se você tem um sonho tem que correr atrás com dignidade.
Monique: De que forma o teatro influencia sua vida?
Castanha: O teatro na minha vida é tudo, 24 horas por dia, mesmo que eu não esteja me apresentando. Tudo é teatro. O brasil é um teatro.
Monique: Um ator ou atriz que você admira.
Castanha: Uma atriz é a Fernanda Monte Negro. Fernanda Montenegro é tipo Meryl Streep, pode ser o pior filme do mundo, mas eu assisto por causa dela.
Monique: Existe algum fato ou algo que tenha determinado a sua opção pelo teatro? Em que momento da sua vida isso aconteceu?
Castanha: Foi por acaso. Eu era muito tímido. De manhã eu trabalho num escritório de contabilidade, e de tarde trabalhava como office boy, ia no banco, pagava contas, daí um pessoas sem experiência e eu fui lá. Cheguei e tinha bastante gurizada menor de idade, entrou aproximadamente 20 pessoas no grupo, eu fui o único que continuei e foi passando o tempo, e o teatro já estava ocupando quase todo meu tempo, parei de estudar e trabalhar. O dia precisava ter 40 horas (risos).
Monique: No teatro o que você gosta mais?
Castanha: O drama, mas tem que ser bem feito. Igual cinema. Gosto do dramático, filmes antigos dos anos 40, 50.
Monique: Qual o princípio básico de um ator? O que ele deve desejar em primeiro lugar?
Castanha: O trabalho. Acho que você deve estar sempre trabalhando, correndo e não parar nunca. E ter saúde pra não precisar parar.
Monique: O que este trabalho te ensinou sobre as pessoas?
Castanha: O trabalho em grupo, isso é muito bom. Você não pode ser uma pessoa individualista no teatro, você sempre depende de alguém.
Monique: Um recado seu para quem está começando na carreira artística.
Castanha: Não desista e faça seu trabalho com seriedade, mesmo que você esteja brincando na peça, seja sério e nunca perca sua humildade.
Monique Civardi/ Da Hora
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