You Never Walk Alone é um álbum memorável para a indústria da música popular coreana

Crédito: Big Hit Entertainment

Em fevereiro desse ano, o grupo de pop coreano BTS (sigla para Bangtan Sonyeondan, Escoteiros à Prova de Balas em coreano) fez o seu comeback com o álbum You Never Walk Alone, uma repackage do seu álbum anterior, WINGS, contando com as faixas deste na íntegra e quatro novas músicas.
O álbum é o quarto da história do grupo, que também tem em sua discografia cinco miniálbuns e também lançamentos japoneses. Todas as 18 faixas do You Never Walk Alone contam com a composição dos membros do grupo, ato inovador na indústria musical coreana, uma vez que tradicionalmente os artistas tendem a interpretar músicas compostas e produzidas por outras pessoas. Outra mudança que BTS propõe no álbum é a adição de faixas solo para cada membro do grupo.
You Never Walk Alone é uma oportunidade dos membros para experimentarem diferentes estilos musicais: é possível encontrar músicas de gêneros como o rap, com Cypher pt. 4, até o EDM de Blood, Sweat & Tears, arriscando até mesmo faixas de jazz como MAMA e de blues, como Stigma. A divulgação da obra contou com um álbum de fotografias de conceito, curtas-metragens para cada música solo, assim como quatro vídeos musicais para as faixas Intro: Boy Meets Evil, Blood, Sweat and Tears, Spring Day e Not Today.
Se o WINGS já havia sido um sucesso comercial, a versão repackaged dele contou com quebra de recordes de venda e de posições em paradas musicais. Alcançando a primeira posição na lista de Álbuns Mundiais da Billboard e vendendo mais de 700 mil cópias físicas somente na pré venda do álbum, o êxito da obra no mercado levou o grupo a promover uma turnê mundial, denominada THE WINGS TOUR, que ganhou uma produção audiovisual como forma de divulgação e passou por países como Brasil, Estados Unidos e Japão em um total de 32 shows.

FAIXA POR FAIXA
A primeira música do álbum, Intro: Boy Meets Evil, como o próprio nome diz, é uma introdução para as faixas seguintes. Contando com um vídeo musical pra faixa, divulgado antes do lançamento do álbum completo, Boy Meets Evil é um rap feito por J-Hope, rapper líder e dançarino principal do grupo, que une esses dois talentos no vídeo da música. O tom obscuro da música prepara o ouvinte do álbum para os temas que serão abordados futuramente em outras faixas.
Já a música principal do primeiro lançamento do álbum, Blood, Sweat and Tears, tem influências de Reggaeton, que é um estilo musical não explorado antes pelo grupo, mas bem executado na faixa, e EDM. O vídeo da música, assim como outros do grupo, pode ser considerado uma superprodução, contando com uma fotografia colorida e até mesmo um pequeno interlúdio. A temática do vídeo retoma uma história baseada no livro “Demian”, de Hermann Hesse, que o grupo explora em músicas anteriores por meio da união de música, dança e artes teatrais.
Logo após, o álbum começa a apresentar, uma por uma, as faixas solo dos integrantes do grupo. A primeira é Begin, de Jungkook – vocalista principal, dançarino de apoio, rapper de apoio e membro mais novo do grupo –, que é um R&B com influências de Trap e EDM. Na música, Jungkook canta sobre como a amizade de seus companheiros de grupo é importante, uma vez que ele começou muito jovem na indústria musical, e eles o ajudaram a superar muitas inseguranças.
Em seguida encontra-se a música Lie, de Jimin – vocalista e dançarino líder do BTS –, uma produção quase teatral e pouco explorada anteriormente no grupo. A quinta música do álbum é uma composição de V, vocalista do grupo, denominada Stigma aborda temas como segredos que o cantor mantém e seu medo de que suas ações prejudiquem aqueles à sua volta. High notes são usadas como uma representação da frustração de V ao perceber que seus atos errados devem ser punidos. A faixa tem influências de R&B e Blues, e com certeza é um dos pontos altos do álbum.
First Love é a sexta música do álbum e é a faixa solo de Suga, rapper líder do BTS, que já havia lançado uma mixtape anteriormente sob o pseudônimo Agust D. First Love foi uma surpresa para muitos fãs, que esperavam uma música com tons mais fortes de Hip Hop, mas apesar do rap estar presente na faixa, o instrumental desta foca no uso do piano. Outra surpresa foi a letra da música, que a princípio parece falar sobre uma pessoa pela qual Suga se apaixonou pela primeira vez, mas após prestar atenção, fica claro que a composição na verdade é sobre sua paixão pela música e sua história com o primeiro piano que tocou.
A faixa seguinte, Reflection, foi outra surpresa para quem já acompanhava o grupo. A música individual de Rap Monster, líder e rapper principal do grupo, foge um pouco do que o rapper já havia explorado na mixtape de 2015 denominada “RM”. A letra da música, entretanto, retoma algumas das mensagens que o grupo já havia passado em músicas anteriores. Falando sobre como a individualidade de todos deve ser aceita, Rap Monster comenta como muitas vezes nos odiamos por nossas fraquezas inseguranças, e demonstra o desejo de amar a si mesmo.
MAMA é, sem dúvidas, a mais animada de todas as músicas individuais. J-Hope, que já havia produzido a introdução do álbum, volta desta vez com uma faixa Hip-Hop com claras influências de Jazz. A letra da música aborda as dificuldades que J-Hope teve crescendo e decidindo seguir seu sonho como artista. Ele então agradece ao apoio de sua mãe e fala que espera ter orgulhado ela com o que alcançou. A seguir, pode-se ouvir a última faixa solo do álbum, Awake, do vocalista e visual do grupo, Jin. A música começa com uma tonalidade calma que se desenvolve até um último refrão cheio de emoção. A letra da faixa conta com frases como “talvez eu nunca possa voar” e aborda o medo de não ser capaz de alcançar seus sonhos, mas também a vontade de continuar tentando.
Em sequência, Lost é a música apenas da vocal line do grupo – Jungkook, Jimin, V e Jin –, deixando os rappers de fora. Retomando o que fizeram na faixa anterior do álbum “Young Forever”, House of Cards, Lost dá visibilidade para os vocalistas do grupo harmonizarem e mostrarem seus valores. A música retrata como pode ser difícil amadurecer e encontrar seu próprio caminho.
Cypher pt. 4 faz parte do conjunto de hinos do grupo conhecido como cyphers, em que os três rappers do grupo – Rap Monster, Suga e J-Hope –, aproveitam para falar sobre o que os incomoda. Se Cypher pt. 1 falava sobre como era ser julgado por ser um rapper em um boygroup, Cypher pt. 2: Triptych mostrava maior confiança a respeito do assunto, e Cypher pt. 3: Killer trazia a resposta dos rappers para pessoas que os criticam a difamam, Cypher pt. 4 é a vez do trio mostrar a outra face, mostrando que dessa vez eles se encontram indiferentes a quem os vê de forma ruim. As habilidades dos três como flow e liricismo são facilmente identificadas nessa faixa, e a evolução desde o primeiro cypher é notável.
Am I Wrong e 21st Century Girls são músicas que não poderiam faltar em uma produção do BTS. Ambas as faixas têm como tema problemas sociais, algo que o grupo tenta abordar desde seu primeiro álbum – e que foi o que motivou o nome do BTS, que significa que eles vão defender seus ideais e suas posições sociais de forma impenetrável. Am I Wrong pode ser considerada uma faixa fraca em questão de instrumental, que é confuso e reproduz o que o grupo já havia oferecido na faixa Baepsae do álbum Young Forever, mas a letra da música atenta a problemas como a cegueira intencional que o ser humano tem para problemas que acontecem na sociedade em que está inserido. 21st Century Girls segue a linha da música anterior, porém dessa vez aborda a importância da independência feminina.
Em seguida encontra-se uma das músicas do álbum mais amadas pelas fãs, uma vez que a produção foi dedicada para as mesmas. Two! Three! (Hoping For More Good Days) é uma declaração dos integrantes do grupo como agradecimento às fãs por os apoiarem, e uma confirmação de que a relação de confiança entre a banda e seu fandom é mútua. É por isso que frases como “Obrigado por acreditarem em mim” e “Obrigado por se tornarem minha luz” podem ser encontradas na faixa.
A música a seguir é a primeira da repackage do álbum. Spring Day é uma música calma e levemente apagada ao ser comparada com outros singles do grupo. O vídeo da música é o que faz com que ela brilhe, mas a música não deixa de ser uma bela produção. Elementos como sobreposição de vocais tornam-na uma faixa especial e digna de atenção. Outro ponto forte da música é sua coreografia, que possui alusões ao nascer do Sol e a uma viagem de trem, que são pontos utilizados com frequência tanto na letra da música quanto no vídeo.
Se Spring Day trazia um tom calmo para o grupo, Not Today chega com ferocidade retomando o tom de músicas anteriores como os singles Fire e Dope. O instrumental pesado da faixa combina perfeitamente com a temática da música que começa com a frase “Todos os oprimidos do mundo, um dia chegará em que perderemos, mas esse dia não é hoje” e lida com a busca pela sobrevivência em meio a preconceitos e violência, usando termos como Teto de Vidro, do movimento feminista, na frase “quebre o teto de vidro que te aprisiona”. O grupo comentou em uma entrevista posterior ao lançamento do álbum que houve uma pesquisa dos membros acerca dos preconceitos e movimentos abordados na música, para que a representação fosse adequada.
A penúltima música do álbum, Outro: Wings, é uma versão estendida da música que finalizava o WINGS e pode ser facilmente considerada uma das músicas mais fracas do álbum. Apesar da letra combinar com o conceito do grupo de desenvolvimento, independência e crescimento, o instrumental parece estar perdido em meio a outras faixas tão bem produzidas.
Finalizando a produção, A Supplementary Story: You Never Walk Alone repassa a ideia de Two! Three! de que o ouvinte não está sozinho, e passa às fãs a mensagem de que elas sempre podem contar com o BTS. O instrumental da música utiliza instrumentos tradicionais chineses que dão uma tonalidade inovadora à que o grupo costuma abordar.

GLOSSÁRIO
SINGLE: música principal de um álbum, utilizada na divulgação do mesmo.
REPACKAGE: relançamento de um álbum com adição de uma ou mais músicas.
COMEBACK: novo lançamento de um grupo de Kpop dentro de um intervalo de tempo.
FANDOM: base de fãs de um artista.

Álbum: You Never Walk Alone
Artista: BTS (방탄소년단)
Lançamento: 13 de Fevereiro de 2017
Formato: CD físico e download digital
Produtora: Big Hit Entertainment

Isabela Vanzin da Rocha

isabelavanzinrocha@gmail.com

Redação Jornalística I

About the Author

Isabela Vanzin da Rocha
Estudante do curso Bacharelado em Jornalismo, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

3 Comments on "You Never Walk Alone é um álbum memorável para a indústria da música popular coreana"

  1. Eu sou A.R.M.Y. ( fa de BTS ) e adorei a resenha 🙂 Obrigada, Isabela, por não os ofender em momento algum !

  2. Muito bom! aborda as músicas e as ideias que os garotos tentam passar por trás delas muito bem, e instiga o leitor a procurar mais sobre eles e suas letras. Parabéns!

  3. Muito bom Isabela! Bem claro e organizado, além de escrever muito bem! Parabéns, ótima resenha!

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