Trabalhar com futebol na capital não é um “mar de rosas”

Diego Macagnam, 30 anos, é jornalista esportivo - Arquivo pessoal
Diego à beira do campo de futebol, com arquibancada ao fundo, utilizando seus equipamentos de trabalho: câmera fotográfica a tira colo e caderno de anotações e microfone na mão direita.

Diego Macagnam, 30 anos, é jornalista esportivo – Foto: Arquivo pessoal

O futebol move o coração dos brasileiros, não é a toa o slogan “Brasil, o país do futebol”. Difícil o menino que um dia não sonhou em ser jogador de futebol, em se aproximar do ídolo ou então ir ao estádio torcer pelo time de coração. Para os apaixonados por este esporte, o futebol não se resume somente em um jogo com 90 minutos de duração, é muito mais do que isso: envolve alma, nervosismo, sorrisos e lágrimas. É um esporte que cativa a todos, não tem gênero, cor, raça ou classe social, seja entre torcedores, jogadores, dirigentes ou demais profissionais que estão inseridos nele.

Se dentro das quatro linhas o futebol é imprevisível, fora delas as coisas também acontecem muito rápido. Embora muito popular e apreciado por todas as classes e culturas, a desigualdade acompanha o futebol, não importa a função, a diferença de valores, estrutura e privilégios é notório, especialmente no Brasil, um país enorme em população onde “muitos têm pouco e poucos têm muito”. São vários os envolvidos na classe futebolística, e a imprensa surge como o espaço de aproximação do torcedor com o clube e até nela as diferenças existem, e enganam.

Enquanto os acadêmicos do curso de Jornalismo da UFSM/FW, com foco voltado ao esporte, apontaram como meta fazer jornalismo esportivo nos grandes centros e em veículos de maior visibilidade, um porto-alegrense de sotaque carregado e jeito tímido resolveu fazer o caminho inverso: trocar a intensidade da capital gaúcha pela calmaria do futebol do interior, mais precisamente de Frederico Westphalen. No pátio de sua residência, em Taquaroçu do Sul, Diego Macagnam não esconde a satisfação em ter colocado uma mochila nas costas há aproximadamente dois anos para abraçar um projeto audacioso e visto como loucura por seus amigos e familiares, mas que ele garante: valeu a pena.

– Recebi uma ligação de Samuel Silva (conhecido narrador futebolístico na região), que já conhecia de vista por ter cruzado com ele em alguns estádios da região metropolitana, para trabalhar na equipe esportiva de uma Rádio de Vista Alegre. Na hora balancei, vim de ônibus pra Frederico, fui apresentado ao projeto da emissora e no mesmo dia retornei à capital, para me despedir de amigos e familiares. Foi tudo muito rápido – contou, olhando para a silenciosa rua em frente a sua casa, entre longas pausas que fogem da sua principal característica como repórter: informação precisa e passada com objetividade.

Antes de se aventurar no Alto Médio Uruguai, Diego iniciou o curso de Publicidade e Propaganda na UFRGS, mas de imediato percebeu que não era tão criativo para ser publicitário e, por ali, diminuiria seu espaço no mundo do rádio, sua grande ambição e combustível para se transferir ao curso de Jornalismo. Não se formou, faltou pouco menos de um semestre, mas seus trabalhos profissionais durante esse período foram inúmeros – com destaque para produtor de um programa na TV Pampa, setorista da Rádiovia Free Way e repórter futebolístico em várias emissoras.

Repórter Diego no campo de futebol entrevista o jogador D'Alessandro, que está arrodeado de microfones segurados por outros jornalistas.

Diego entrevistando o jogador D’Alessandro  – Foto: Arquivo pessoal

Enquanto aguarda ansioso pelo retorno das atividades do União Frederiquense, Diego contou que na capital esses períodos de inatividade não existem, pois o calendário sempre é cheio, o que acaba aumentando a concorrência entre os colegas de profissão, e, por vezes, se tornando numa disputa interna desleal. Questionado sobre as diferenças entre trabalhar na capital e no interior, o repórter esportivo respondeu de bate pronto: “a visibilidade”.

– Visibilidade é a principal diferença, mas também é algo semelhante. Lá (Porto Alegre) muita gente te ouve e a dupla Grenal é uma vitrine, porém tu é apenas mais um. Não é um mar de rosas, tem gente nos ouvindo, mas não sabem quem tu é. Aqui o número de ouvintes é menor num total, mas não em termos de estatística, sem contar que se fizer um trabalho bem feito tu conquista uma visibilidade individual, coloca em prática seu estilo e é bem mais valorizado como pessoa e financeiramente – revelou.

Entre suas características como repórter, Diego se destaca por sempre estar muito informado e encher seus entrevistados de perguntas, muitas vezes inesperadas, porém, desta vez, se viu encurralado com minha insistência no tema da valorização financeira.

– Poxa, é claro que aqui pagam melhor, parece loucura, mas até em termos de estrutura algumas de nossas rádios (do interior) estão mais preparadas – desabafou, com voz firme e semblante fechando, citando as rádios GreNal e Band como exemplos negativos no que tange à emissoras grandes e com estrutura limitada.

Ao ser questionado sobre a desigualdade no futebol, o repórter de 30 anos novamente nos apontou um cenário vantajoso no futebol do interior em comparação a valorização ao profissional da imprensa na capital.

– É igual aos jogadores de futebol, mas com lugares invertidos. Na dupla todos os jogadores ganham bem em comparativo aos atletas que atuam no futebol do interior, onde a um desequilíbrio enorme, assim é no rádio. Aqui na região ninguém ganha absurdamente mais do que o colega de profissão, enquanto lá a cada 50 profissionais 1 tem um salário altíssimo – revelou ele, um dos primeiros a trabalhar na Rádio Gre-Nal, emissora fundada em 2011 e que fala 24 horas por dia exclusivamente de futebol, tendo como principal narrador o renomado locutor Haroldo de Souza (que deixara a Rádio Guaíba).

Contratado no início de 2015 para trabalhar na região de Frederico Westphalen, Diego Macagnam acompanhou o União Frederiquense durante a disputa do Campeonato Gaúcho 2015, Supercopa Gaúcha 2015 e Divisão de Acesso 2016, além de acompanhar e transmitir os principais campeonatos varzeanos da região, incorporando uma nova linhagem de trabalhar jornalismo esportivo no rádio regional. Há quatro meses sem trabalhar efetivamente com futebol, apesar de estar dedicando seu tempo livre a um blog pessoal, o jornalista revela que realiza trabalhos “free-lances”, até o União Frederiquense retomar as atividades.

Depois de tantas revelações durante o passar da tarde, levantei e me despedi. Diego me deu um longo abraço, apontou para a rua e iniciou a última “resenha”.

– Por enquanto, estou nessa calmaria – disse.

– É o que dá trocar a capital pelo interior – provoquei.

Sorrindo, ele respondeu:

– Todo mundo diz que sou louco, mas faria tudo de novo!

Ed Andreick Moreira Wisniewski 
Redação Jornalística II

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