A culpa não é do Faustão

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Existem várias razões para gostarmos e esperarmos ansiosamente a chegada da sexta-feira. Estou certo que uma delas é porque a sexta antecede o melhor dia da semana. Eu também tenho a certeza que a Bíblia, e o criacionismo, contam a história da criação do mundo de maneira errada. Deus não fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Ele fez hora extra na semana para poder aproveitar o sábado livre, sem levar trabalho para casa. Ninguém merece passar o sétimo dia da semana construindo rios, animais, corpos celestiais ou modelando bonequinhos de barro. O sábado inspira atividades proveitosas. Para os mais ativos, se fizer Sol, uma corrida matinal é sagrada. Da mesma forma, para os menos agitados, o chimarrão até fica cevado por mais tempo. Em caso de chuva, dorme-se um pouco mais, afinal quase ninguém trabalha no sábado, só médicos e enfermeiros. E jornalistas.

Eu poderia passar horas elogiando o sábado, descrevendo todas as qualidades que o sétimo dia da semana possui, mas não vejo sentido em fazer propaganda para algo que todo mundo goste, e que não possua concorrência digna. Todavia, nem tudo é maravilhoso no universo do final de semana…

O Domingo só é completamente bom até depois do jogo de futebol das 16hs, para quem gosta. Para quem não gosta do esporte, a amargura já começa na metade da tarde. À medida que o tempo passa, um sentimento de angústia misturado com melancolia cresce na alma de cada pessoa, sinalizando que a segunda-feira se aproxima. Mas sabe, a segunda nem é tão ruim quanto o Domingo à noite. Todo mundo sabe a dor que é ver o Faustão começar o programa. Quando ele termina é uma mistura de alívio com pesar. Conforme o tempo passa, e o dia vai dramaticamente se encerrando, tentamos nos convencer que ainda há um restinho de final de semana para aproveitar, queremos adiar a chegada da segunda-feira, mas é inevitável: o encerramento do Fantástico oficializa o início da correria de mais uma semana de trabalho e estudo, é uma batalha contra algo que não podemos lutar. O Domingo, depois do jogo, é o antônimo do sábado, o oposto direto.

Em verdade, como já disse, esperamos e gostamos tanto da sexta, porque ela antecede o sábado, melhor dia da semana. Da mesma fora, o Domingo à noite é melancólico pois antecede a segunda, dia de São Pega. Vivemos diariamente nessa ansiedade que é doentia, projetando tudo, desejando ou temendo o próximo e esquecendo o momentâneo. Sentimos prazer ou lamentamos aquilo que passou ou aquilo que há de vir, e nessas preocupações paranoicas, a vida passa e nem percebemos.

Escrevo este manifesto contra o entardecer de Domingo por dois motivos: primeiro porque acredito que a melancolia prévia à segunda-feira seja um sentimento comum aos proletários e estudantes desse país e, quando compartilhamos nossas amarguras em comum, a tendência é que isso funcione como ajuda mútua. A gente adora reclamar. Reclamar em comunidade então é melhor ainda. Em segundo lugar, penso que esse sentimento todo pode ser convertido, podemos viver um sábado por dia, desde que encaremos cada amanhecer de maneira diferente, exclusiva. Olhe assim para a terça-feira, por exemplo. Se ela fosse uma pessoa, ninguém lembraria quando ela faz aniversário e ela não teria amigos. Passemos a gostar mais da terça, da quinta e do presente.

Por fim, em tempos de seriados de medicina, trago tratamento paliativo para afastar a melancolia dominical: não ver o Faustão ou o Fantástico pode ser alternativa interessante, mas não pense que isso vai acabar com sua angústia definitivamente. Para tanto, repito em tom de memorização para que eu também possa aprender: tentemos, pelo menos, encarar cada dia como sábado.

João Victor Gobbi Cassol
jvgc91@gmail.com
Redação Jornalística I

About the Author

J. Victor Cassol
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria /campus Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

3 Comments on "A culpa não é do Faustão"

  1. Eu adicionaria os/as Professores/as. Trabalham no final de semana. Bela compreensão meu caro João Victor.

  2. Excelente escrita.real com a vida cotidiana. Mostra, penso eu, q as pessoas a maioria delas permanece numa melancolia psicológica e esquese das relações sociais, as potencialidades q cada pessoa possui em prol de si e do outro.

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