Intolerância e Preconceito: relação e diferenças

Diferentemente do que grande parcela da população imagina, as palavras intolerância e preconceito não possuem significados semelhantes e nem sempre estão relacionadas uma com a outra. Enquanto preconceito é caracterizado como qualquer opinião ou sentimento concebido sem uma análise crítica, a intolerância é a recusa de determinado pensamento, ação ou da convivência com determinados grupos sociais.

Assim como é possível perceber na reflexão de Mário Sérgio Cortella, em sua participação no programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes de Televisão, o avanço tecnológico, principalmente através da criação, desenvolvimento e rápida propagação da internet, foi responsável por uma maior exposição da intolerância de diversos gêneros. A tecnologia influenciou também em seus índices, porém em níveis menos significativos, ou seja, a rede colaborou com esse processo principalmente através da oferta de possibilidade e incentivo às diferentes manifestações de intolerância. Desse modo, o mundo virtual se tornou um espaço para divulgação de ideias de egoísmo, dificuldade de aceitação e até repúdio ao próximo.

A diferença entre o significado das expressões intolerância e preconceito pode ser facilmente entendida estudando a origem dessas palavras, pois a tolerância, que obviamente é o oposto de intolerância, é um termo que surgiu para a designação de um sentimento de superioridade, em que um indivíduo considera as diversidades como possuidoras de um nível de dignidade menor do que o grupo social fechado em que ele está inserido.

Dessa maneira, a tolerância é uma expressão que sugere a convivência pacífica e harmoniosa com pessoas diferentes em seus modos de ser, pensar e agir, porém não implica na consideração de igualdade social, intelectual, cultural e de dignidade humana com esses indivíduos, estando carregada, portanto, mesmo que implicitamente, de preconceito.

A etimologia do vocábulo tolerância, de origem latina, caracteriza-o como sofrimento silencioso, contribuindo com a confusão de sentido entre esse termo e a palavra submissão, como destaca o historiador Leandro Karnal, em vídeo particular divulgado pelo site You Tube. Para organizar melhor e facilitar a distinção das duas definições, foi criado o conceito de tolerância passiva, a qual é marcada pela dificuldade de aceitação de algo ou alguém, contudo pela tentativa de convívio equilibrado com o indivíduo ou com a circunstância, e o de tolerância ativa, que pressupõe a compreensão das divergências e um sentimento de satisfação e felicidade em conviver com elas, sejam aquelas relacionadas diretamente com a personalidade das pessoas ou as relativas à ocasiões e atitudes geradas por essa diversidade.

A intolerância nem sempre é negativa, pois existem casos em que ela está presente revelando a indignação da população frente as desigualdades, o sofrimento, a opressão, a miséria, a violência, entre outras situações e atitudes em que é necessária uma postura de revolta e inadmissão.

Em vista disso, é possível perceber que a tolerância nem sempre é saudável, pois pode significar a submissão frente um cenário de injustiças, sendo a intolerância, nesses casos, coerente e necessária. Porém, quando a intolerância estiver aliada a um sentimento preconceituoso, a mesma será sempre negativa, pois como preconceito é formado através de uma análise não crítica, tal intolerância não tem embasamento para ser pensada e/ou exercida.

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vgieselhollas
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

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