O mundo está um caos, talvez, ele seja o caos. Ouvi dizer que uma tal de Clare de um sobrenome estranho e difícil avisou ao jornal inglês que os alemães estariam posicionados, com mais de mil tanques, na fronteira da Polônia e que aconteceria uma nova guerra. Não acreditei, mas também não duvidei, até porque a única preocupação que tinha, aqui no interior, era torcer para que o tempo colaborasse para não estragar minha plantação de melancia. Vocês devem estar se perguntando porque alguém planta melancia, não é mesmo?! Eu respondo. Planto porque gosto de come-las e, admito, porque não dá muito trabalho. Mas esse não é o foco do causo, o foco é que o mundo entraria novamente em conflito. Bom, ainda bem que moro no Brasil!
Nosso presidente, senhor Getúlio, parecia bem indeciso quanto a quem iria apoiar. Ora parecia mais americano que o próprio Tio Sam, ora aparentava apoiar os alemães nazistas. Era uma dúvida tremenda. A população já dizia que era mais fácil uma cobra fumar que o Brasil entrar na guerra. Eu não concordava, achava cobra um bicho tinhoso demais, minha vó me contou que uma cobra fez um casal ser expulso do paraíso, então se ela quisesse fumar, fumaria.
E ela fumou! Fumou muito aquele charuto interminável da guerra. O que chegou aos meus ouvidos é que a nossa amada pátria decidiu entrar na guerra porque afundaram os navios. Tinha meu total apoio, ninguém mexe com nossas embarcações e permanece impune. O Brasil está em guerra contra os países do eixo. Mas nesse momento me veio algo na cabeça. O Brasil entrou em guerra, guerra precisa de soldados, soldados precisam ser recrutados, eu sou reservista, acho que a cobra fumou pra mim também.
Tardou, mas não falhou. Era uma tarde ensolarada, até parecia que o sol está nervoso com os terráqueos por brigarem entre si, a carta de convocação chegou. Eu sorri, mas foi de desespero.
Fui até o porto, já que não tinha outra opção mesmo, a palavra convocação na carta, escrita bem grande em negrito me assustou um pouco, admito. Chegando lá, me deparei com muita gente, muito mais que o meu esperado. Era tanta gente que parecia um congresso dos desesperados. Ouvi mais o nome de Deus naquele dia do que toda minha experiência religiosa, eles estavam certo, quem garante que Deus não seja um grande sniper e não permitirá, se Ele quiser, que fôssemos atingidos. Sorte a nossa que todos os líderes se importam muito, confortavelmente sentados em seus aconchegantes escritórios, com todas as vidas perdidas.
Assim, mesmo com o final da guerra, mesmo com tratados e acordos feitos, mesmo que houver arrependimento e lágrimas, uma coisa não voltará a ser como era antes. Moral da história: se for pra guerra, coloque alguém pra cuidar das suas melancias para não perder toda a plantação.
Samuel Agazzi
samuelagazzi1@gmail.com
Redação Jornalística I
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