Em 1937, o lendário artista Pablo Picasso pintou uma das obras que viria a marcar sua carreira. Era o quadro Guernica. Um leigo, ao se deparar com este trabalho, não percebe nada além de figuras sem nexo, imagens nonsenses e sem qualquer ligação aparente, pois bem. Para provar que a arte não se resume a cores e desenhos, analisemos esse histórico trabalho que viria a consagrar sua carreira como pintor.
Em 28 de abril de 1973, Picasso recebe informações sobre o novo episódio da sangrenta Guerra Civil Espanhola: um bombardeio à cidade de Guernica que viria a implicar na morte de mais de 1500 pessoas. Revolto e furioso, Piocasso usa seus pincéis como verdadeiras armas de guerra e pinta “Guernica”, retratando a dor, o sofrimento e a mutilação de todos aqueles seres inocentes, vítimas da crueldade fascista do General Franco – aliado de Hitler – e suas tropas. A obra, caótica em sua essência, teria instigado até mesmo o embaixador de Hitler, que perguntara a Picasso:
– A obra é sua?
– Não. É sua. Respondera Picasso., com revolta e inconformismo diante da bruta.idade de tais ditadores, deixando claro que aquela pintura tratava-se apenas da representação artística de uma realidade desumana por eles provocada.
Ao entender a arte, ela toma vida, ela fala aos olhos e se exprime com sentimento e razão. Essa concepção daquilo que é artístico fez com que obras-primas tão ricas e o,´prtantes não ficassem como objetos do passado. A arte foi se renovando, passando por fases diversas e chando, enfim, à arte contemporânea que conhecemos hoje, em instalações que misturam o minucioso trabalho das mãos artísticas a tecnologia que cada dia mais invade nossa sala de estar.
Música, cinema, fotografia, literatura. Tudo isso está muito exposto, muito em evidência e de muito fácil acesso. Mas falemos de nossa realidade. Você, que reside em uma cidade interiorana do Rio Grande do Sul, com que freqüência ouve um CD recém lançado e com que freqüência admira uma exposição de arte? Certamente o CD ganha disparado, porém, teria ele mais relevância e interesse cultural do que uma obra minuciosamente produzida por um artista plástico?
A arte faz bem a alma. Aqueles que possuem algum ínfimo conhecimento em artes plásticas sabem que não se trata de mera estética. Existe muita filosofia, muita análise e muito sentimento em obras tão detalhada e cuidadosamente produzidas. O Rio Grande do Sul, especialmente em suas regiões interioranas, possui um déficit muito grande no que se trata de investimentos culturais para com esse segmento da arte. Faltam profissionais? De forma alguma. Há tantas pessoas dispostas a viver das artes plásticas quando da literatura ou da música, a diferença é que esse espaço não é encontrado e tais
profissionais se vêem tendo que manter outra carreira profissional enquanto produzem suas obras por hobbie, tendo que deixá-las empoeirando em um quarto escuro.
A capital porto-alegrense possui muitas exposições durante o ano. Santa Maria, a cidade universitária, idem — até porque a iniciativa parte muitas vezes dos próprios acadêmicos da área. Mas e o interior? Porque as artes plásticas são tão ignoradas aqui, a ponto de muitos acharem que esse é um tipo de arte destinada apenas a pessoas com alto poder aquisitivo que querem enfeitar suas casas com grandes nomes da pintura artística?
O incentivo que falta em nossas cidades vai muito além do custeio financeiro para a produção e exposições de arte, trata-se antes de tudo de uma questão social. Se temos o objetivo de crescer através da educação, temos que analisar urgentemente a educação cultural de nossa sociedade, despertando a mente dos indivíduos a pensar de forma não superficial, de enxergar além do óbvio, de parar em frente à uma obra de arte e não só admirar suas cores e formas, mas ver com sensibilidade, além do estético. Toda forma de arte vale a pena, a tecnologia não tirou o dom de ninguém. Então, administrações públicas: Despertem! E artesão ou artista plástico: reivindique o seu espaço, você não está na década errada para usar seu talento. Afinal, assim como afirma uma das mais aceitas teorias sobre o que é arte, toda ela, de todas as épocas, tem um denominador comum — a forma significante. Para o artista não existe cosmo, em todas as suas formas, a arte é eterna, basta que a façam florescer.
Conheça o que significa cada elemento principal da mais emblemática obra de Picasso:
Ao centro inferior, observa-se um braço cortado, agarrando uma espada quebrada – a resistência heróica. Junto a espada, uma flor – a esperança em meio ao terror. Observe o espanto dos rostos no quadro, o temor, a tristeza. A mãe que segura o filho em desespero, o cavalo em expressão de sacrifício. Não se pode deixar de citar o candeeiro elétrico aceso, em forma de sol – o “olho de Deus”, tudo vê.
Tainan Tomazetti / Da Hora
Deixe um comentário