Vai cancelar mais o que hoje?

Em meados de 2013, surge na realidade do brasileiro, um novo tipo de serviço de streaming. Através de House of Cards (uma das primeiras séries da empresa a fazer sucesso) a Netflix desponta com um serviço inovador e de preço acessível. A promessa da empresa era uma plataforma de filmes e séries que oferecesse variedade, e que pudesse agradar o gosto de qualquer publico assinante, assim foi até o começo de 2017.

Entre abril e junho deste ano tivemos o cancelamento de séries com o selo original da empresa, como: The Get Down, Marco Polo, e uma das mais recentes representantes da Netflix, a série Girlboss. Todas as produções foram canceladas em menos de seis meses sem nenhum motivo aparente, com histórias por desenvolver e fãs chocados com as notícias que seguem surgindo nas timelines das redes sociais diariamente. A ultima atualização foi o cancelamento da parceria com a Fox, séries como How I met you mother, Glee e Bones, começam a sair do catálogo no próximo mês. Tornou-se complicado começar alguma série presente na plataforma por simplesmente não sabermos se a empresa terá a responsabilidade de continuar a distribuir o mesmo conteúdo por muito tempo. Ted Sarandus, produtor executivo da Netflix, afirma que a sessão de cancelamentos esta “apenas começando”.

Mas a pergunta que surge é: qual o verdadeiro motivo de uma mudança tão drástica, quando o objetivo inicial da empresa era exatamente manter um catálogo variado, que atraísse um maior número de pessoas? A resposta apesar de simples e óbvia, dói no público que acreditou na promessa de um canal de steaming totalmente diferente dos canais de televisão, que comercializam o que rende mais lucro. As diferenças entre roteiros comprados, custo de produção e conteúdo produzido, quando comparados ao lucro gerado foi preocupante. Causados em sua maioria pela má administração da empresa, e por não cogitar se o método de distribuição em “grandes doses” era realmente efetivo. Ter simplesmente assinado cheques e ir comprando tudo, sem pensar na qualidade de produtos expostos, e sim na quantidade foi o maior erro da Netflix, um exemplo claro são as séries Haters Back off e Thirteen Reasosn Why que apesar de renovadas apresentam uma temática fraca ou simplesmente uma adaptação questionável de um tema impactante.

Os resultados estão se apresentando agora, apesar do aumento crescente de assinantes, a plataforma não tem condição financeira de manter a produção de tanto conteúdo ao mesmo tempo. Sense8 por exemplo, tinha em média um gasto de 1 milhão por episódio, foi cancelada mas voltou a produção graças ao apelo em massa dos telespectadores. O que resultou inclusive em uma carta aberta feita por Lana Wachowski, criadora da série, agradecendo o apoio e informando que Sense8 volta para um ultimo episódio. As duvidas seguem a cerca das outras produções de temática unica na plataforma, que trouxeram a representatividade necessária e mostraram a realidade das minorias para um público que não convive com elas ou insiste em fechar os olhos. Para estas ainda nos resta espera.

Como é possível um canal tentar atrair novos assinantes enquanto segue dando sinais claros da falta de compromisso com o público mais antigo? De que forma a empresa espera continuar com mesmo sucesso, agora que a desconfiança com qualquer nova produção é associada não só a qualidade de conteúdo, mas também por temermos o mesmo destino das ultimas séries? A má administração de conteúdo antes de mais nada precisa ser revista, não basta confiar no tema da série sem fazer sua devida divulgação e esperar a mágica acontecer. Além de é claro, a falta de paciência da direção executiva para o retorno dos investimentos. Noticias de séries que alcançam sucesso imediato são raridade nos dias atuais pela quantidade de produto produzido. Game of Thrones é um exemplo de tremendo sucesso da HBO mas que foi construindo uma legião de fãs através das temporadas e das mudanças que ocorriam para agradar o público. Resta agora, além de procurar outros meios para termos acesso a um conteúdo diferenciado, esperar quais serão as próximas decisões do canal.

Renata Dornelles
rsd121098@hotmail.com

About the Author

Renata Dornelles
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

2 Comments on "Vai cancelar mais o que hoje?"

  1. Muito bom o texto. Mas acho que isso foi calculado pela Netflix. A ideia, acredito eu, era justamente testar o que funcionava. Depois desses cancelamentos acho que eles vão focar no que sabem que dará certo.

    • Concordo que a partir de agora a Netflix entra em um outro patamar de streaming. Mas o mal planejamento é óbvio, não faria sentido investir um absurdo de dinheiro em sense8 por exemplo, sem antes verificar como os assinantes reagiriam à série

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